Por: Dr. Renato Rocha
Advogado e fundador do projeto Justiça Para Todos
Mais da metade da população do Distrito Federal reconhece que a saúde pública é o principal problema da nossa capital. E não é de hoje. Entra governo, sai governo, e o sistema de saúde continua como um retrato da desigualdade, onde os mais pobres seguem invisíveis.
A última pesquisa realizada pelo ObservaDF, em abril passado, expõe uma realidade inaceitável. Apenas 31% da população do DF têm plano de saúde. Nas regiões mais pobres, esse número despenca para 20%. A consequência direta é o abandono da prevenção. Entre os que não têm plano, apenas 37,5% conseguiram fazer um check-up médico no último ano. O número cai ainda mais quando o foco é a saúde bucal ou a prática regular de exercícios. O que se vê é um cenário onde a pobreza continua adoecendo, silenciosamente, uma parcela inteira da sociedade.
Quando falamos de atendimento, o quadro é ainda mais preocupante. UBS e hospitais públicos são mal avaliados, com destaque negativo para a marcação de consultas, tempo de espera e qualidade do acolhimento. A falta de médicos, as longas filas e o despreparo no trato humano foram apontados pela própria população como os principais gargalos. E não se trata apenas de opinião. São dados, são vivências, são vozes que gritam por socorro todos os dias.
Mas há luz onde o serviço é feito com humanidade. Os agentes comunitários de saúde e os enfermeiros foram os profissionais mais bem avaliados pela população. Quando o cuidado chega até a casa das pessoas por meio da Estratégia Saúde da Família, a percepção da qualidade do sistema melhora. Isso nos mostra que o vínculo, a escuta e a presença fazem a diferença. A saúde pública só será resolutiva quando for, acima de tudo, acolhedora.
Como advogado e cidadão comprometido com a justiça social, reafirmo que saúde não é favor. É direito constitucional. O Estado tem o dever de garantir acesso universal e digno à atenção primária, à prevenção, ao diagnóstico precoce, ao tratamento humanizado. Não podemos naturalizar o caos que se instalou em muitos hospitais. O que está em jogo é a vida. E nenhuma vida pode esperar.
O caminho passa por planejamento, investimentos e respeito a quem cuida e a quem precisa ser cuidado. Valorizar a atenção básica é garantir que o sistema funcione antes que a doença avance. Cuidar de quem mais precisa é a base de qualquer política pública séria. É assim que se constrói uma sociedade mais justa e saudável. Com empatia, com presença, com ação.