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Kremlin já não sabe quando será cúpula entre Trump e Putin

Parecia o roteiro de agosto, quando o republicano deu um ultimato para Putin aceitar uma trégua só para, após uma ligação, marcar a primeira reunião entre eles neste mandato do americano, no Alasca

Redação Jornal de Brasília

21/10/2025 9h50

trump e putin

Foto: AFP

IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

A nova reunião de cúpula entre Donald Trump e Vladimir Putin para discutir o fim da Guerra da Ucrânia e temas bilaterais ainda não tem data definida, com sinais crescentes de dificuldades no arranjo do encontro em Budapeste.

“Escute, não podemos adiar o que não foi finalizado”, disse nesta terça (21) o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, questionado por repórteres sobre a data. “Não há um entendimento”, completou.

“Nem o presidente Trump, nem o presidente Putin deram datas exatas. Isso leva tempo”, afirmou. Não é bem assim. O presidente americano havia anunciado o encontro na quinta-feira passada (16), afirmando que ele ocorreria em até duas semanas.

Ele fez o anúncio após telefonema recebido de Putin que durou duas horas e tirou dos trilhos a possibilidade de entrega de mísseis de cruzeiro Tomahawk para a Ucrânia, o que era esperado para o dia seguinte, quando Trump recebeu Volodimir Zelenski na Casa Branca.

Parecia o roteiro de agosto, quando o republicano deu um ultimato para Putin aceitar uma trégua só para, após uma ligação, marcar a primeira reunião entre eles neste mandato do americano, no Alasca.

Na segunda (20), os encarregados de organizar a reunião, o chanceler Serguei Lavrov e o secretário de Estado Marco Rubio, se falaram ao telefone. O encontro prévio entre os dois ainda não tem data também.

As mais óbvias são o escopo da reunião. A partir da conversa de agosto, ficou claro que Putin aceitaria trocar pedaços que não controla das regiões sulistas de Zaporíjia e Kherson pela tomada final de Donetsk, no leste. A conta seria muito desfavorável a Zelenski, que não aceitou a ideia.

Trump até perdeu a paciência e falou que a Ucrânia deveria retomar todos os 20% que perdeu, incluindo a Crimeia anexada por Putin em 2014. Já voltou atrás e, no encontro com Zelenski de sexta, segundo relatos disse que ele tinha de aceitar a perda ou enfrentar mais destruição.

Na segunda, o americano foi além e afirmou que não acreditava na possibilidade de Kiev ganhar a guerra, iniciada com a invasão russa de fevereiro de 2022. Zelenski, por sua vez, falou em congelar as linhas de batalha como estão e aí conversar.

Líderes europeus aliados dos ucranianos apoiaram a posição. Em um comunicado conjunto nesta terça, os govenos da Alemanha, França, Reino Unido e a União Europeia afirmaram apoiar o esforço de Trump por uma trégua imediata. “A atual linha de contato [frente de batalha] deve ser o ponto de partida das negociações”, disse o texto.

Há óbices adicionais. A escolha da capital húngara para o encontro se deu porque o governo do premiê Viktor Orbán é próximo de Putin e de Trump, e crítico de Zelenski. Só que para o encontro acontecer, o russo tem de chegar à cidade.

O problema é que todo o espaço aéreo em torno da Hungria, que não tem saída para o mar, é vetado por sanções europeias a aviões russos. Para Putin poder sobrevoá-los, é preciso autorização específica de cada governo, e a rota mais rápida e óbvia em céus da Europa passa pela Polônia.

Nesta terça, o governo em Varsóvia, um dos mais contrários a Putin no continente, disse que não permitirá que o avião presidencial de Putin sobrevoe o país, que foi alvo de uma incursão de drones de Moscou no mês passado.

Segundo o governo polonês, se o avião entrar em seu espaço aéreo, será obrigado a descer e Putin será preso pelas acusações de crime de guerra que pesam contra o russo no Tribunal Penal Internacional.

Isso pode forçar uma alternativa de rota mais complexa, que é voar sobre o contestado mar Negro e entrar pela Bulgária, membro da União Europeia que disse aceitar o sobrevoo. Dali, cruzar a aliada Sérvia, que não faz parte do bloco de Bruxelas, e chegar à Hungria.

Na Ucrânia, o conflito prossegue, com avanços russos no leste e um bombardeio na região de Tchernihiv (norte) que deixou centenas de milhares de moradores no escuro, mantendo o padrão de ataques ao sistema energético às vésperas do inverno do Hemisfério Norte.

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