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Multidão se reúne em Teerã para homenagear general Soleimani

O líder supremo e os outros dirigentes presentes deixaram o local rapidamente, antes de os caixões dos “mártires” abrirem caminho entre a multidão

Redação Jornal de Brasília

06/01/2020 10h23

Iranian mourners take part in a funeral procession in Enghelab square in the capital Tehran on January 6, 2020, for slain military commander Qasem Soleimani, Iraqi paramilitary chief Abu Mahdi al-Muhandis, and other victims of a US attack. – Downtown Tehran was brought to a standstill as mourners flooded the Iranian capital to pay an emotional homage to Soleimani, the “heroic” general who spearheaded Iran’s Middle East operations as commander of the Revolutionary Guards’ Quds Force and was killed in a US drone strike on January 3 near Baghdad airport. (Photo by ATTA KENARE / AFP)

Uma multidão estava reunida nas ruas de Teerã nesta segunda-feira (6) para acompanhar as cerimônias em homenagem ao chefe militar Qassem Soleimani, morto na última sexta-feira no ataque de um drone americano em Bagdá, no Iraque.

Carregando cartazes com o retrato de Soleimani, o general mais admirado do Irã, as pessoas se reuniram nos arredores da Universidade de Teerã, onde o líder supremo preside as cerimônias e orações pelo general.

Cercado do presidente iraniano, Hassan Rohani, do presidente do Parlamento Ali Larijani, do chefe da Revolução, general Hossein Salami, e do chefe da Autoridade judicial Ebrahim Raisi, o aiatolá Ali Khamenei fez uma oração em árabe pouco depois das 9h30 (3h no horário de Brasília), antes de deixar o local.

A morte do arquiteto da política expansionista iraniana no Oriente Médio como chefe da força Al-Quds dos Guardiães da Revolução provocou um recrudescimento das tensões entre Teerã e Washington.

Em um fria e ensolarada manhã, uma maré humana invadiu as avenidas Enghelab (“Revolução”, em persa), Azadi (“Liberdade”) e seu entorno, com bandeiras vermelhas (a cor do sangue dos “mártires”), ou iranianas, mas também libanesas e iraquianas.

Visivelmente emocionado, o aiatolá Khamenei pronunciou uma breve oração em árabe diante dos caixões do general Soleimani, do iraquiano Abu Mehdi al-Muhandis (número dois da coalizão paramilitar pró-iraniana Hashd al-Shaabi) e de outros quatro iranianos mortos no mesmo ataque.

O líder supremo e os outros dirigentes presentes deixaram o local rapidamente, antes de os caixões dos “mártires” abrirem caminho entre a multidão.

Como aconteceu no domingo, na cidade de Mashhad (nordeste), vários Guardiães da Revolução que estavam no caminhão à frente do cortejo fúnebre lançavam para a multidão kufiyas, blusas e outros objetos para dar a proteção dos “mártires” a quem os levasse.

– “Fazer EUA e Israel” –

“Foi um herói. Venceu o Daesh (acrônimo do grupo Estado Islâmico em árabe)”, disse uma mulher à AFP, referindo-se ao compromisso do Irã contra o extremismo sunita no Irã e na Síria.

“O que Estados Unidos fizeram (ao matá-lo) é, sem dúvida, um crime”, acrescentou.

“Esta é nossa mensagem para os Estados Unidos: vamos atingi-los, vamos fazê-los pagar pelo sangue vertido por sua culpa”, disse Mehdi Ghorbani, que foi ao cortejo com mulher e filho.

Desde cedo, momentos de profundo silêncio se misturaram c om elegias interpretadas por famosos cantores religiosos, alternando com explosões de raiva, aos gritos de “Morte aos Estados Unidos”.

Foi assim quando a filha de Soleimani, Zeinab, declarou que “o martírio de (seu) pai levará a um auge de resistência e fará Estados Unidos e Israel tremerem”.

Presente em Teerã, o chefe do escritório político do Hamas palestino, Ismail Haniyeh, também causou furor na multidão.

Um homem levava um cartaz com a hashtag “#hard_revenge” (#dura_vingança, em tradução livre do inglês), e outros tinham mensagens em inglês para pedir a revanche pela morte de Soleimani. Também se ouvia “Morte aos Saúds” (a dinastia que reina na Arábia Saudita) e “Morte aos infiéis”.

– Milhões de pessoas nas ruas –

A televisão estatal falou de “vários milhões” de pessoas nas ruas e anunciou uma “ressurreição sem precedentes da capital iraniana”.

O frenesi causado pela chegada dos restos mortais do general Soleimani a Mashhad, ontem, obrigou as autoridades a anularem uma concentração prevista para acontecer à noite na capital.

Desde o assassinato do carismático militar, o mundo teme uma escalada da tensão no Oriente Médio.

Teerã prometeu uma resposta “militar”, uma “dura vingança” que atingirá “o lugar certo na hora certa”.

Embora a comunidade internacional tenha feito inúmeros apelos pela “desescalada”, “prudência” e “moderação”, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, parece ignorá-los.

No domingo à noite, Trump reiterou que, se o Irã “fizer algo, haverá grandes represálias”.

Trump também ameaçou impor sanções “muito fortes” contra o Iraque, depois que o Parlamento iraquiano votou uma resolução pedindo a retirada das tropas americanas em seu território. Já o Irã celebrou a decisão dos deputados.

Assim como havia acontecido na véspera, na noite de domingo, vários foguetes caíram perto da embaixada americana na ultraprotegida Zona Verde de Bagdá. Segundo testemunhas, não houve vítimas.

Neste contexto delicado, o Irã anunciou no domingo a “quinta e última fase” de seu plano de redução de compromissos em matéria nuclear. Informou ainda que vai se desligar de atender à obrigatoriedade de qualquer limite “ao número de suas centrífugas” de urânio.

Este plano é uma resposta à retirada unilateral dos Estados Unidos, em maio de 2018, do acordo internacional sobre o programa nuclear, firmado em 2015, e ao restabelecimento das sanções econômicas contra Teerã.

Agence France-Presse

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