A pobreza na Argentina atingiu 31,6% da população no primeiro semestre deste ano, uma redução importante em relação ao segundo semestre do ano passado, de acordo com dados oficiais divulgados nesta quinta-feira (25), que seguem uma metodologia questionada por outros centros de estudo.
O índice representa uma queda de 6,5 pontos percentuais em relação aos últimos seis meses de 2024, quando 38,1% dos 47 milhões de habitantes viviam na pobreza, segundo o instituto argentino de estatísticas Indec.
A taxa de indigência também caiu para 6,9% da população, frente aos 8,2% do semestre anterior.
No entanto, especialistas alertam que a magnitude da melhora está superestimada por limitações metodológicas e pela falta de atualização das cestas de referência.
O dado foi divulgado um dia após o programa econômico do presidente ultraliberal, Javier Milei, receber um contundente apoio dos Estados Unidos que acalmou os mercados e conteve a desvalorização do peso em meio a um clima de tensão social.
A redução da pobreza se explica, segundo o Ministério do Capital Humano, por sua própria gestão e pelas “políticas econômicas adotadas pelo governo, que permitiram equilibrar a economia e frear a inflação”.
Milei obteve resultados excelentes no tema dos preços – a inflação anual caiu de 211% no final de 2023 para 33,6% interanual em agosto -, mas seu draconiano ajuste fiscal provocou uma brusca queda no crescimento, no consumo e no emprego.
O Indec mede a pobreza de acordo com se a renda familiar alcança ou não o valor da cesta básica total, que reúne alimentos e gastos essenciais e equivale a cerca de 850 dólares para uma família de quatro pessoas. A indigência é medida com uma cesta básica que considera apenas os alimentos essenciais.
O sociólogo Daniel Schteingart, do centro de pesquisa Fundar, explicou à AFP que essa redução na pobreza deve ser analisada com cautela, entre outros fatores porque é baseada em uma pesquisa em que as pessoas declaram de forma pouco confiável suas rendas e porque mede a renda do mês anterior em comparação com a cesta do mês atual.
“Quando você tem muita inflação mensal, como aconteceu em 2023 e no início de 2024, esse lapso de um mês entre a renda e a cesta adiciona muitos pobres. Quando você tem baixa inflação mensal como agora, esse efeito praticamente desaparece”, explicou.
“Não é que o Indec esteja mentindo”, continuou. “É que a metodologia em si tem fragilidades potenciais que se combinaram no último ano.”
A Universidade Católica, por sua vez, concordou em um comunicado que a queda da pobreza está “superestimada” porque continua baseada em cestas com padrões de consumo de uma década atrás.
Por exemplo, no ano passado o governo eliminou subsídios para tarifas como água, gás e eletricidade, o que provocou um aumento astronômico de preços que não se reflete nos números de inflação nem de pobreza.
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