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Macron descarta renúncia ‘seja qual for o resultado’ das legislativas antecipadas

“As instituições são claras e o lugar do presidente é claro, seja qual for o resultado”, disse Macron em uma entrevista publicada nesta terça

Redação Jornal de Brasília

11/06/2024 16h36

Foto: AFP

O presidente francês, Emmanuel Macron, não renunciará “seja qual for o resultado” das eleições legislativas que antecipou na França após a vitória nas eleições europeias da extrema direita, cuja ascensão ameaça agora implodir a direita tradicional.

“As instituições são claras e o lugar do presidente é claro, seja qual for o resultado”, disse Macron em uma entrevista publicada nesta terça-feira (11) pela Figaro Magazine, quando questionado sobre uma possível renúncia.

Apesar da antecipação inesperada das eleições legislativas inicialmente previstas para 2027, Macron pode continuar como presidente até lá, mas corre o risco de compartilhar o poder com um governo de uma ideologia política diferente em uma “coabitação”.

Perante as críticas, o líder de 48 anos acredita que foi a “decisão correta para o bem do país” e assumiu o papel de chefe da sua aliança centrista: “Saio para vencer”.

A cinco dias do prazo para a apresentação de candidatos, o tradicional partido de direita Os Republicanos (LR) mergulhou em uma crise profunda devido à proposta do seu presidente, Éric Ciotti, de chegar a um acordo com o Reagrupamento Nacional (RN) de extrema direita.

“Precisamos de uma aliança”, mas “sem deixar de ser nós mesmos”, disse Ciotti na rede TF1, garantindo que ambos os partidos compartilham “valores de direita” e que isso permitiria ao LR “manter deputados” face à queda projetada nas pesquisas.

A líder do RN, Marine Le Pen, saudou a “escolha corajosa” e o “senso de responsabilidade” de Ciotti, cuja proposta, se concretizada, poria fim ao tradicional isolamento do partido herdeiro da Frente Nacional (FN) de Jean-Marie Le Pen, conhecido por suas declarações racistas e antissemitas.

Isso gerou um terremoto político no partido outrora no poder com os presidentes conservadores Charles De Gaulle, Georges Pompidou, Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy, muitos dos quais já tinham se juntado às fileiras de Macron desde 2017.

Os seus principais líderes descartaram a proposta e pediram a renúncia de Ciotti, que rejeitou, enquanto o ministro da Economia, Bruno Le Maire, fez um apelo aos seus antigos colegas de partido para se juntarem à aliança centrista do presidente francês.

Macron chegou ao poder em 2017 vindo do centro, atraindo os insatisfeitos com a tradicional alternância entre socialistas e conservadores, e apresentando-se como a alternativa aos “extremos” que na sua opinião o RN e A França Insubmissa (esquerda radical) representam.

Apesar da deterioração da sua imagem, especialmente durante fortes protestos sociais, como os coletes amarelos ou contra a reforma da previdência, o partido no poder busca resgatar o seu espírito inicial.

Na quarta-feira, Macron convocou uma coletiva de imprensa para traçar o seu “caminho” para a França e aparecer como a opção moderada contra as “forças extremistas” em pleno “esclarecimento político”, indicou uma fonte próxima, referindo-se às negociações entre partidos.

As discussões parecem reforçar os três blocos surgidos das eleições presidenciais e legislativas de 2022: a aliança centrista de Macron, a extrema direita e a frente esquerdista Nupes, que acabou por se desintegrar devido a divergências entre as alas social-democrata e radical.

Socialistas, comunistas, ambientalistas e LFI concordaram em voltar a apresentar “candidaturas únicas” às eleições legislativas de 30 de junho e 7 de julho, e defenderam a construção de “uma nova frente popular” com forças “sindicais, associativas e cidadãs”.

O jornal Libération apelou nesta terça-feira na sua primeira página à “responsabilidade histórica” da esquerda “em impedir a ascensão da extrema direita ao poder”, possibilidade contra a qual milhares de pessoas protestaram na segunda-feira na França.

A vitória do RN com 31,37% dos votos nas eleições europeias também fez soar o alarme na Europa, especialmente quando historicamente Paris é um ator-chave na União Europeia e no apoio à Ucrânia contra a Rússia.

Segundo uma pesquisa da Harris Interactive, o partido de Le Pen melhoraria ligeiramente este resultado nas eleições legislativas, obtendo entre 235 e 265 dos 577 deputados.

© Agence France-Presse

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