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Na Cúpula do Clima, países anunciam pela 1ª vez metas capazes de conter aquecimento global

Permanecem em uma trajetória de aumento de emissões de gases-estufa: China (26%), Índia (7%) e a Rússia (5%)

Redação Jornal de Brasília

22/04/2021 17h00

Foto: Agência Brasil

Ana Carolina Amaral
São Paulo, SP

Ao propor uma nova chance para apresentar suas metas climáticas após a gestão negacionista do clima promovida por Donald Trump, o novo governo dos EUA também promoveu uma segunda oportunidade ao restante do mundo para revisar suas contribuições para a transição a uma economia de baixas emissões de gases-estufa, antecipando para o curto prazo as metas definidoras do sucesso do Acordo de Paris.

“2030 é o novo 2050”, pontuou o presidente francês, Emmanuel Macron, em seu discurso na Cúpula do Clima nesta quinta (22), quando cinco dos dez maiores emissores de gases-estufa da atualidade anunciaram a meta de cortar suas emissões quase pela metade até 2030: os Estados Unidos (50%), a União Europeia (55%), o Japão (46%), o Canadá (40-45%), e até o mesmo o Brasil de Jair Bolsonaro (43%).

Ainda permanecem em uma trajetória de aumento de emissões no curto prazo economias emergentes que figuram entre os maiores emissores: China (que hoje responde por 26% das emissões globais), Índia (7%) e a Rússia (5%).

A manutenção das metas dos emergentes confirma uma posição do bloco de que a transição deve ser liderada pelos países desenvolvidos, cuja responsabilidade histórica pelas emissões globais também lhes confere -de acordo com a Convenção do Clima da ONU, assinada em 1992- o dever de financiamento das ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas no restante do mundo.

A falta de ambição nas metas dos emergentes não significa necessariamente um obstáculo à tendência de descarbonização, mas um atraso na curva, que vai se consolidar a partir da tendência ditada e financiada pelos mais ricos.

É a confirmação da transição energética ditada pelas metas e pelo financiamento dos mais ricos que vai permitir o acompanhamento dos emergentes, que são claros sobre a priorização de investimentos de seus governos em outras áreas.

Para isso, a aposta é de que o mercado global reconfigure seus investimentos, acelerando a transição de fósseis para renováveis. Ao anunciar metas mais ousadas mesmo sem o acompanhamento da China -cujo pico de emissões está prometido para 2030- os países desenvolvidos impõem uma nova configuração global. Nela, a emissão de carbono passa a ser custo, enquanto sua captura se torna um ativo econômico.

A redefinição de prazo articulada pelos americanos é, na prática, uma modelagem de rota para a economia atual. Para que a curva das emissões de carbono despenque pela metade na próxima década, os motores da produção global vão precisar migrar, a partir de agora, das fontes fósseis (como carvão, petróleo e gás) para um leque -mais diverso- de fontes renováveis.

Cortar as emissões pela metade ao longo desta década parecia um desafio pouco realista há apenas três anos, quando os climatologistas reunidos no IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU) concluíram que essa seria a medida necessária para conter o aquecimento global em até 1,5ºC.

Até hoje, os líderes globais não haviam encarado a urgência revelada pela ciência, nem sequer o limite mais conservador de 1,5ºC -sensível principalmente para os países-ilha, que podem desaparecer do mapa a partir desse nível de aquecimento.

No entanto, desde 2015, as potências globais tinham uma perspectiva de que, num mundo que já aqueceu 1ºC, não seria possível evitar mais 0,5 ºC. Por isso o texto do Acordo de Paris deixa uma margem para cima desse limite, fixando um objetivo de contenção do aquecimento “em 2ºC, na direção de 1,5ºC”.

Para compensar o desprezo aos países-ilha, a ONU encomendou ao IPCC o relatório sobre a chance de se limitar o aquecimento a 1,5ºC. Mas o resultado trazido pela ciência -de que o mundo tem chance de conter essa elevação da temperatura se cortar as emissões em 45% até 2030- foi novamente ignorado pelos negociadores do clima.

Constrangidos, os países escantearam as informações do relatório nas negociações diplomáticas, e ele quase foi omitido do texto final da conferência que o recebeu, a COP24, na Polônia. De lá para cá, foram quatro conferências globais sobre o clima. A última delas, dedicada justamente à revisão das metas climáticas, contou com anúncios repetitivos, ajustes duvidosos e avanços tímidos, majoritariamente empurrados para o longo prazo -com as metas de zerar as emissões na metade do século.

O clima de desconfiança entre os países -com truques e pedaladas climáticas nos anúncios dos dados, inclusive no caso brasileiro- foi substituído nesta quinta por uma nova ordem para a economia e a política global, pautada por um consenso inédito sobre a capacidade de responder à crise climática.

Enquanto o Acordo de Paris marcava um avanço histórico na diplomacia, estabelecendo um entendimento global inédito sobre a necessidade de combate às mudanças climáticas, até hoje o sucesso diplomático de Paris não havia repercutido em um resultado significativo para o sistema climático da Terra.

Agora, com a sinalização política que faltava para se avançar na implementação de Paris, os líderes globais passam a considerar um cenário elementar, mas que ainda não estava na mesa: o de uma resposta adequada à crise climática, com um horizonte mais seguro para o clima global.

As informações são da Folhapress

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