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Modelo do Iêmen presa por ‘atos indecentes’ tenta suicídio na prisão

Intisar foi “transferida para um hospital dentro da prisão central de Sanaa, onde está sendo mantida após ter tentado suicídio”

Redação Jornal de Brasília

02/07/2021 13h07

Foto: Reprodução/Facebook/AFP

Flávia Mantovani
FolhaPress


A modelo e atriz iemenita Intisar al-Hammadi, 20, presa desde fevereiro acusada de “atos indecentes” por autoridades do grupo rebelde houthi –que controla o norte do país–, tentou suicídio em sua cela e está hospitalizada em condição crítica. ONGs internacionais de direitos humanos têm denunciado que sua detenção foi arbitrária e que ela vem sofrendo abusos físicos e psicológicos desde então.

Segundo o Centro do Golfo para Direitos Humanos (GCHR, na sigla em inglês), nesta segunda-feira (28) Intisar foi “transferida para um hospital dentro da prisão central de Sanaa, onde está sendo mantida após ter tentado suicídio”.

Em um comunicado, o grupo, que fica baseado no Líbano, disse que “fontes confiáveis” confirmaram que ela tentou suicídio após saber que seria transferida para a “ala da prostituição” da prisão. “Isso levou a uma deterioração de seu estado psicológico”, diz a organização.

O comunicado traz informação apurada por repórteres locais de que uma criança que está na penitenciária junto com a mãe presa percebeu que a modelo estava passando mal após ter tentado se enforcar e avisou aos demais. De acordo com o texto, ela foi resgatada com vida, mas está em condição crítica.

Segundo a organização Anistia Internacional, Intisar, que postava fotos nas redes sociais sem o véu islâmico, está sendo punida por “desafiar as normas da sociedade profundamente patriarcal” do Iêmen.

As autoridades houthis não divulgaram nenhuma informação sobre o caso.

A ONG Human Rights Watch (HRW), o caso está cheio de irregularidades e abusos, e ela teria sido obrigada a assinar um documento de confissão estando vendada, sofrido agressões físicas e verbais, além da ameaça de ser submetida a um “teste de virgindade forçado”.

Enquanto os rebeldes houthis dominam o norte do país, o sul é controlado por separatistas. As forças aliadas do governo tentam reconquistar o território nacional com a ajuda de uma coalizão militar liderada pela Arábia Saudita.

Filha de pai iemenita e mãe etíope, Intisar trabalhou como modelo por quatro anos e atuou em duas séries de TV do Iêmen em 2020. Seus parentes disseram à HRW que ela sustentava sozinha a família de quatro pessoas, incluindo seu pai, que é cego, e seu irmão, que tem deficiência física.

Khaled Al-Kamal, advogado de Intisar, afirmou que no dia 20 de fevereiro o carro dela foi parado pela polícia, e ela, presa junto com as outras três pessoas que estavam no veículo. A modelo foi levada a um prédio de investigações criminais, no qual ficou por dez dias sem acesso ao mundo exterior e sem que seus familiares tivessem nenhuma notícia. Em março, foi transferida para a prisão central de Sanaa.

A pessoas que a visitaram na penitenciária disse ter sido forçada a assinar uma confissão de prostituição e posse de drogas enquanto estava vendada no interrogatório e que autoridades prometeram libertá-la caso ajudasse a capturar inimigos seduzindo-os com “sexo, álcool e drogas”, o que ela recusou.

Segundo o advogado, Intisar foi presa por estar no carro com um homem acusado de tráfico de drogas. Ele afirma ainda que o telefone dela foi confiscado e que suas fotos como modelo foram tratadas como um ato indecente.
A modelo foi a audiências judiciais nos dias 6 e 9 de junho, mas seu advogado foi proibido de trabalhar no tribunal da cidade, o que na prática o impede de representar sua cliente.

Al-Kamal disse ter sido ameaçado por um homem armado, apoiador dos houthis, que afirmou que ele e sua família pagariam um preço se ele não deixasse de representar Intisar. As autoridades desistiram do “teste de virgindade” após a Anistia Internacional lançar um documento condenando a questão.

Uma campanha virtual usa as hashtags #FreeIntisar e #FreeEntisar para pedir a libertação da modelo.
A porta-voz da HRW para a região, Lynn Maalouf, afirmou que as autoridades houthis têm histórico de prender e torturar pessoas sem base legal, para punir críticos, jornalistas, ativistas e minorias religiosas. A ONG pediu explicações ao governo controlado pelos houthis, mas não recebeu resposta.

Segundo reportagem de 2020 da agência de notícias Associated Press, está crescendo a repressão dos houthis às mulheres, com desaparecimentos e tortura de detidas. A modelo seria apenas uma das muitas iemenitas presas de forma arbitrária. O advogado de Intisar disse que há outras cinco mulheres presas no mesmo lugar, acusadas de “crimes” relacionados a “atos indecentes”.

As informações são da FolhaPress

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