A euforia tomou Portugal durante a Revolução dos Cravos em 1974, quando oficiais do Exército varreram uma ditadura de quatro décadas. O golpe quase sem derramamento de sangue trouxe o que para os portugueses era novidade – direito a voto, acesso universal a serviços de saúde, educação pública, aposentadorias e direitos trabalhistas.
No 40º aniversário da revolução nesta sexta-feira, o clima predominante entre os portugueses é de raiva com a forma como o governo está agora tirando esses acalentados direitos em meio à crise financeira. “Muitas pessoas estão se sentindo muito enganadas”, disse Otelo Saraiva de Carvalho, um ex-capitão do Exército que comandou o golpe militar realizado antes do amanhecer. “O que estamos vivendo agora é como se estivessem assinando a sentença de morte das esperanças e valores (da revolução).”
Com o começo das comemorações, cerca de 2 mil pessoas ouviram discursos proferidos por alguns daqueles que participaram da revolta há quatro décadas. Na parte da tarde, milhares marcharam no centro de Lisboa, muitos usando os cravos vermelhos que são símbolo da revolução.
O 25 de abril, que já é um feriado anual, este ano forneceu uma faísca para aqueles que desejam expressar o seu descontentamento contra medidas de austeridade. É um sentimento também encontrado em outros países da União Europeia que sentem a dor dos cortes de gastos públicos com a finalidade de superar a recente crise da dívida.
Portugal, assim como a Grécia e a Irlanda, teve de pedir um resgate internacional em 2011, precisando de 78 bilhões de euros para evitar o default. Tornou-se um alvo de credores estrangeiros, que obrigaram o país, com população de 10,5 milhões de habitantes, a cortar programas sociais e leis trabalhistas estabelecidas no rescaldo da revolução.
A Revolução dos Cravos, que viu um milhão de pessoas encherem as ruas em uma celebração em massa, é considerada como um dos momentos gloriosos da história de Portugal no século 20. O seu nome vem das flores vermelhas – abundantes na época – que as pessoas prendiam nos canos de rifles dos soldados naquele dia histórico. Dentro de um ano, foram realizadas eleições.
Para a maioria dos portugueses com menos de 50 anos, a revolução é um marco que aprenderam na escola. Mas com o desemprego dos jovens em 35%, o aniversário sensibilizou muitos jovens. As comemorações em todo o país incluíram dezenas de eventos de protesto organizadas por mídias sociais. Miguel Januário, um artista de rua de 33 anos, que pintou um mural comemorativo em uma parede da Universidade Nova de Lisboa, disse que amava as mudanças trazidas por um evento que não viveu, mas ponderou que “desde então nós permitimos novas formas de ditadura – neste caso financeiras – tomarem o controle.” Fonte: Associated Press.