Menu
Mundo

Trump diz que príncipe saudita acusado de mandar matar jornalista é ‘incrível em direitos humanos’

Redação Jornal de Brasília

18/11/2025 15h11

Foto: SAUL LOEB / AFP

Foto: SAUL LOEB / AFP

GUILHERME BOTACINI
FOLHAPRESS

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta terça-feira (18) que o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, é “incrível em termos de diretos humanos”. Trata-se da primeira primeira visita do líder de fato do reino árabe a Washington desde 2018, quando o jornalista saudita Jamal Khashoggi foi assassinado dentro do consulado de seu país em Istambul.


“Temos um homem extremamente respeitado no Salão Oval hoje, e um amigo meu de longa data, um grande amigo meu”, disse o republicano. “Estou muito orgulhoso do trabalho, o que ele fez é incrível em termos de direitos humanos e tudo mais.”


MbS, como o príncipe herdeiro também é conhecido, foi recebido em cerimônia oficial com pompa na entrada pelo Gramado Sul da Casa Branca, com fanfarra, tapete vermelho e sobrevoo de jatos F-15, já operados pelos sauditas, e F-35, cuja venda é um dos objetivos da visita para Trump.


Estava presente o grosso do gabinete do republicano: o vice-presidente, J. D. Vance, a chefe de gabinete, Susie Wiles, e os secretários Marco Rubio (Estado), Scott Bessent (Tesouro), Pete Hegseth (Defesa) e Howard Lutnick (Comércio).


Após a cerimônia de chegada do líder saudita, emissoras locais captaram momento em que os dois caminharam em frente à exibição galeria retratos de presidentes americanos, onde Trump substituiu a foto do ex-presidente Joe Biden pela imagem de uma caneta automática. Os dois líderes se detiveram em frente à foto de Biden enquanto conversavam, distantes das câmeras.


A morte de Khashoggi transformou em um pária internacional. Relatórios de inteligência dos EUA durante o governo de Joe Biden concluíram que MbS foi o mandante do assassinato do jornalista, um crítico da monarquia saudita que escrevia para o jornal americano The Washington Post.


Reconstituições com informações e diálogos obtidos pela polícia turca indicam que Khashoggi foi sufocado e depois esquartejado depois de entrar no consulado com o intuito de obter documentos para se casar com sua noiva, Hatice Cengiz, que ficou do lado de fora do local esperando por ele.


A visita desta terça-feira parece desenhada para mostrar o novo momento da relação entre Washington e Riad —e para ignorar a morte do jornalista.


Trump e MbS terão reunião, almoço e jantar ao longo do dia. A previsão é de que o saudita tenha compromissos com o presidente americano das 11h (13h de Brasília) até se despedir, às 21h (23h de Brasília).


O republicano espera concluir negócio com o príncipe para a venda de 48 caças F-35, além de investimento de US$ 600 bilhões (R$ 3,18 trilhões) que foram prometidos a Trump durante a visita do americano à Arábia Saudita, em maio.


Esta seria a primeira venda dos caças F-35 americanos para o reino, e sua mera possibilidade já indica uma mudança significativa da política americana para o Oriente Médio e mexe com as alianças estabelecidas e a balança de poder na região.


O Exército de Israel manifestou formalmente ao governo israelense se opor à venda sob o argumento de que perderia a vantagem de ser o único país da região operando os caças avançados. Tel Aviv tem trabalhado para dificultar vendas semelhantes a outras nações da região, como a Turquia e os Emirados Árabes Unidos. Nesta segunda-feira (17), Trump confirmou a repórteres a intenção de vender os F-35 para a Arábia Saudita.


Além de equipamentos militares, o líder saudita busca garantias de segurança, acesso a tecnologias de inteligência artificial e avanços em um acordo sobre um programa nuclear civil. “Os sauditas gastarão muito dinheiro amanhã nos EUA”, disse um funcionário da Casa Branca à agência Reuters nesta segunda-feira.


Para além das vendas e acordos previstos, Trump quer do príncipe herdeiro algum sinal de que Riad vai enfim se juntar aos Acordos de Abraão, nome dado aos pactos de normalização das relações entre países de maioria árabe e Israel que o republicano colocou em marcha durante seu primeiro mandato.


Na ocasião, ele conseguiu vitórias menores mas importantes, com Bahrein, Marrocos e Emirados Árabes Unidos se juntando à iniciativa, em troca de acordos de investimento, concessões e vendas de armas americanas.


Os sauditas, no entanto, foram mais relutantes. Dada a grande relevância política, econômica, militar e religiosa de Riad no Oriente Médio, a normalização das relações da Arábia Saudita com Israel era o grande prêmio da iniciativa diplomática, mas que parava em algumas condições sauditas difíceis de avançarem, como o rascunho de um caminho para a criação de um Estado palestino.


Tudo desmoronou em 7 de outubro de 2023, com o ataque do Hamas às comunidades no sul de Israel que deixou 1.200 mortos e desencadeou a reação do Estado judeu na Faixa de Gaza, o que bloqueou qualquer chance de normalização.


Com o mais recente acordo de cessar-fogo, MbS tenta posicionar Riad como força relevante do mundo árabe para a reconstrução do território palestino. Junto com a França, a Arábia Saudita liderou movimento que, por um lado, fez importantes países ocidentais reconheceram um Estado palestino e, por outro, fez nações árabes e muçulmanas condenarem o Hamas.


“É muito importante para Trump que eles [sauditas] se juntem aos Acordos de Abraão durante seu mandato, então ele está aumentando a pressão”, afirmou à Reuters Dennis Ross, que foi negociador dos EUA para o Oriente Médio e hoje trabalha no think tank Instituto Washington para Políticas do Oriente Médio.


O especialista diz ainda que a estratégia de Trump busca um relações mais multifacetadas que retirem a Arábia Saudita da esfera de influência da China. “O presidente Trump acredita que todos esses passos vinculam os sauditas aos EUA, da segurança a questões de finanças, IA e energia”, afirmou.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado