GABRIEL GAMA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Katie McGinty diz ter boas memórias da Cúpula da Terra, realizada no Rio de Janeiro em 1992, quando integrou a delegação dos Estados Unidos na reunião que originou a convenção das Nações Unidas sobre mudança climática.
Três décadas depois da Rio-92, ela volta ao Brasil para participar de eventos prévios à COP30, que começa na próxima segunda-feira (10). Agora, não como representante oficial de seu país.
Donald Trump retirou os EUA do Acordo de Paris pela segunda vez e não enviará negociadores para a conferência em Belém. Questionada sobre qual recomendação daria ao presidente, ela afirma: “Se você não liderar o combate à mudança climática, está perdendo a oportunidade. Se você não se engajar na ação climática, você não está apenas queimando carbono, está queimando dinheiro”.
McGinty chefiou o Conselho de Qualidade Ambiental da Casa Branca de 1993 a 1998, durante o governo Bill Clinton. Sua função era orientar as decisões do presidente com relação ao meio ambiente e às leis federais.
Em 1992, ela trabalhava como assessora ambiental do então senador democrata Al Gore, que representou o Congresso dos EUA na Rio-92 e seria eleito vice-presidente no final do mesmo ano.
“O telefonema que pediu ao Al Gore para se juntar a Bill Clinton como vice na corrida presidencial em 1992 veio para o Rio de Janeiro, durante a Cúpula da Terra”, diz à reportagem durante sua passagem por São Paulo.
“É ótimo estar de volta aqui e ver o Brasil de novo em posição de liderança. Muitas coisas são iguais, mas muitas coisas são diferentes neste momento”, afirma.
Para ela, os Estados Unidos estarão presentes em Belém mesmo sem o engajamento da Casa Branca, com delegações de prefeitos, governadores, congressistas e empresários.
Apesar do revés nas políticas ambientais de seu país, McGinty diz estar mais confiante na luta contra as mudanças climáticas hoje do que em 1992. “A maturação tecnológica é incrível em abastecer o crescimento sem a queima de combustível, e o clima se encontra na mesa onde os problemas mais sérios estão sendo discutidos.”
Ela afirma que a história se desenvolve em pontos de virada, quando as ações mudam completamente e a sociedade se molda à nova realidade. “Acho que ainda não chegamos lá com relação ao clima, mas quando você olha a próxima geração de jovens, isso não é negociável para eles.”
“A COP30 será lembrada como uma parte muito importante do processo que mantém as coisas unidas e se movendo em direção a esse ponto de inflexão, quando será redundante dizer que uma economia é sustentável. Se a energia não for sustentável, não será energia”, diz.
Além de conselheira da Casa Branca, McGinty foi secretária de Proteção Ambiental da Pensilvânia de 2003 a 2008 e concorreu ao Senado pelo partido democrata no mesmo estado em 2016. Hoje, é vice-presidente e líder de sustentabilidade da Johnson Controls, empresa voltada à eficiência energética em edifícios.
“Eu participei, de alguma forma, de cada COP que já aconteceu. Nenhuma delas foi uma bala de prata que resolveu tudo, mas quase todas foram tijolos essenciais nesse caminho. A continuidade de que ainda estamos aqui, nos reunindo, mantendo o assunto prioritário e caminhando para frente, é uma contribuição enorme”, afirma.
Ela elogia a maior atenção a temas como agricultura sustentável e conservação de florestas na cúpula em Belém. “Há, é claro, um grande foco na parte energética da equação, mas acho muito saudável que tenhamos a oportunidade aqui de tratar dessas questões também.”
McGinty enxerga que a mudança climática se tornou grande demais para não ser inserida nos negócios. “Trabalhando com essas questões há 33 anos, elas estavam na periferia das preocupações e do foco dos big boys. Agora, elas são definitivamente essenciais, por causa da conexão do meio ambiente com as preocupações econômicas, tecnológicas e de segurança nacional”, opina.
“As renováveis cresceram muito mais do que foi previsto há dez anos. Olhe para a trajetória política nos EUA, que voltou alguns passos atrás, sim, mas as projeções são de que vamos ter um aumento contínuo da energia renovável. A marcha de progresso já está lá.”