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Milhares de drusos vão entrar na Síria se massacre não parar, diz diplomata

“Se sentirmos que, em alguns dias, esses massacres continuam, vamos ver milhares de drusos de Israel e do Líbano entrando na Síria. Isso já aconteceu antes, é parte da história drusa”, afirmou Mansour, em sua cidade natal de Isfiya, no norte de Israel, uma das poucas comunidades de maioria drusa do país

Redação Jornal de Brasília

17/07/2025 15h48

síria

Foto: Omar Haj Kadour/AFP

GUILHERME BOTACINI
ISFIYA, ISRAEL (FOLHAPRESS)

Milhares de drusos no Líbano e em Israel estão preparados para entrar na Síria de novo caso ataques à minoria religiosa no sul da nação árabe continuem, segundo Reda Mansour, embaixador de Israel no Brasil de 2014 a 2016 e o primeiro druso diplomata de carreira da história do país.

“Se sentirmos que, em alguns dias, esses massacres continuam, vamos ver milhares de drusos de Israel e do Líbano entrando na Síria. Isso já aconteceu antes, é parte da história drusa”, afirmou Mansour, em sua cidade natal de Isfiya, no norte de Israel, uma das poucas comunidades de maioria drusa do país.

Ele se refere a momentos como a guerra entre Israel e Líbano em 1982, quando drusos israelenses invadiram o Líbano para proteger comunidades atacadas, e a 1936, quando, durante conflito entre judeus e árabes, drusos de Sweida, na Síria, entraram no então mandato britânico na Palestina, atualmente Israel, para defender suas comunidades ali.

É justamente em Sweida, onde vivem cerca de 700 mil drusos, que uma série de ataques de beduínos e confrontos subsequentes deixaram um número incerto de mortos -a ONG, com sede no Reino Unido, Observatório Sírio para os Direitos Humanos, contabiliza ao menos 516 mortes, entre drusos, beduínos e forças de segurança de Damasco.

Nesta quarta-feira (16), cerca de mil drusos israelenses cruzaram a fronteira com a Síria com o intuito de auxiliar a comunidade drusa no país vizinho e para, segundo Mansour, provocar reações do governo de Israel.

Lideranças drusas acusam o regime de Ahmed al-Sharaa de estimular e participar dos ataques, uma ofensiva que a minoria religiosa vê como ações de caráter genocida semelhantes ao que ocorreu com os alauítas na costa síria, em março.

O ataque de Israel a Damasco nesta quarta adicionou um tempero novo ao caldeirão da região. Tel Aviv atingiu os arredores do palácio presidencial e o Ministério da Defesa. Nesta quinta, Sharaa anunciou a retirada das forças governamentais de Sweida para evitar uma guerra aberta com Israel. Ele também acusou Tel Aviv de tentar fragmentar seu país.

Os drusos não possuem um Estado próprio e não têm essa pretensão. Há aldeias nas Colinas de Golã ocupadas; na região do monte Carmelo, no norte de Israel, onde fica Isfiya; em partes do Líbano; e no sul da Síria. São cerca de 700 mil drusos na Síria, 250 mil no Líbano e 140 mil em Israel, de acordo com Mansour.

Reconhecidas pela lealdade ao Estado em que habitam, comunidades drusas vivem um dilema inerente a sua forma de ser no Oriente Médio: integram os Exércitos dos três países e, dado o histórico violento dos vizinhos, eventualmente lutam entre si.

“Há por um lado a cultura de um druso primeiramente ser patriota, ou seja, israelenses lutam por Israel, libaneses, pelo Líbano, e passamos por algumas guerras em que drusos israelenses descobrem que há mortos de sua própria família do outro lado”, diz Mansour.

“Por outro lado, a primeira coisa que fazemos é ajudar nossa comunidade se não há conflito entre os países. Mas isso em si é um conflito enorme: hoje estamos ajudando os drusos da Síria sabendo que, talvez em dez anos, se eles entrarem para as suas Forças Armadas, pode haver uma guerra entre Israel e Síria, e os drusos dos dois lados vão lutar uns contra os outros. A história drusa é uma tragédia, mas essa é a realidade da nossa região”, afirma o diplomata.

A ofensiva de Tel Aviv, na visão de Mansour, passa o recado ao regime de Sharaa de que Israel tem interesses estratégicos na comunidade drusa, como o combate ao jihadismo na fronteira.

Além disso, cria um dilema para os drusos sírios, segundo o diplomata. “A única força que está ajudando os drusos da Síria é Israel. Não são os EUA, a Europa, algum país árabe. É um tema novo para os drusos da Síria, que talvez no futuro se lembrem disso.”

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