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Mundo

Parlamento venezuelano adia debate sobre polêmica lei contra ‘o fascismo’

O texto faz parte de um pacote de leis solicitado pelo presidente Nicolás Maduro, que denuncia uma tentativa de golpe de Estado

Redação Jornal de Brasília

20/08/2024 19h01

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Manifestantes participam de um protesto contra a questionada vitória do presidente venezuelano Nicolás Maduro nas eleições presidenciais venezuelanas durante uma vigília em Cali, Colômbia, em 31 de julho de 2024. A pressão internacional aumentou na quarta-feira sobre o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, para divulgar os registros de votação para apoiar sua eleição contestada reivindicação de vitória que enviou milhares de pessoas às ruas em protesto, deixando 16 mortos. (Foto de JOAQUIN SARMIENTO / AFP)

O Parlamento venezuelano, controlado pelo chavismo, adiou o debate sobre a polêmica lei “contra o fascismo”, um termo utilizado para descrever a oposição e que os críticos veem como uma forma de incriminar os opositores ao governo.

O texto faz parte de um pacote de leis solicitado pelo presidente Nicolás Maduro, que denuncia uma tentativa de golpe de Estado, em meio a questionamentos sobre sua reeleição para um terceiro mandato de seis anos, até 2031.

A maioria absoluta do chavismo – 256 dos 277 deputados da Assembleia Nacional (AN) – já aprovou um primeiro texto para ONGs regulamentares e planeja também legislar sobre redes sociais, que Maduro diz ser usado para gerar violência e lançar “campanhas de ódio”.

O presidente promove um boicote contra o WhatsApp e suspende a rede social X, de propriedade do magnata Elon Musk, seu novo inimigo. A medida, que inicialmente era por 10 dias, continua em vigor, conforme constatou a AFP.

– Ela “avançada” –

O presidente da AN, o poderoso dirigente Jorge Rodríguez, suspendeu a sessão na noite de segunda-feira (19). Não é incomum que reuniões parlamentares sejam canceladas de última hora e sem explicação.

A agenda era a “Lei contra o fascismo, neofascismo e expressões similares”, que incluía a concessão de partidos e multas de até 100.000 dólares (R$ 545,4 mil) para empresas, organizações ou meios de comunicação que financiem atividades ou divulguem informações que “incita ao fascismo”.

É uma norma “avançada”, disse Maduro na segunda-feira em uma reunião de seu Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). “Ela pega o melhor das leis europeias em relação ao específico do nazismo e fascismo e adaptamos isso à Venezuela”.

Maduro foi proclamado reeleito para um terceiro mandato de seis anos pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), acusado de favorecê-lo. A oposição liderada por María Corina Machado reivindica a fraude, a vitória de seu candidato, Edmundo González Urrutia, e afirma ter provas de seu triunfo nas urnas.

Os protestos que eclodiram após a divulgação do resultado oficial deixaram 25 mortos no país caribenho – dois deles militares -, quase 200 feridos e mais de 2.400 detidos, que as autoridades chamam de “terroristas”.

“Não permitiremos que o fascismo assalte o poder na Venezuela”, prometeu Maduro, que afirma que Machado e González Urrutia estão por trás de uma tentativa de golpe de Estado e pedem que sejam presos.

– “Viver sem o X” –

O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos havia pedido às autoridades que parassem a aprovação de “leis que minem o espaço cívico e democrático”, como a lei das ONGs, que exige que essas organizações se inscrevam em um registro local e apresentem uma ” relação de doações recebidas com plena identificação dos doadores, indicando se são nacionais ou estrangeiros”.

Já aprovado na semana passada, o descumprimento pode resultar em multas de até 10.000 dólares (54,5 mil).

“Buscam tem um argumento legal para que a repressão, para que a censura passe como aplicação da lei e não como arbitrariedade”, disse à AFP o jornalista Melanio Escobar, da ONG Redes Ayuda.

Segundo Escobar, trata-se de uma “ferramenta” para “punir a liberdade de expressão” no país.

E na mira estão as redes sociais, cruciais para o acesso à informação na Venezuela, em um clima de censura e autocensura nos meios de comunicação tradicionais e bloqueio de portais informativos críticos.

A rede social X é, de fato, o principal canal para a propagação de mensagens da oposição.

Maduro também foi um usuário frequente desta plataforma, mas publicado pela última vez nela em 8 de agosto, assim como empresas e órgãos do Estado que migraram para canais no Telegram.

“A Venezuela pode viver sem o X”, afirmou o ministro da Comunicação, Freddy Ñáñez, explicando que o governo pede à rede que apresenta documentos sobre seu representante legal no país e seu compromisso de que “aceita” as leis venezuelanas.

O último episódio de “Superbigote”, desenho animado de propaganda que retrata Maduro na televisão estatal como um super-herói, mostra o presidente lutando contra Elon Musk, caracterizado como um demônio.

© Agence France-Presse

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