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Painel científico idealizado na COP30 quer mostrar como zerar o uso de combustíveis fósseis

A missão do novo grupo de cientistas será preencher essa lacuna e apontar o caminho para zerar o uso dos combustíveis fósseis

Redação Jornal de Brasília

21/11/2025 8h44

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Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

GABRIEL GAMA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Enquanto o mundo aguarda para descobrir se a COP30 será capaz de entregar um mapa do caminho para o fim do uso dos combustíveis fósseis, os principais causadores das mudanças climáticas, a criação de um painel científico internacional promete fortalecer essa discussão nos próximos anos.

A ciência é clara: os países precisam reduzir as emissões dos gases de efeito estufa em 40% até 2030, em relação ao nível de 2019, para conter o aquecimento global a 1,5°C até o final do século, o limite considerado mais seguro. Falta, porém, indicar como chegar lá. A missão do novo grupo de cientistas será preencher essa lacuna e apontar o caminho para zerar o uso dos combustíveis fósseis.

A provocação para fundar o painel veio da diretora-executiva da COP30, Ana Toni, de acordo com o cientista Carlos Nobre. Ele afirma que a ideia é escalar ao menos cem pesquisadores de todo o mundo para produzir relatórios sobre como apressar a descarbonização. A primeira entrega está prevista para a conferência de clima das Nações Unidas de 2026, a COP31, que acontecerá na Turquia.

“Assim como o Painel Científico para a Amazônia, que começou em 2020, o Painel Científico para Transição Energética e Zerar Combustíveis Fósseis vai apresentar a cada COP todo o progresso que tem que ser feito”, diz Nobre, que é co-presidente do time que estuda a floresta tropical.

A composição exata do novo grupo de cientistas ainda não está definida e os convites devem acontecer em breve. A proposta será agregar as evidências disponíveis sobre o tema, nos moldes do IPCC, o painel intergovernamental da ONU sobre mudanças climáticas.

“O painel fará toda uma análise do que a ciência já está mostrando, quão rápida pode ser a transição energética e, lógico, o caminho para zerar rapidamente os combustíveis fósseis. A ideia é fazer um sumário do que a ciência diz e depois produzir um relatório com um conjunto de recomendações para a implementação de soluções”, explica Nobre.

Para o cientista, os maiores entraves ao avanço da transição energética são de ordem financeira e de escala. As nações em desenvolvimento cobram mais financiamento climático e dizem que os recursos são indispensáveis para tornar a transição energética viável.

“O país que mais faz painel solar é a China, mas usam energia de combustíveis fósseis para produzir esses produtos. Então, tem que acelerar muito a eletricidade por energias renováveis”, exemplifica. “O Brasil pode rapidamente zerar os combustíveis fósseis, e aí seria um país muito bom para industrializar a transição para energias renováveis. O Brasil poderia ser um grande produtor de painéis solares e de aerogeradores de turbinas eólicas.”

Nobre se reuniu com o presidente Lula (PT) na última quinta-feira (19), em Belém, e apresentou a proposta do painel científico, além de ter entregue uma carta assinada por cientistas com críticas ao andamento das negociações da COP30.

Questionado sobre a ideia de um fundo nacional para a transição energética com recursos dos combustíveis fósseis, defendida por Lula, Nobre reafirma que a meta deve ser eliminar o uso das fontes poluentes.

“A mensagem não é de que os combustíveis fósseis são importantes para fazer a transição energética, nenhum de nós da ciência coloca esse ponto”, diz. “Vamos torcer para que o presidente Lula tenha prestado atenção no que a ciência toda está colocando, que temos de zerar rapidamente os combustíveis fósseis.”

O cientista afirma que a COP30 precisa entregar os mapas do caminho para o fim do desmatamento e do uso de combustíveis fósseis e avalia que os documentos precisarão ir além dos compromissos já firmados.

A proposta do roteiro para eliminar a degradação das florestas está mais encaminhada, e o grande impasse permanece no debate sobre as fontes de energia, segundo ele.

“Se esse mapa do caminho para combustíveis fósseis não mudar nada do que os países se comprometeram nas últimas COPs, será muito grave”, diz.

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