O presidente argentino, Javier Milei, denunciou no domingo (7) uma “perseguição judicial” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022), durante uma conferência de conservadores no sul do Brasil, onde também criticou outros governos de esquerda da América Latina.
“Vejam a perseguição judicial que nosso amigo Jair Bolsonaro sofre aqui no Brasil”, disse Milei diante dos aplausos de milhares de simpatizantes no fórum CPAC, em Balneário Camboriú, Santa Catarina.
Em sua primeira visita ao Brasil, o ultraliberal Milei ignorou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem tem trocado farpas, e ao invés disso se encontrou com Bolsonaro e os governadores dos estados de Santa Catarina, Jorginho Mello, e São Paulo, Tarcisio Freitas.
Em um longo discurso contra o “socialismo empobrecedor” na região, o chefe de Estado argentino atacou as “ditaduras assassinas” da Venezuela, Cuba e Nicarágua, e intensificou suas críticas ao governo da Bolívia por “montar um falso golpe de Estado”.
“O socialismo (…) necessariamente deriva em escravidão ou morte”, e quando os governos “resistem neste caminho… ou acabam sendo rejeitados pela sociedade ou acabam violando a liberdade e brincando com a vida de seus cidadãos para se preservarem no poder”, afirmou.
Mas “quero dizer-lhes que sopram os ventos da mudança no mundo”, acrescentou.
Liberdade de expressão
Milei também disse que a liberdade de expressão é “questionada nas principais potências do mundo” com a “desculpa de não ferir as sensibilidades ou respeitar minorias barulhentas que querem impor sua visão minoritária”. Ele disse que alguns países cometem “aberrações” para sufocá-la.
E citou o Brasil, onde os bolsonaristas denunciam com frequência uma suposta censura nas tentativas das instituições de combater a desinformação e o discurso de ódio nas redes sociais.
“São coisas que parecem distantes ou abstratas, mas cada um vê o que lamentavelmente começa a acontecer hoje aqui no Brasil e pensa duas vezes”, apontou.
O chefe de Estado defendeu suas políticas para liberalizar a economia argentina, aprovadas no mês passado pelo Congresso, e acusou a oposição de seguir “fazendo o impossível para boicotar” o seu governo.
O capítulo latino-americano da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), criada há 40 anos nos Estados Unidos, reuniu sábado e domingo os principais nomes do movimento conservador brasileiro e da América Latina.
Milhares de simpatizantes de Bolsonaro, incluindo representantes do setor agropecuário e ativistas antiaborto, compareceram ao evento, onde vinho e cerveja associados ao ex-presidente eram vendidos.
No meio da multidão também havia sósias de Bolsonaro e Milei, observou um repórter da AFP.
A conferência não acabou sem incidentes. A rede CNN Brasil denunciou em um comunicado que sua repórter Isadora Aires foi “hostilizada por manifestantes” no evento e teve que ser retirada pela segurança.
No sábado, o ex-presidente brasileiro foi aclamado como a única opção da direita, apesar de estar impedido de se candidatar nas eleições presidenciais de 2026 e enfrentar uma série de problemas judiciais.
“Apesar de a PF ter ido três vezes na minha casa – hoje já tenho 300 e poucos processos ainda -, vale a pena. A gente não vai recuar”, declarou Bolsonaro a um público eufórico.
Na semana passada, a Polícia Federal o indiciou em uma investigação sobre o suposto desvio de joias valiosas presenteadas pela Arábia Saudita.
Além disso, Bolsonaro ainda aguarda conclusões de uma investigação sobre a suposta falsificação de certificados de vacinação contra a covid-19.
E o ex-presidente é investigado pela invasão das sedes dos Três Poderes em Brasília em janeiro de 2023 por seus seguidores e por uma tentativa de golpe para se manter no poder.
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