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Opinião

Duas culturas, um coração natalino

Hoje, morando na Itália e mantendo fortes laços com o Brasil, adoro comparar essas duas formas de comemorar o nascimento de Jesus

Redação Jornal de Brasília

22/12/2025 17h22

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Fotos: Tony Oliveira/Agência Brasília

Por Renata Bueno, ex-parlamentar italiana, advogada internacional, empresária e presidente do Instituto Cidadania Italiana

Como ítalo-brasileira, advogada, ex-deputada no Parlamento Italiano e alguém que divide a vida entre esses dois países tão queridos, o Natal sempre foi uma época especial para mim. Cresci no Brasil celebrando com calor, família reunida e ceias animadas, mas também vivi intensamente as tradições italianas, com sua religiosidade profunda e o charme invernal. Hoje, morando na Itália e mantendo fortes laços com o Brasil, adoro comparar essas duas formas de comemorar o nascimento de Jesus.

O Natal é, em sua essência, um elo. É a época que nos convida a celebrar o sagrado, a família e, para nós, ítalo-brasileiros, é um convite a revisitar a complexa e rica tapeçaria de nossa identidade dupla. A beleza de nossa dupla identidade reside exatamente nesta capacidade: honrar a tradição do Cenone italiano e, ao mesmo tempo, desfrutar do calor e da alegria da ceia brasileira.

A mística e a fé

Na Itália, o Natal é profundamente religioso e começa cedo, no dia 8 de dezembro, com a Festa da Imaculada Conceição. Diferentemente do Brasil, onde o foco decorativo geralmente se concentra na Árvore de Natal, a tradição italiana coloca o Presépio (Presepe) como o verdadeiro protagonista das festividades.

Aliás, foi São Francisco de Assis, em 1223, quem criou o primeiro presépio vivo, e até hoje ele é o grande símbolo de fé. Em muitas cidades, como Nápoles, os presépios são verdadeiras obras de arte, demonstrando o profundo respeito pela narrativa do nascimento de Jesus. Em paralelo, nas regiões do Norte, os encantadores Mercatini di Natale (mercadinhos) surgem com artesanato, luzes e o tradicional vinho quente, marcando a chegada do inverno.

O clima e a alma da festa

A primeira e mais óbvia dicotomia é o clima.

  • Na Itália, é Inverno: Neve, frio, casacos pesados e lareiras. O cenário italiano naturalmente direciona a festa para o calor do lar, tornando a reunião familiar no ambiente interno o foco absoluto.
  • No Brasil, é Verão: A festa se desenrola sob um ardente sol e uma energia mais festiva e tropical. A celebração é expansiva e vibrante, e não é raro ver famílias planejando o dia 25 na praia ou desfrutando da festa no calor. Nossa celebração, por vezes, inclui fogos de artifício e música animada, refletindo a natureza extrovertida do brasileiro.

A figura central dos presentes também difere. Enquanto no Brasil, tudo se concentra na noite do dia 24 com o Papai Noel (Babbo Natale) como estrela principal, na Itália, a distribuição de presentes é prolongada e conta com uma figura única: a Befana.

Esta bruxinha bondosa voa em uma vassoura na noite de 5 para 6 de janeiro, na Epifania. Ela enche as meias das crianças com doces (se foram boazinhas) ou carvão (se não foram). Na cultura italiana, os presentes principais vêm dela, ressaltando que o ciclo natalino se estende até o Dia de Reis.

O banquete

A ceia revela as tradições mais distintas:

  • Na Itália: A ceia da véspera (Cenone, 24/12) é, por tradição, “leve” e com muitos pratos de peixe e frutos do mar. Esta é a tradição da vigília, sem carne vermelha, que é observada em muitas regiões. No dia 25, o almoço é farto, com massas, carnes assadas, panettone, pandoro e torrone. A refeição é dividida em dois momentos.
  • No Brasil: A celebração principal é na noite do dia 24, com a ceia à meia-noite, após a Missa do Galo. Nossa mesa é uma explosão de sabores tropicais e a festa da fartura: peru, chester, tender, farofa, salpicão e rabanadas. O panettone, que veio da Itália, mas se tornou indispensável aqui, é consumido em suas mais diversas e criativas versões.

Valores que conectam

As diferenças são fascinantes: na Itália, o foco é religioso e prolongado, com presépios centrais, a Befana e ceias divididas em um clima frio e acolhedor. No Brasil, tudo se concentra na noite do 24: explosão familiar, pratos tropicais e presentes imediatos no calor.

Mas, tanto no Brasil quanto na Itália, o que une esses dois Natais é o essencial: a união familiar, a gratidão e a alegria de compartilhar. O espírito natalino nos lembra do amor e da conexão, valores que, como ponte entre Brasil e Itália, eu valorizo tanto.

Que possamos abraçar as nossas raízes e celebrar esta época com a paixão italiana e o calor humano brasileiro.

E você, qual tradição prefere? Buon Natale e Feliz Natal a tutti!

Renata Bueno é uma parlamentar ítalo-brasileira nascida em 1979 em Brasília, DF, Brasil. Conhecida por seu envolvimento na política e na defesa dos direitos dos descendentes de italianos no Brasil. Renata Bueno foi eleita deputada federal em 2010, sendo a primeira mulher eleita pelo Partido Socialista Italiano (PSI) fora da Itália. Sua atuação política tem sido focada em temas relacionados à cidadania italiana, imigração, e fortalecimento dos laços entre Brasil e Itália. Ela é presidente da Associação pela Cidadania Italiana no Brasil e tem trabalhado para facilitar o processo de reconhecimento da cidadania italiana para descendentes de italianos no país. Além de parlamentar, Renata é advogada e empresária, com o Instituto Cidadania Italiana e Mozzarellart.

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