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ONU teme por civis de Gaza com anunciada ofensiva de Israel em Rafah

Rafah é o único acesso para a ajuda humanitária, que continua sendo “completamente insuficiente” para o território palestino, insistiu Guterres

Redação Jornal de Brasília

26/02/2024 10h06

Foto: Mahmud Hams / AFP

O secretário-geral da ONU alertou, nesta segunda-feira (26), que a anunciada ofensiva militar de Israel em Rafah, sul da Faixa de Gaza, seria a “sentença de morte” para os programas de ajuda humanitária no território palestino, pouco depois do anúncio de um plano do Exército israelense para a “saída” dos civis.

“Uma ofensiva israelense total sobre a cidade não seria apenas aterrorizante para mais de um milhão de civis palestinos refugiados lá; isto colocaria o último prego no caixão dos nossos programas de ajuda”, advertiu António Guterres na abertura da 55ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra.

Rafah, no extremo sul da Faixa, perto da fronteira fechada com o Egito, é o único acesso para a ajuda humanitária, que continua sendo “completamente insuficiente” para o território palestino, insistiu Guterres.

Grande parte da comunidade internacional, incluindo Estados Unidos, principal aliado de Israel, tenta dissuadir o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de entrar em Rafah, onde estão aglomerados 1,5 milhão de palestinos, quase todos deslocados.

Mas o chefe de Governo israelense defende a operação terrestre contra o que, para ele, é o “último reduto” do movimento islamista.

“Tem que ser feito porque a vitória total é nosso objetivo e a vitória total está ao nosso alcance”, afirmou Netanyahu no domingo em uma entrevista ao canal de televisão americano CBS.

“Espaço” no norte de Rafah

O Exército israelense apresentou nesta segunda-feira um “plano para retirar os civis das áreas de combate na Faixa de Gaza, em conjunto com um plano operacional”, informou o gabinete de Netanyahu.

Nenhum detalhe da retirada foi revelado, mas Netanyahu declarou no domingo à CBS que há “espaço” para os civis “no norte de Rafah, nas áreas onde terminamos os combates”.

Mas estas áreas prosseguem sob bombardeios israelenses. Um correspondente da AFP relatou vários ataques noturnos em Rafah, Khan Yunis, que fica poucos quilômetros ao norte de Rafah, e Zeitun, no norte do território.

O Ministério da Saúde do Hamas, que governa Gaza desde 2007, anunciou que 92 palestinos morreram nos bombardeios.

A guerra começou em 7 de outubro, quando milicianos islamistas assassinaram 1.160 pessoas, a maioria civis, no sul de Israel, segundo um balanço da AFP baseado em números divulgados pelas autoridades israelenses. Também sequestraram 250 pessoas, das quais 130 continuam em cativeiro.

Israel prometeu “aniquilar” o Hamas e iniciou uma campanha militar contra a Faixa de Gaza que deixou 29.782 mortos, a maioria mulheres e menores de idade, segundo o Ministério da Saúde do movimento islamista.

Na Cisjordânia ocupada, onde a violência aumento de maneira expressiva desde 7 de outubro, o governo da Autoridade Palestina apresentou sua renúncia ao presidente Mahmud Abbas, criticado por sua “impotência” diante dos bombardeios israelenses na Faixa e o agravamento da situação no território que controla.

Evitar a fome

A situação na Faixa de Gaza piora a cada dia e 2,2 milhões de pessoas, a grande maioria da população, enfrenta uma “fome em larga escala”, segundo a ONU.

Os bombardeios não param e a ajuda humanitária entra a conta-gotas pelo posto de Rafah, onde depende da aprovação de Israel, que impôs um cerco total ao território.

O gabinete de Netanyahu anunciou que o Exército aprovou um plano de ajuda “que evitará os saques”.

Vários palestinos disseram à AFP que foram obrigados a comer folhas e ração animal para sobreviver, já que os poucos comboios que conseguem chegar ao norte são saqueados pela população.

“Vamos morrer de fome”, disse Abdullah al Aqra, 40 anos, refugiado no oeste da cidade de Gaza, depois de fugir Beit Lahia, ao norte.

“Contornos” de um acordo

No campo diplomático, representantes de Egito, Catar, Estados Unidos e Israel, além do Hamas, retomaram no domingo, em Doha, negociações para uma trégua, que serão sucedidas por “reuniões no Cairo”, segundo o canal de notícias AlQahera News, próximo aos serviços de inteligência egípcios.

O conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, afirmou que os representantes de Israel, Estados Unidos, Egito e Catar, que se reuniram em Paris, “chegaram a um entendimento” sobre “quais deveriam ser os contornos básicos de um acordo sobre reféns para um cessar-fogo temporário”.

De acordo com uma fonte do Hamas, classificado como “terrorista” por Estados Unidos, Israel e União Europeia, o plano inclui uma trégua de seis semanas e uma troca de 200 a 300 prisioneiros palestinos por 35 a 40 reféns, assim como a entrada de grande quantidade de ajuda humanitária.

A guerra também aumentou a tensão na fronteira entre Israel e Líbano, cenário de trocas de disparos diárias entre o Exército israelense e o movimento pró-Irã Hezbollah, aliado do Hamas. Nesta segunda-feira, as tropas de Israel bombardearam alvos do grupo xiita no leste do país, muito distante da fronteira.

 

© Agence France-Presse

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