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Papa descarta investigação de cardeal canadense acusado de agressão sexual

As denúncias foram feitas por uma mulher identificada como “F.”, que alegou ter sido agredida várias vezes pelo cardeal

Redação Jornal de Brasília

18/08/2022 15h59

Foto: Andreas Solaro/ AFP

O papa Francisco descartou a abertura de uma “investigação canônica” do cardeal canadense Marc Ouellet por falta de provas. Ele foi acusado em seu país de abuso sexual, disse o porta-voz do Vaticano nesta quinta-feira (18).

“O papa Francisco declara que não há elementos suficientes para abrir uma investigação canônica por agressão sexual sobre o cardeal Ouellet contra a pessoa F.”, disse o porta-voz em comunicado.

A declaração do papa foi feita após reportagens divulgadas na terça-feira no Canadá envolvendo o cardeal Ouellet, de 78 anos, atual prefeito da Congregação para os Bispos, entre os cargos mais importantes do governo do Vaticano.

As denúncias foram feitas por uma mulher identificada como “F.”, que alegou ter sido agredida várias vezes pelo cardeal.

Ouellet foi acusado de tocar indevidamente uma mulher entre 2008 e 2010 enquanto era arcebispo de Quebec, segundo documentos judiciais admitidos em maio pelo Tribunal Superior da província francófona.

“F.” foi identificada como uma agente da pastoral quando os eventos supostamente ocorreram e a denúncia foi feita diretamente ao Vaticano em janeiro de 2021.

O porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, confirmou indiretamente que o papa Francisco havia contratado o jesuíta Jacques Servais para conduzir uma “investigação preliminar” sobre essas acusações.

“A investigação preliminar confiada pelo papa ao padre Jacques Servais concluiu que não há elementos para iniciar um julgamento contra o cardeal Ouellet por agressão sexual”, explica a nota.

Consultado novamente após as últimas denúncias no Canadá, “Servais confirmou que não há razões fundamentadas para abrir uma investigação sobre a agressão sexual da pessoa F. pelo Cardeal Ouellet”, destaca Bruni na nota.

“Nem no relatório escrito enviado ao Santo Padre, nem no depoimento via Zoom que mais tarde tomei na presença de um membro do Comitê Diocesano ‘ad hoc’, essa pessoa fez alguma acusação que daria origem para tal investigação”, especificou o jesuíta.

As revelações também são divulgadas três semanas após a viagem do pontífice ao Canadá, durante a qual ele se desculpou por abusos cometidos por membros da Igreja em internatos católicos para indígenas.

Durante essa histórica visita de seis dias, considerada uma viagem “penitencial”, o papa reconheceu publicamente os erros e horrores cometidos pela Igreja durante décadas.

Enxurrada de denúncias

Essa denúncia está entre os depoimentos de 101 pessoas que alegam ter sido “agredidas sexualmente” por mais de 80 membros do clero e funcionários laicos da diocese de Quebec desde junho de 1940, segundo documentos judiciais.

De acordo com a queixa de F., o cardeal Ouellet a “beijou” e “deslizou a mão” pelas costas dela “até as nádegas”. Quando ela se encorajou a falar sobe esses fatos, soube “que não era a única mulher que teve esse tipo de ‘problema’ com ele”, dizem os documentos do tribunal.

Foi somente em 2020 que F., que disse que também havia sido agredida sexualmente por outro clérigo, falou sobre isso ao comitê consultivo de abuso sexual da diocese de Quebec.

A organização então recomendou que ela escrevesse uma carta ao papa Francisco. O pontífice respondeu nomeando o padre Servais para investigar o cardeal.

Entre os favoritos para ser papa no último conclave, que elegeu o argentino Jorge Mario Bergoglio em 2013, Ouellet também foi presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, pela qual é conhecido em toda a região.

O escândalo se soma à enxurrada de denúncias de abuso sexual cometidos há décadas por religiosos contra menores em todo o mundo, um crime “abominável” dentro da Igreja, que o papa Francisco prometeu punir severamente.

© Agence France-Presse

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