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Opinião

Fé católica se expande, conquista jovens conectados e vocações digitais

O relatório indica que o crescimento da população católica ocorreu em todos os continentes, revertendo inclusive a queda registrada na Europa

Redação Jornal de Brasília

19/10/2025 18h48

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Foto: SCOTT OLSON / AFP

Por Simone Salles

A Igreja Católica ultrapassou a marca de 1,4 bilhão de fiéis em todo o mundo, segundo o mais recente relatório da Agência Fides, do Vaticano. O levantamento, apresentado em celebração ao 99º Dia Mundial das Missões, comemorado neste domingo (19), com o tema “Missionários de esperança entre os povos”, mostra que o catolicismo continua a crescer em todos os continentes, especialmente na África e na América. Registra, ainda, uma leve recuperação até mesmo na Europa, onde vinha em declínio. Ao mesmo tempo, novas formas de vivência da fé têm emergido no século digital, conquistando uma geração jovem conectada que anseia por uma espiritualidade com raízes doutrinárias mais firmes.

Todos os dados do dossiê foram extraídos do Annuario Pontificio 2025. A Igreja Católica conta hoje com 1.405.454.000 católicos no mundo, um acréscimo de 15.881.000 fiéis em relação ao ano anterior, o que representa 17,8% da população mundial, um aumento pequeno de +0,1 ponto percentual.

O relatório indica que o crescimento da população católica ocorreu em todos os continentes, revertendo inclusive a queda registrada na Europa em pesquisas anteriores. Em termos absolutos, as maiores subidas aconteceram na África (+8.309.000) e nas Américas (+5.668.000), seguidas pela Ásia (+954.000), Europa (+740.000) e Oceânia (+210.000).

Quanto ao clero e demais vocações, o panorama é misto: o total de bispos aumentou para 5.430 (+77 em relação ao ano anterior). Embora o número total de padres tenha caído para 406.996 (-734), destaca-se que esse declínio se concentra na Europa (-2.486), América (-800) e Oceânia (-44), enquanto África (+1.451) e Ásia (+1.145) registraram aumento. Os diáconos permanentes, por sua vez, continuaram a crescer. São agora 51.433 (+1.234).

O crescimento católico não se limita à estatística demográfica. Em países como o Brasil, a fé tem encontrado terreno fértil nas redes sociais e em plataformas de streaming. O jornal inglês The Guardian destacou recentemente o sucesso das transmissões do Frei Gilson. Suas orações durante a madrugada, on-line, atraem em média dois milhões de visualizações por dia, revelando um fenômeno de renovação espiritual espontâneo, fora das estruturas convencionais.

O sucesso demonstra que a mensagem cristã de esperança e amor ao próximo encontra canais modernos para atingir pessoas que talvez não estivessem engajadas nas práticas tradicionais da Igreja, em busca de um momento pessoal com Deus, de silêncio interior, em meio ao cotidiano agitado.

No âmbito dos produtos devocionais e da música católica, percebe-se também sinais de fortalecimento da espiritualidade por meio de um aumento na procura por terços, livros bíblicos, camisetas, imagens de santos e CDs de músicas religiosas, além da alta adesão a shows e encontros católicos que lotam ginásios e estádios em várias cidades brasileiras. É uma reação positiva ao número de fiéis que buscam viver a fé de modo mais ativo e não apenas litúrgico, em especial entre aqueles que se diziam católicos não praticantes.

No Brasil, o setor gospel continuou a ganhar destaque este ano, com um aumento de 46% no número de ouvintes ao longo de 2024, de acordo com dados do Spotify. Isso sugere que o desejo de expressar a fé por meio da música, da arte e de objetos devocionais está em expansão contínua.

Nos Estados Unidos, onde a maioria da população é protetante, a conversão ao catolicismo vive um impulso semelhante. O National Catholic Register e o Pew Research Center apontam que centenas de milhares de jovens adultos ingressam na Igreja anualmente, e algumas dioceses, como Fort Worth, no Texas, relataram aumentos de até 72% no número de novos convertidos entre 2023 e 2024.

Muitos citam a pandemia, a internet e a busca por estabilidade teológica como fatores decisivos. É o caso dos jovens que passaram por experiências de isolamento ou vulnerabilidade durante o lockdown e que tinham como alternativa o alcance das redes sociais, dos vídeos e das lives como meio de descoberta da fé. Na Universidade Texas A&M, por exemplo, cerca de 400 estudantes foram batizados recentemente na capela do campus, a St. Mary’s Catholic Center. Pesquisas indicam ainda que esses novos católicos tendem a participar mais ativamente da vida comunitária, porque encontram na instituição milenar da Igreja uma resposta sólida ao vazio cultural e espiritual contemporâneo.

Em regiões da África e da América Latina, onde o crescimento da Igreja é mais acentuado, essa prática de fé renovada se traduz frequentemente em projetos sociais: escolas, creches ou grupos de apoio são impulsionados por comunidades católicas locais que traduzem a espiritualidade em ação.

Esses movimentos apontam para uma nova etapa do catolicismo mundial, mais descentralizado, jovem e conectado. Da África à América, o cristianismo católico não apenas se expande em número, mas se reinventa frente aos desafios contemporâneos.

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