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Milei ignora crises na campanha e tenta mostrar otimismo às vésperas de eleição

Redação Jornal de Brasília

24/10/2025 7h13

Foto: TOMAS CUESTA/AFP

Foto: TOMAS CUESTA/AFP

DOUGLAS GAVRAS
ROSÁRIO, ARGENTINA (FOLHAPRESS)

Os analistas políticos locais costumam dizer que, nas curvas, Javier Milei escolhe acelerar. Nos últimos dias antes das eleições que renovam parte do Congresso, no próximo domingo (26), e em meio a uma sequência de crises, ele prometeu que irá mudar a Argentina.


O presidente escolheu encerrar oficialmente nesta quinta-feira (23) a campanha de A Liberdade Avança com um comício em Rosário, de olho nas pesquisas que mostram uma disputa de votos com a força local, representada pelo governador Maximiliano Pullaro. Ele já havia passado por Córdoba dois dias antes, onde também trava uma luta com o ex-governador Juan Schiaretti.


Após ficar 13 pontos atrás dos peronistas nas legislativas da província de Buenos Aires, em 7 de setembro, Milei não teve um outubro fácil. Ter recebido dinheiro de um empresário investigado por narcotráfico nos Estados Unidos derrubou o principal candidato governista em Buenos Aires; o país precisou pedir socorro do Tesouro americano para evitar uma crise cambial.


A cidade de Rosário também não foi escolhida por acaso, ela é parte do discurso mileísta mesmo fora de Santa Fé. A ministra de Segurança Pública, Patricia Bullrich, tenta ser senadora pela cidade de Buenos Aires e argumenta que suas políticas de combate ao narcotráfico reduziram os homicídios na cidade portuária que já foi um símbolo de insegurança na Argentina.


“Pullaro, ladrão; Pullaro, casta”, gritavam os militantes libertários ao escutar o presidente no parque que fica à beira do rio Paraná. Semanas antes, ao recriar o Ministério do Interior, o governo tentava atrair o grupo de governadores do qual Pullaro faz parte para aumentar seu trânsito no Congresso.


Milei ganhou do peronista Sergio Massa na província de Santa Fé nas eleições presidenciais de 2023. Para as legislativas deste ano, duas pesquisas feitas nos dias 14 e 15 de outubro colocam o grupo do governador, chamado de Províncias Unidas, como a força com mais intenções de voto em Santa Fé.


De acordo com as consultorias In.fluencia e Innova, a vice-governadora Gisela Scaglia venceria na capital provincial, seguida por Fuerza Patria. Em Rosário, a peronista Caren Tepp aparece no topo. A Liberdade Avança é rebaixada para o terceiro lugar em ambas as cidades.


Milei tentou tranquilizar a militância e evitou comentar as baixas em seu gabinete na semana que precede as eleições –a do chanceler Gerardo Werthein e Mariano Cúneo Libarona, da Justiça.


“A Argentina está trilhando um caminho diferente, que é o caminho das ideias de liberdade. Vivemos com problemas nos últimos 40 anos. Suportamos inflação, pobreza e insegurança. Problemas que até pouco tempo pareciam eternos e que não tinham solução”, disse o presidente no palco, no início de seu discurso.


E acrescentou: “Quase dois anos atrás, quando tivemos que assumir o cargo, prometi a mim mesmo que, mesmo que fosse difícil, enfrentaria as raízes dos problemas e é por isso que fiz isso de costas para o Congresso, porque tivemos que fazer uma curva de 180 graus e conseguimos.”


“Quando a máquina estava a todo vapor, eles começaram a ligar a máquina impeditiva. Apesar disso e de um Congresso destituído que atacou o programa do governo, hoje chegamos às eleições de pé e a partir de domingo a Argentina vai mudar do zero”, disse ele.


“A casta não pode ver o governo dando certo que começa a destruir tudo, o povo argentino acordou e não aceita mais ser enganado pelos velhos políticos de sempre”, diz o entregador de aplicativos e estudante de administração Rogerio Martinez, 25, na porta do evento de Milei.


Para evitar cenas como a de Lomas de Zamora, quando uma carreata com o presidente foi recebida a pedradas e verduras podres às vésperas das eleições legislativas locais na província de Buenos Aires, o esquema de segurança foi reforçado em Rosário. Para entrar, era preciso contornar o calçadão entre o parque de Espanha e o rio, passar por policiais e agentes de segurança da Presidência e ser revistado.


Em seu giro pelas províncias para a campanha nacional, Milei teve de interromper ou abreviar eventos de rua e disse que a oposição armava emboscadas para que parecesse que ele não era querido pela população.


“Não gostamos mesmo dele aqui. Nunca vem ao interior, prefere passear nos Estados Unidos e ser chamado de morto de fome por Donald Trump. Agora, como estamos perto de outra eleição, ele lembra que a gente existe”, reclama o motorista de ônibus Adolfo Singer, 49, enquanto canta a marcha peronista para um grupo de agentes de segurança que não o deixam passar.

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