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Meu filho ainda precisa se acostumar com a luz do dia, diz à Folha de S.Paulo pai de israelense libertado pelo Hamas

Argentino naturalizado israelense diz que filhos sofreram maus-tratos em túneis do Hamas e acusa Netanyahu de negligência na libertação dos sequestrados

Redação Jornal de Brasília

20/10/2025 17h31

Foto: Hostages and Missing Families Forum

Foto: Hostages and Missing Families Forum

DIOGO BERCITO
FOLHAPRESS

Itzik Horn passou os dois últimos anos tentando ter esperança. Era difícil. Seus dois filhos tinham sido sequestrados pelo grupo terrorista Hamas em 7 de outubro de 2023, e a ideia de que sobrevivessem era talvez absurda. “Eu sabia que eles não estavam na prisão, nas mãos da Justiça, e sim nas mãos de uma organização terrorista assassina”, diz à Folha por telefone.

O primeiro de seus filhos, Iair, foi solto em fevereiro. Faltava o segundo, e o pai se sentia partido ao meio. A espera terminou na semana passada, quando a facção palestina libertou os últimos 20 reféns dos 250 que havia sequestrado dois anos antes. Entre eles, estava Eitan, o outro filho de Horn.

“Eitan ainda está se reacostumando a ser livre”, conta Horn, que nasceu na Argentina e emigrou para Israel em 2000. “Coisas que são básicas para a gente são novas para ele, como decidir quando acordar, dormir, comer e ir ao banheiro”, afirma. “Passar dois anos em túneis mudou totalmente a sua vida. Até com a luz do dia meu filho precisa se acostumar.”

Eitan, 39, foi recebido em Kfar Saba, na região central do país, por centenas de vizinhos, assim como pelas câmeras de televisão. Nas imagens, apareceu coberto pela bandeira de Israel. O rapaz passou, desde então, por uma série de exames médicos e psicológicos, conta seu pai.

Por orientação das autoridades israelenses e das organizações que lutaram por sua soltura nos últimos dois anos, os reféns israelenses têm evitado falar à imprensa. Nem para as famílias eles dão detalhes. “Quase não falam sobre o que aconteceu”, Horn afirma. “A instrução que recebemos é não perguntar nada. Quando eles quiserem, vão nos contar.”

O pouco que dizem é estarrecedor. Eitan, por exemplo, perdeu metade do peso durante o cativeiro. Às vezes, era forçado a caminhar por horas nos túneis sob Gaza, segundo a família, sem ver a luz do sol.

Os parentes de Omri Miran, 48, por sua vez, contam que ele passou por 23 lugares diferentes nos últimos dois anos, entre túneis e esconderijos. Quando voltou para sua casa no kibbutz Nahal Oz, sua filha Alma não o reconheceu. Ela tinha seis meses de idade em 2023, no dia do sequestro.

Já os familiares do soldado Matan Angrest, 22, dizem que ele foi torturado a ponto de perder a consciência. Em determinado momento, foi soterrado pelas paredes do túnel, desmoronadas por um bombardeio israelense. A possibilidade de que os ataques de Tel Aviv matassem os reféns israelenses era uma das maiores preocupações das suas famílias.

Horn é bastante crítico em relação às autoridades israelenses que, na visão dele, fizeram pouco pela libertação de seus dois filhos. “O responsável pelo que aconteceu em 7 de outubro é Israel”, afirma. “O pacto social diz que o nosso governo tem a obrigação de cuidar da gente. Isso não aconteceu.”

Enquanto ataca Netanyahu, Horn elogia o presidente americano, Donald Trump, a quem considera o único responsável pelo retorno dos reféns. “A todos os demais que querem subir no palanque agora, isso não lhes corresponde. Se fosse pelo governo de Israel, essa guerra continuaria. Inclusive, seguem bombardeando a Faixa de Gaza.”

A demora em resgatar os reféns, em especial, é vista em Israel como um símbolo claro do fracasso do governo do premiê Binyamin Netanyahu. Nos últimos anos, houve frequentes manifestações nas ruas de Tel Aviv.

Além dos 20 reféns, o Hamas se comprometeu a devolver os corpos dos 28 israelenses sequestrados e mortos durante o conflito prolongado. A facção afirma ter dificuldade de encontrar todos os cadáveres por causa dos escombros de ataques de Tel Aviv.

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