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Opinião

Cuidado Animal: A pecuária está relacionada ao surgimento de novas doenças?

O trato dos animais na pecuária é um exemplo de como os danos ao meio ambiente levam ao surgimento novas doenças

Redação Jornal de Brasília

07/07/2021 9h14

Por Luciana Costa
Especial para o Jornal de Brasília

Quase 525 mil mortos, hospitais lotados, lockdowns, mercados em queda, fronteiras fechadas, tudo isto acontecendo neste momento “graças” ao novo vírus SARS-CoV-2, causador da Covid-19. Mas, poucos sabem a possível origem do coronavírus e como a humanidade poderia evitar novas doenças.

De acordo com o estudo recente, há uma relação de 96,2% entre coronavírus e um morcego. Cientistas do mundo inteiro estão prestes a liberar um relatório sobre a origem exata do coronavírus, no qual a principal teoria de que é um vírus de morcego, que se transformou em uma variante que mais tarde infectou seres humanos.

Isto é, a hipótese para o surgimento da doença – de que o novo vírus passou de morcegos para homens por meio de um hospedeiro intermediário – está ligada à maneira como a humanidade se relaciona com o meio ambiente.

Sabe-se que as ações humanas na Terra têm consequências graves no agora – não somente em um futuro distante. Tais ações não se restringem ao desmatamento ou a poluição, pelo contrário, o trato dos animais na pecuária é um exemplo de como os danos ao meio ambiente levam ao surgimento novas doenças.

A criação de animais têm sido uma fonte de renda indispensável para comunidades rurais ao redor do mundo. De acordo com uma World Livestock 2013 realizada pelo FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations) é afirmado que:

“A população mundial cresceu exponencialmente, de cerca de 4 bilhões em 1975 para mais de 7 bilhões hoje. Em 2050, espera-se que esse número aumente para cerca de 9,6 bilhões (ONU, 2012). Desde maio de 2007, tem havido mais pessoas urbanas do que rurais, e a urbanização progressiva aumentará o número de megacidades (com pelo menos 10 milhões de residentes) no futuro. A economia mundial também cresceu dramaticamente nas últimas décadas, com um aumento de vinte vezes no produto interno bruto (PIB) global entre 1970 e 2012 (Banco Mundial, 2012).

A economia mundial está projetada para quase quadruplicar até 2050, levando a um aumento muito significativo na demanda por energia e recursos naturais.”

Em suma, o aumento da população gera consequentemente o aumento da urbanização, sendo necessário um aumento na produção de alimentos. Por isso, a agricultura passou a produzir “cereais como alimento-base para uma dieta cada vez mais rica em proteínas, baseada na pecuária e produtos da pesca”, conforme o relatório.

Entretanto, existe a preocupação de que este aumento possa subir os preços de alimentos cereais para os mais pobres, assim como, as possíveis complicações na saúde devido a crescente incidência de doenças vindas dos animais para humanos.

O risco de contaminação animal para humanos pode variar devido à infraestrutura do local de criação de bois, porcos e galinhas, e também pelos diferentes estilos de pecuária. É comumente visto que, em países em desenvolvimento, este sistema de produção possui falhas e desleixos em relação à manutenção de limpeza e higiene dos locais.

Mais de 70% das novas doenças em humanos têm origem animal, com potencial de tornarem-se ameaças locais e importantes para a saúde pública, por exemplo, a Covid-19 em um nível de pandemia e outras epidemias anteriores em muitos países. O apoio dos esforços para reduzir os riscos de ameaças a animais e vidas humanas é fundamental para o meio ambiente.

A produção intensiva em larga escala implica na aglomeração de animais da mesma espécie. Reforçamento da biossegurança e diretrizes de proteção à saúde geralmente previnem o surgimento de doenças contagiosas, como H1N1 e Covid-19, mas, “ocasionalmente ocorrem surtos importantes quando um patógeno dá um salto de virulência, escapa da vacina utilizada, adquire resistência aos antibióticos ou viaja ao longo da cadeia alimentar”, consta no relatório.

Contudo, é necessário ponderar que o setor pecuário traz o sustento de milhares e milhares de pessoas ao redor do mundo. Conforme o World Wide Livestock 2013, a criação de animais para consumo contribui com “aproximadamente 40% do valor global da produção agrícola e sustenta a subsistência e a segurança alimentar de quase 1,3 bilhão de pessoas”.

Para reverter e evitar futuras pandemias, não basta apenas plantar árvores ou economizar água, ações coletivas são bem vindas, têm um peso significativo e possivelmente transformador.

Um sistema de inteligência global de doenças e alerta preventivos são fundamentais para informar decisões, ações e comunicação oportuna entre agências e setores responsáveis pela saúde humana, saúde animal, vida selvagem e segurança alimentar. Esta é a melhor forma de prevenir, detectar e responder antecipadamente à saúde animal e pública, a partir de agora.

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