O presidente queniano, William Ruto, lamentou nesta quarta-feira (24) na ONU a escassez de soldados e recursos enfrentada pela força multinacional liderada por seu país no Haiti e defendeu uma nova versão da operação com mais aporte.
Para tentar conter os abusos das gangues que controlam quase toda a capital, Porto Príncipe, o Conselho de Segurança da ONU deu o sinal verde em 2023 à criação da Missão Multinacional de Segurança (MMAS), liderada pelo Quênia, para apoiar a polícia haitiana.
Enquanto os resultados da força, mal equipada e subfinanciada, são mistos, os Estados Unidos têm impulsionado nas últimas semanas sua transformação em uma “força mais robusta de repressão de gangues”, apoiada por um escritório dedicado da ONU e com até 5.550 policiais e soldados.
“A missão tem trabalhado em um ambiente volátil, sob enormes restrições”, com apenas cerca de mil homens dos 2.500 esperados, assegurou da tribuna da ONU o presidente queniano.
“Mas apesar desses desafios e contra todas as probabilidades, a MMAS alcançou resultados que muitos consideraram impossíveis”, afirmou, mencionando em particular a recuperação do controle do palácio presidencial, do porto e a reabertura de escolas.
“Isso levanta a pergunta: se foi possível atingir tanto com recursos limitados e pessoal insuficiente, em apenas 15 meses, o que poderia ter sido feito se a fraternidade das Nações Unidas realmente tivesse agido em solidariedade com o povo haitiano?”, questionou.
“Desta tribuna posso assegurar a todos os parceiros e atores que, com o pessoal e os recursos adequados, o equipamento e a logística necessários, a segurança do Haiti pode ser restabelecida”, afirmou.
O presidente queniano criticou a ineficácia da comunidade internacional.
“Por muito tempo o povo haitiano tem clamado ao mundo por ajuda, demasiadas vezes seu apelo só encontrou silêncio, hesitação e medidas incompletas. O Haiti é um lembrete trágico do que acontece quando a comunidade internacional desvia o olhar, hesita e oferece apoio insuficiente”, declarou.
País mais pobre das Américas, o Haiti sofre há anos com a violência de gangues criminosas, protagonistas de assassinatos, estupros, saques e sequestros, em um contexto de instabilidade política crônica.
A situação piorou ainda mais desde o início de 2024, quando as gangues levaram o então primeiro-ministro Ariel Henry a renunciar.
O país, que não realiza eleições desde 2016, é governado desde então por um Conselho Presidencial de Transição.
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