SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Donald Trump ordenou nesta sexta-feira (14) que o Departamento de Justiça americano investigue ligações de Jeffrey Epstein com figuras democratas. A secretária de Justiça dos EUA, Pam Bondi, acatou o pedido horas depois e designou um promotor de Manhattan para liderar o processo.
O presidente cobrou investigações contra figuras como o ex-presidente Bill Clinton e o ex-secretário do Tesouro, Larry Summers, além do banco JPMorgan, o maior do país.
O pedido é uma espécie de retaliação à divulgação de emails de Epstein, por parte dos democratas, que sugerem que Trump tinha ciência dos abusos sexuais cometidos pelo financista e esteve por horas com uma das vítimas. A decisão de Bondi de, horas depois, aceitar o pedido do presidente, repete o que críticos afirmam ser uma instrumentalização do departamento para atender aos interesses de Trump.
Em publicação na rede Truth Social, o presidente repetiu que o caso Epstein é um problema dos democratas, não dos republicanos. Ele afirmou que Clinton, presidente do país de 1993 a 2001, Reid Hoffman, cofundador do LinkedIn um dos maiores doadores à campanha de Kamala Harris durante a corrida presidencial de 2024, e Summers “sabem tudo” sobre o financista e deveriam ser questionados sobre o caso.
“Epstein era democrata e é um problema dos democratas, não dos republicanos!”, escreveu Trump na publicação. “Não perca seu tempo com Trump. Eu tenho um país para governar!”
Clinton, Summers e Hoffman não se manifestaram. Já o banco JPMorgan escreveu em nota lamentar qualquer associação que teve com o indivíduo. “Mas não o ajudamos a cometer seus atos hediondos”, pontua o comunicado.
Na publicação da Truth Social, o presidente também voltou a atacar os democratas ao reagir ao avanço de iniciativas no Congresso para divulgar arquivos relacionados ao caso Epstein. O republicano escreveu que o assunto é uma farsa criada para tirar a atenção de todas as “políticas ruins” do partido.
O caso, portanto, seria uma estratégia para “desviar a atenção de todas as derrotas [do Partido Democrata]”, segundo Trump, em especial relacionadas ao “vexame da paralisação” de 43 dias do governo a mais longa do tipo na história do país e que ele afirma ser responsabilidade da oposição.
O presidente também criticou correligionários, afirmando que “alguns republicanos fracos caíram nas garras” dos democratas por serem ingênuos. Segundo ele, o Partido Democrata está em “total desordem e sem a menor ideia do que fazer”.
Parlamentares democratas divulgaram na quarta-feira (12) emails atribuídos a Epstein sugerindo que o atual presidente tinha ciência dos abusos sexuais. Segundo os documentos, o financista escreveu para um interlocutor desconhecido que o republicano passou “horas em sua casa” com uma das vítimas e “sabia sobre as meninas” envolvidas em seu esquema, sem esclarecer o que quis dizer com a frase.
O tema é caro à base trumpista e considerado sensível para o líder republicano. Grupos que inclusive formam a base de apoio do presidente exigem que a divulgação de todos os documentos relacionados ao escândalo, além da identificação de envolvidos que ainda não teriam sido expostos.
Trump, que sempre negou envolvimento, escreveu na publicação que a oposição está fazendo “tudo ao seu alcance” para “promover novamente a farsa Epstein”, apesar de o Departamento de Justiça já ter divulgado, segundo ele, 50 mil páginas de documentos sobre o caso.
O escândalo envolve uma vasta rede de exploração e tráfico sexual de menores que Epstein, com a ajuda de sua ex-namorada Ghislaine Maxwell, supostamente operava. Epstein era acusado de pagar por atos sexuais com meninas adolescentes, de traficar dezenas de jovens, algumas com apenas 14 anos, e de forçá-las a prestar serviços sexuais em suas propriedades em Nova York, Flórida, Novo México e em sua ilha particular no Caribe que posteriormente ficou conhecida como ilha Epstein.
O caso ganhou notoriedade não apenas pela gravidade dos crimes, mas também pela associação de Epstein com figuras públicas e poderosas como o presidente Trump, o ex-presidente Bill Clinton, o fundador da Microsoft, Bill Gates, e o príncipe Andrew do Reino Unido, o que levantou dúvidas sobre a real extensão de sua rede e a possível relutância das autoridades em punir os infratores.
Trump reconhece ter sido próximo de Epstein nos anos 1990 e início dos 2000, mas afirma que rompeu a amizade após uma disputa por um imóvel em Palm Beach, na Flórida. Epstein foi encontrado morto em 2019, numa prisão de Manhattan, em ocorrência registrada como suicídio.
Em meio ao desgaste do governo, nesta quinta, um dia depois da divulgação do novo lote de emails relativos ao caso, o Departamento de Defesa anunciou o início da Operação Lança do Sul para combater o narcotráfico na América Latina. O anúncio feito pelo secretário Pete Hegseth não traz detalhes da operação e, quase 24 horas depois, não produziu novos desdobramentos além de mais um ataque a embarcação supostamente ligada a traficantes no Caribe.
As ações militares americanas na região têm sido criticadas por governos da região não alinhados a Washington, além de especialistas e opositores políticos, que rejeitam a justificativa da Casa Branca para os bombardeios aos barcos. Com tropas, aeronaves e o maior porta-aviões do mundo deslocado para a região, o governo Trump pressiona o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, acusado de ser um chefe do narcotráfico regional algo que ele rejeita.