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O que você fazia na manhã de 11 de setembro de 2001?

Brasilienses contam como reagiram aos atentados terroristas às torres gêmeas em Nova York, que amanhã completam 20 anos

Vítor Mendonça

10/09/2021 7h17

No início da manhã de 11 de setembro de 2001, em mais um dia comum na vida agitada da cidade de Nova Iorque, um grande e grave atentado toma conta dos noticiários internacionais ao redor do globo. Às 8h46, um avião comercial colidiu de maneira intencional contra a Torre Norte do World Trade Center. 18 minutos depois, porém, outra aeronave se chocou contra a Torre Sul do complexo de prédios do local, deixando o mundo perplexo com tamanha destruição. Uma nuvem densa de cinzas se espalhou no céu. Era um claro recado aos Estados Unidos da América (EUA) pela força terrorista da Al-Qaeda: estamos aqui.

O dia conhecido como aquele em que a Terra parou completa, amanhã, 20 anos. Desde o atentado às Torres Gêmeas do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, o tempo no mundo tem acelerado, com desdobramentos políticos, sociais e produção de conhecimento científico de segurança nacional que reverberam até a atualidade. O evento mais recente é a retomada do Afeganistão pelo grupo terrorista Taleban em agosto deste ano.

Naquele 11 de setembro de 2001, 19 terroristas jihadistas associados ao grupo fundamentalista da Al-Qaeda embarcaram em quatro aviões comerciais diferentes nos aeroportos de Boston, Washington e Newark, em Nova Jersey. As aeronaves que atingiram o coração de Nova Iorque saíram de Boston às 7h59 e às 8h14 — a primeira em direção à Torre Norte e a segunda em direção à Torre Sul. Os voos estavam programados para a cidade de Los Angeles.

Às 9h37, o terceiro avião atingiu o Pentágono, base do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, na região da Virginia, estado que abriga a capital Washington DC. Dentro da última aeronave, uma tentativa dos passageiros e tripulantes do voo em retomar o controle da cabine foi forçada, mas, sem sucesso, o avião caiu em um campo na Pensilvânia, às 10h03 daquela terça-feira.

Não houve sobreviventes em nenhum dos voos tomados pelos fundamentalistas islâmicos. Foram 2.977 vidas de 90 nações diferentes perdidas, além dos 19 jihadistas do grupo terrorista, totalizando 2.996 mortes, que aconteceram tanto pelos impactos quanto pelas intoxicações geradas pelas explosões. Os ataques também causaram a morte de 441 primeiros socorristas, configurando a maior baixa de servidores desta atividade em um único dia na história dos EUA.

Cerca de duas horas depois dos ataques às Torres Gêmeas, os prédios desabaram, desencadeando a destruição de outro edifício — desta vez, o chamado World Trade Center 7, que foi completamente incendiado. As chamas comprometeram a integridade do prédio e às 17h21 a estrutura também cedeu ao chão.

Guerra ao Terror

Em resposta aos ataques do 11 de setembro, os Estados Unidos iniciaram a chamada “Guerra ao Terror”, tendo como primeira atitude a invasão do Afeganistão e a retirada do grupo fundamentalista Taleban do governo, que abrigou a Al-Qaeda à época.

A Al-Qaeda é um grupo terrorista responsável por múltiplos ataques terroristas desde a sua fundação, em 1988, pelo líder Osama bin Laden e outros fundamentalistas que estavam envolvidos na guerra contra a União Soviética no Afeganistão. Com menor força após a morte do principal fundador, em 2011, o grupo está concentrado na região do Oriente Médio.

Memorial homenageia as vítimas

Memorial em homenagem as vítimas do WTC. Foto: Lindauro Gomes/ Jornal de Brasília

Em homenagem às vítimas do atentado, foi criado o Memorial e Museu 9/11, localizado em Nova Iorque, onde antes estavam os prédios das Torres Gêmeas. Os nomes das vítimas foram grafados em mármores pretos juntados, formando dois grandes quadrados, dando vista para quatro pequenas quedas d’água no interior de cada uma das arestas.

