Por: Mauro Souza
Pegando carona no caso da China, vemos que a razão da sua exuberância tecnológica em IA, advém da resiliência quanto à consecução do “Plano de Desenvolvimento da IA de Nova Geração” de 2017, e da iniciativa “Made in China 2025”, entabulada em 2015. Estes direcionamentos foram traçados e postos em marcha, com o intuito de tornar aquele país um dos líderes em IA até 2030 e, por decorrência, catapultar a relevância chinesa no comércio internacional (seja por intermédio de incremento de produtividade, ou ganho escalar de qualidade).
Os Emirados Árabes Unidos (EAU), em 2017, lançaram a “Estratégia Nacional de IA 2031”, que se transformou na estrutura mestra daquele país, para integrar a IA a todos os setores da sociedade (até 2031). Neste diapasão, os EAU adentraram à corrida global da IA, entendendo tratar-se de uma janela de oportunidade para diversificar sua economia em um futuro pós-petróleo.
Na Coréia do Sul, a base temporal dos planos para a evolução da IA estende-se de 2019 até 2030. Aquele país estruturou, e lançou, planos ambiciosos e bilionários para se tornar uma das três maiores potências globais em IA, dando prioridade para a captação de investimentos com destino à produção de semicondutores, e à implementação generalizada de IA na indústria e nas cadeias produtivas e de logística.
O Japão, em linha com o encaminhamento de outras nações asiáticas (e diferente da abordagem adotada pela União Europeia), também optou por uma regulamentação da IA mais indutora, menos punitiva e centrada em ações de longo prazo (destinadas a prover ganho de produtividade e expansão da presença no cenário internacional). A primeira estratégia nacional do Japão para a IA foi a “Estratégia de Tecnologia de Inteligência Artificial”, anunciada em março de 2017. Ela foi instruída pelo então Primeiro-Ministro Shinzo Abe, e teve por foco principal P&D e a integração da IA na estrutura industrial do país.
Na Índia, a principal iniciativa frente à IA se intitula “Missão India AI”, e foi lançada em março de 2024 (com base temporal de 5 anos). Os pilares centrais da estratégia daquele país são a expansão da infra, o financiamento de startups, o desenvolvimento e a atração de talentos e a priorização de aplicações de impacto social (com o intuito de mitigar os problemas de saúde, educação e governança do país mais populoso do mundo, que uma vez tratados, impulsionarão a economia local).
As ações engendradas na China, Japão, Coréia do Sul, Singapura, Índia e Emirados Árabes Unidos, dentre outros, possuem em comum a marca do planejamento de longo prazo, com a lupa direcionada para a pesquisa em IA, a inovação, a disciplina da regulamentação, a captação de investimentos privados, a proliferação de startups, a liderança no refino de recursos naturais (em especial as terras raras), a fabricação de semicondutores avançados, a propagação da IA nas cadeias produtivas e de logística, o aporte de recursos em estrutura de data centers e, em lugar de destaque, a qualificação contínua do capital humano.
Todas as estratégias de proeminência em IA, conduzidas pelos países asiáticos assinalados, possuem como meta central o aumento da fatia junto ao comércio internacional. A resiliência destas nações, advinda da consecução de planos e estratégias de longo prazo destinados a promover a prosperidade, corrobora a supremacia asiática quando o assunto é a condução de programas de Estado (em detrimento de desejos imediatistas e epifanias de governos de plantão).
Nos próximos anos, e considerando os planos em marcha, a tendência asiática residirá em consolidar uma visão mais estrutural para a IA, que não será mais vista como uma tecnologia independente (mas sim, uma infraestrutura de alta capacidade de transformação). Ela será a camada invisível, que sustentará a próxima fase da transformação industrial. A IA se consolidará como o maestro da Ásia, assumindo a responsabilidade por redefinir a produtividade e a dianteira no comércio internacional.
Eu reitero a minha percepção de que este viés asiático, de inserção planejada da IA frente aos diversos setores da economia, não produzirá um colapso do Ocidente, mas um equilíbrio (e sob certos aspectos até mesmo uma mudança de polo indutor) da influência dos EUA e da Europa.
O ranking de IA dos 36 países avaliados pela Global AI Vibrancy Tool, de Stanford (relatório 2024/2025) reflete bem a realidade asiática frente ao restante do mundo. Liderado pelos Estados Unidos, o relatório descortina 6 países asiáticos dentre os 10 mais bem posicionados em IA no que tange a custo/eficiência, impacto econômico e social, criação de empregos, produtividade, e progresso técnico. A China encontra-se em segundo lugar, a Índia em quarto, os Emirados Árabes Unidos em quinto, a Coréia do Sul em sétimo, o Japão em nono e Singapura em décimo. Simples assim…
O continente asiático caminha a passos largos rumo à dianteira do comércio internacional. As nações aqui referenciadas apostam em estratégias de longo prazo para a IA seguindo a filosofia central de Sun Tzu (“A Arte da Guerra”): A importância do planejamento (estratégia) é fundamental, pois a vitória é determinada muito antes de qualquer batalha começar”.