A Venezuela acusou, nesta segunda-feira (15), Trinidad e Tobago de ajudar no “roubo” de um navio carregado com petróleo venezuelano apreendido pelos Estados Unidos na semana passada, em meio às manobras militares de Washington no Caribe, segundo um comunicado da Vice-Presidência do país sul-americano.
Os Estados Unidos implementaram em agosto uma operação antidrogas no Caribe que contou com o apoio da primeira-ministra trinitina, Kamla Persad-Bissessar, aliada do governo de Donald Trump.
Caracas informou ter “pleno conhecimento da participação do governo de Trinidad e Tobago no roubo do petróleo venezuelano”, com “o assalto a um navio que transportava esse produto estratégico da Venezuela” em 10 de dezembro.
“Esse ato de pirataria constitui uma grave violação do direito internacional e uma flagrante transgressão aos princípios de livre navegação e comércio”, acrescenta o texto publicado na plataforma de mensagens Telegram da vice-presidente Delcy Rodríguez.
Trump anunciou na semana passada que seu Exército havia apreendido um petroleiro em frente ao litoral da Venezuela, em uma medida sem precedentes na crise entre Washington e Caracas.
O governo do presidente Nicolás Maduro considerou a ação um “ato de pirataria internacional”.
Maduro havia suspendido em outubro os acordos energéticos com Trinidad e Tobago, depois que o arquipélago recebeu um contratorpedeiro americano para exercícios militares conjuntos.
Agora, no comunicado divulgado nesta segunda-feira, ratificou a decisão e ordenou “extinguir” todas as relações com o governo trinitino.
“O governo venezuelano decidiu extinguir de maneira imediata qualquer contrato, acordo ou negociação para o fornecimento de gás natural a esse país”, indica a nota.
‘Nem uma gota’
Trinidad e Tobago anunciou nesta segunda-feira que permitirá que aeronaves militares americanas usem seus aeroportos nas próximas semanas para “movimentos de caráter logístico”.
Em novembro, também foi instalado um radar no arquipélago com apoio americano.
O ministro do Interior da Venezuela, Diosdado Cabello, advertiu em entrevista coletiva nesta segunda-feira que as ações do governo trintino colocam “em perigo as boas relações, mas também o próprio povo”.
O principal recurso da Venezuela é o petróleo bruto, submetido a um embargo americano desde 2019.
Isso obriga o país a escoar sua produção no mercado clandestino a preços bem mais baixos, destinada sobretudo a países asiáticos.
“Não poderão levar nem uma gota de petróleo. Aqui há petróleo, mas têm de pagar por ele”, reforçou Cabello.
A estatal PDVSA denunciou pela manhã um “ataque cibernético destinado a deter sua operatividade”, embora a ação tenha afetado apenas os sistemas administrativos, segundo um comunicado da empresa.
Sem apontar autores específicos, responsabilizou “interesses estrangeiros” e voltou a acusar os Estados Unidos de quererem “se apropriar do petróleo venezuelano”.
Sanções prorrogadas
Horas antes, a União Europeia (UE) decidiu prorrogar até janeiro de 2027 as sanções contra integrantes do governo venezuelano em vigor desde 2017. A medida inclui um embargo de “armas e equipamentos destinados à repressão interna”.
O bloco justificou a decisão pelas “ações persistentes que minam a democracia e o Estado de direito, assim como pelas contínuas violações dos direitos humanos e a repressão contra a sociedade civil e a oposição democrática”.
A Venezuela registrou recentemente um aumento do que defensores de direitos humanos classificam como “detenções arbitrárias” e “desaparecimentos forçados”. Há ao menos 889 “presos políticos”, segundo a ONG Foro Penal.
Nas últimas duas semanas, o serviço de inteligência venezuelano (Sebin) prendeu José Elías Torres, secretário-geral do maior sindicato do país; Nicmer Evans, diretor do veículo digital Punto de Corte; e Melquiades Pulido, dirigente do partido liderado pela opositora María Corina Machado.
Caracas rejeitou a renovação das sanções europeias, que classifica como “medidas coercitivas unilaterais”.
“Após anos de aplicação, essa política de sanções demonstrou ser um fracasso retumbante, deteriorando de maneira significativa as relações políticas e diplomáticas” com a UE, afirma um comunicado da chancelaria.
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