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Opinião

FAO: 80 anos de luta pela segurança alimentar global e o fortalecimento da parceria com o Brasil

A FAO foi criada em 1945, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, em um momento em que o mundo buscava se reerguer das consequências devastadoras do conflito

Redação Jornal de Brasília

23/10/2025 14h37

comida segurança alimentar

Foto: Geovana Albuquerque/Agência Brasília

Por Renata Bueno*

Pouca gente sabe, mas a FAO, Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, é uma das instituições mais importantes do planeta. É ela que coordena o combate à fome e promove a segurança alimentar global, atuando em mais de 130 países e apoiando milhões de pessoas diretamente. Em 2025, a FAO celebra 80 anos de uma missão que continua essencial: erradicar a fome, melhorar a nutrição e promover o desenvolvimento agrícola sustentável.

Desde sua criação, a organização trabalha para garantir que cada ser humano tenha acesso a uma alimentação adequada e saudável, por meio da cooperação internacional e da construção de políticas públicas eficazes. 

A FAO foi criada em 1945, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, em um momento em que o mundo buscava se reerguer das consequências devastadoras do conflito. Fundada em Quebec, no Canadá, foi a primeira agência especializada do sistema das Nações Unidas, com uma missão clara e urgente: erradicar a fome, melhorar a nutrição e promover o desenvolvimento agrícola sustentável. A fome, que havia sido usada como arma de guerra e símbolo de desigualdade extrema, passou a ser reconhecida como um desafio humanitário global, e não apenas um problema local. A FAO nasceu, portanto, como uma resposta civilizatória: uma organização voltada à cooperação internacional em nome da vida. 

Desde 1951, a sede da FAO está localizada em Roma, cidade que se consolidou como o centro estratégico da diplomacia alimentar internacional. Além da FAO, também estão localizados na capital italiana o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (IFAD) e o Programa Mundial de Alimentos (WFP). Juntas, essas instituições formam um tripé essencial para o combate à fome, à pobreza rural e às crises alimentares em escala global. Roma tornou-se, assim, um verdadeiro epicentro da cooperação humanitária, reunindo governos, cientistas, ONGs e representantes do setor privado em torno de um propósito comum: assegurar o direito à alimentação digna e sustentável para todos os povos. 

Para marcar seus 80 anos de história, a FAO inaugurou em Roma o Museu da Alimentação e Agricultura, um espaço que celebra as conquistas e os desafios da organização ao longo das décadas. A exposição reúne documentos históricos, fotografias, vídeos e objetos que contam a trajetória da instituição desde sua fundação até as ações atuais em mais de 130 países. O museu convida o público a refletir sobre como a alimentação molda sociedades, economias e culturas, e sobre a importância da cooperação internacional para garantir o futuro alimentar do planeta. 

Apesar dos avanços, o desafio da fome continua. Segundo relatórios recentes da FAO, mais de 735 milhões de pessoas ainda vivem em situação de insegurança alimentar grave, um número que voltou a crescer nas últimas décadas, impulsionado por conflitos, mudanças climáticas e desigualdades econômicas. A pandemia de Covid-19 e as crises geopolíticas recentes agravaram ainda mais esse cenário, lembrando ao mundo que a fome não é consequência da escassez, mas da má distribuição e da falta de sistemas alimentares resilientes. A FAO, nesse contexto, tem desempenhado um papel decisivo na formulação de estratégias globais que integram inovação tecnológica, sustentabilidade ambiental e inclusão social, promovendo uma agricultura mais sustentável e eficiente. 

Em meio a esse cenário, a parceria entre o Brasil e a FAO se destaca como um exemplo concreto de cooperação internacional bem-sucedida. Consolidada há mais de uma década, ela transformou o Brasil em referência mundial no combate à fome e no fortalecimento da agricultura familiar. O Programa de Cooperação Internacional Brasil–FAO já investiu mais de 60 milhões de dólares em iniciativas que fortalecem sistemas alimentares inclusivos, agricultura familiar e governança territorial na América Latina e no Caribe. Programas como o Fome Zero, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) inspiraram políticas replicadas em dezenas de países, integrando segurança alimentar, educação nutricional e desenvolvimento rural sustentável. 

O PAA garante a compra direta de produtos da agricultura familiar por entidades públicas, como bancos de alimentos e hospitais, assegurando renda estável a pequenos agricultores e reduzindo desperdícios. Já o PNAE destina pelo menos 30% de seu orçamento à agricultura familiar, beneficiando milhões de estudantes com refeições nutritivas e fortalecendo as economias locais. Essas ações refletem o “modelo brasileiro” elogiado pela FAO: um sistema que gera ciclos virtuosos, fortalecendo comunidades rurais, combatendo a fome nas cidades e promovendo soberania alimentar. 

A influência dessa parceria ultrapassa fronteiras. Iniciativas como a América Latina e Caribe sem Fome 2025, apoiada pela FAO, e a Coalizão Global para Alimentação Escolar, copresidida por Brasil, França e Finlândia, reforçam a importância de modelos integrados e colaborativos. Projetos no âmbito da cooperação Brasil–FAO, como o +Algodão e o Fortalecimento da Governança Responsável da Terra, têm promovido a agricultura sustentável e políticas agroambientais em diversos países latino-americanos, beneficiando especialmente pequenos produtores. Esses esforços estão diretamente alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente o ODS 2, que trata do Fome Zero, e o ODS 17, que aborda as parcerias globais. 

Como ítalo-brasileira, vejo um imenso potencial para aprofundar os laços entre Brasil e Itália no âmbito da FAO. A Itália, com sua tradição agrícola e papel central na sede da organização em Roma, pode colaborar ainda mais com o Brasil em intercâmbios técnicos — desde práticas de agricultura familiar até o desenvolvimento de produtos artesanais, como queijos e azeites. Essa cooperação une o savoir-faire mediterrâneo à inovação tropical, fortalecendo a diplomacia alimentar e o desenvolvimento sustentável. 

Celebrar os 80 anos da FAO é celebrar também a capacidade humana de se unir por um propósito maior. A erradicação da fome, a promoção da nutrição e o desenvolvimento agrícola sustentável continuam sendo pilares fundamentais para a paz e o equilíbrio global. O Brasil e a Itália são exemplos de como o compromisso técnico e a cooperação internacional podem transformar realidades. Combater a fome é o primeiro passo para garantir dignidade, igualdade e paz entre os povos. A fome não é uma fatalidade, é um desafio que a humanidade tem a obrigação moral e prática de superar. E como lembra o lema da FAO: fiat panis, que haja pão para todos.

Renata Bueno é uma parlamentar ítalo-brasileira nascida em 1979 em Brasília, DF, Brasil. Conhecida por seu envolvimento na política e na defesa dos direitos dos descendentes de italianos no Brasil. Renata Bueno foi eleita deputada federal em 2010, sendo a primeira mulher eleita pelo Partido Socialista Italiano (PSI) fora da Itália. Sua atuação política tem sido focada em temas relacionados à cidadania italiana, imigração, e fortalecimento dos laços entre Brasil e Itália. Ela é presidente da Associação pela Cidadania Italiana no Brasil e tem trabalhado para facilitar o processo de reconhecimento da cidadania italiana para descendentes de italianos no país. Além de parlamentar, Renata é advogada e empresária, com o Instituto Cidadania Italiana e Mozzarellart.

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