A organização sem fins lucrativos que administra o local se compromete a juntar recursos para fomentar estudos de alunos e professores, além de dar suporte aos familiares que perderam parentes no atentado.
Tributo de Luzes

Amanhã, como acontece em todos os anos, está marcada uma cerimônia em homenagem às vítimas do ato terrorista. Serão lidos os nomes das vidas perdidas por representantes das famílias no local e haverá seis momentos de silêncio em respeito e luto. A cerimônia será exclusiva para os familiares. No pôr do sol, será feito o “Tributo de Luzes” anual, que irá iluminar o céu da cidade de Nova Iorque pela vigésima vez.

Al-Qaeda e a expansão do terrorismo

De acordo com o professor de Relações Internacionais no Centro Universitário de Brasília (UniCeub), Danilo Porfírio de Castro Vieira (foto), especialista em Terrorismo Contemporâneo, para entender os acontecimentos do 11 de setembro de 2001 é preciso voltar ao século XX. O atentado representou uma mudança quanto às composições de terrorismo, anteriormente restritas à localidade e à territorialidade.

Na dinâmica da Al-Qaeda há um novo modelo de rebelião contra um poder específico, de caráter político-ideológico com uso de força — chamada de redes mundiais de terrorismo, com recrutamentos de combatentes e militantes feito por líderes terroristas para além da regionalidade.

A inovação da Al Qaeda

A Al-Qaeda, que significa “a rede”, foi o primeiro grupo que passou a coagir mais adeptos à sua causa por meio da internet, expandindo o poder de alcance das ideologias extremistas, que traziam de volta o conceito de Jihadismo, que significa a “guerra santa”, contra o grande Satã — e os Estados Unidos representam o inimigo neste contexto. O líder da organização, Osama bin Laden, passou a cooptar muçulmanos que não se sentiam acolhidos onde estavam. Mais tarde, a estratégia de coação de mais adeptos passou a ser adotada também pelo Estado Islâmico do Iraque e Síria (ISIS), que se autodenominou califado em 2014 e durou até 2017.

“Na perspectiva do mundo islâmico, vamos ser apresentados ao que chamo de Jihadismo Contemporâneo, que é a fundamentação da insurgência. No Jihadismo, a luta do bem contra o mal é um conflito cósmico e atemporal. Temos que entender que, com a presença imperial ocidental [representada pelos EUA] em terras da comunidade islâmica [devido à ajuda para retirar a União Soviética do território Afegão na Guerra do Afeganistão, entre 1979 e 1989], esses conflitos cósmicos são materializados — o mal é materializado”, explicou Danilo. “E, na visão jihadista, o Islã precisa se levantar e lutar. “Contra o mal, no Jihadismo, não há perspectiva de eticidade [contra o inimigo] — não há boa conduta ou parâmetro limitado de ação de violência contra o inimigo. É uma luta contra um mal cósmico [além da Terra], uma luta contra Shaytan [Satã]. Esse pensamento Jihadista é retomado pelo Al-Qaeda no final do século XX e início do século XXI”, disse o especialista.

Dessa forma, o inimigo visto pelos Estados Unidos após o 11 de setembro não é mais o tradicional, restrito a espaços territoriais. “Talvez essa seja a grande questão que podemos levantar quanto o combate ao terror. Essa tal guerra ao terror não é guerra contra um Estado, não é guerra contra uma instituição ou em territórios. É uma guerra contra um inimigo difuso, não associado a um local. Depois dos atentados, fomos apresentados, da pior maneira, à sociedade de risco. Até então era uma coisa teórica e difusa. Agora as liberdades são trocadas por eterna vigilância, por controle em nome da estabilidade, da segurança. No que se refere a uma estrutura plural de Estado de direito, nós tivemos um retrocesso”, analisou.

Em outro aspecto, também é observado um processo de intensificação de hostilidade ao Islã no mundo ocidental, colocando a comunidade islâmica “em uma só régua”, conforme pondera o professor. “Nunca os anos de 2001 para frente tiveram tanto a cara de 1901 e assim por diante”, referindo-se aos preconceitos muito presentes no século passado. “Se não insistirmos nesse alerta, meu medo é que o muçulmano no século XXI seja o judeu do século XX, vítima de hostilidades e discriminações”, completou. (Vítor Mendonça).

O que os leitores do jbr estavam fazendo no dia 11 de setembro de 2001?

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