Por: Dr. Carlos Gropen
Especialista em Dor Clínica IBDOR – DF
Como médico especialista em dor, frequentemente me deparo com pacientes que convivem há anos com dores de cabeça sem diagnóstico preciso. Uma dessas condições, ainda pouco conhecida até mesmo entre profissionais da saúde, é a cefaleia hípnica — um tipo raro de cefaleia que ocorre exclusivamente durante o sono.
Apesar de representar menos de 0,1% dos casos diagnosticados de dor de cabeça, acredito que essa condição possa estar subestimada na prática clínica. A cefaleia hípnica se caracteriza por crises que surgem apenas durante o sono, geralmente fazendo com que a pessoa desperte entre 1h e 3h da manhã com uma dor surda ou latejante, de intensidade variável.
Durante muito tempo, essa condição foi apelidada de “cefaleia dos sonhos”, justamente por ocorrer na fase REM do sono — período em que os sonhos costumam ser mais vívidos. É como se, ao começar a sonhar, o cérebro também ativasse um “alarme silencioso” de dor, despertando o paciente repetidamente no mesmo horário.
Tenho observado que muitas pessoas, especialmente acima dos 50 anos, acordam todas as noites com dor de cabeça sem entender o motivo. Estudos apontam que a cefaleia hípnica é duas vezes mais comum em mulheres e pode ocorrer de forma esporádica ou diária, com crises que variam de 15 minutos a até 4 horas.
Em minha prática clínica, percebo como esse padrão afeta profundamente o sono e a qualidade de vida. A dor costuma ser bilateral, de leve a moderada, mas em alguns casos pode atingir intensidade grave. O impacto não se limita à dor em si, mas se estende à saúde mental e física do paciente, já que o descanso é constantemente interrompido.
O diagnóstico é clínico. Muitos pacientes passam anos tentando entender por que acordam com dor, recorrendo a diferentes tratamentos sem sucesso. Por isso, sempre reforço a importância de buscar um especialista em dor ou neurologia, que possa identificar padrões e encaminhar o tratamento correto.
A boa notícia é que existe tratamento. Em muitos casos, o uso controlado de cafeína antes de dormir, assim como medicamentos como indometacina ou lítio, oferecem bons resultados. Mas vale ressaltar: nenhuma medicação deve ser iniciada sem avaliação médica, pois outras causas de dor de cabeça noturna precisam ser descartadas.
Entre essas causas, destaco o aumento da pressão intracraniana, que requer investigação imediata. Por isso, todo caso de dor noturna recorrente deve ser tratado com seriedade.
Se você acorda com dor de cabeça repetidamente durante a madrugada, saiba que isso não é normal. A cefaleia hípnica tem tratamento, e buscar ajuda médica é o primeiro passo para recuperar a saúde, o sono e o bem-estar.