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Kast e Jara, o ultradireitista e a esquerdista que disputam o poder no Chile

Disputa presidencial coloca uma comunista moderada contra um ultraconservador que promete deportações em massa e endurecimento na segurança

Redação Jornal de Brasília

09/12/2025 13h41

Foto: RODRIGO ARANGUA / AFP

Foto: RODRIGO ARANGUA / AFP

O segundo turno das presidenciais no Chile será protagonizado no domingo (14) por dois polos opostos: Jeannette Jara, comunista moderada de origem humilde que representa uma coalizão de esquerda, e José Antonio Kast, ex-deputado de extrema direita e devoto católico que promete deportar migrantes irregulares em massa.

Embora Jara tenha vencido Kast no primeiro turno em 16 de novembro, as pesquisas indicam que ele poderia vencer a segunda votação com ampla maioria ao angariar apoios de outros candidatos conservadores.

– Kast, contra migrantes sem documentos –

Kast, de 59 anos, é casado e pai de nove filhos. Ele defendeu a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) e se opõe ao aborto, mesmo em casos de estupro, à pílula do dia seguinte, ao divórcio e ao casamento homoafetivo.

De temperamento calmo, afirma ser um democrata e evita os exageros de outros líderes da extrema direita com quem é comparado, como Jair Bolsonaro ou o argentino Javier Milei.

“Ele é visto como muito sóbrio, muito pragmático, muito pausado e muito calmo em comparação aos demais”, diz à AFP a jornalista Amanda Marton, uma das autoras do livro “Kast, la ultraderecha a la chilena” (Kast, a ultradireita à chilena, em tradução livre).

Diante da crescente preocupação dos chilenos com o aumento da insegurança e da migração, propõe uma luta implacável contra o crime por meio da deportação dos 330.000 migrantes irregulares que vivem no país, aos quais culpa pelo aumento da criminalidade.

Ele reconheceu possuir um revólver de cinco tiros e quer aumentar o poder de fogo da polícia. Mantém uma contagem regressiva para concretizar seu plano de expulsão dos estrangeiros sem documentos, caso assuma o cargo em 11 de março de 2026. “Se não saírem voluntariamente, iremos buscá-los” para expulsá-los, afirma.

É o mais novo de 10 filhos de um casal de alemães que emigrou para o Chile, onde seu pai fundou um próspero negócio de embutidos.

Investigações jornalísticas revelaram em 2021 que seu pai, nascido na Alemanha, foi membro do partido nazista de Adolf Hitler. Mas Kast afirmou que ele foi recrutado à força pelo Exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial e negou que seu pai fosse partidário do movimento nazista.

O candidato ultradireitista foi deputado por 16 anos. Em 2016, deixou o União Democrata Independente (UDI), no qual militou por décadas, por considerar que o partido havia abandonado os princípios conservadores que o inspiravam.

Em 2019, fundou o Partido Republicano, que lidera com uma mistura de “simpatia pessoal” e um “controle rígido”, explica à AFP Javiera González, coautora do livro “Kast, el mesías de la derecha chilena” (‘Kast, o messias da direita chilena’, em tradução livre).

“É uma figura muito de grupo fechado”, complementa a jornalista Lily Zúñiga, que trabalhou com ele na UDI.

Mara Sedini, porta-voz de sua campanha, defende seu caráter. “Com as coisas que precisam de teimosia, ele é teimoso”, mas também é capaz de “flexibilizar e aprender”.

– Jara, uma comunista moderada –

Embora milite no Partido Comunista desde os 14 anos, Jeannette Jara faz parte de sua ala mais liberal e crítica. Ela recebeu a nomeação governista nas primárias e representa uma coalizão de nove partidos de centro-esquerda.

“Ela se apresenta como dissidente”, diz à AFP a jornalista Alejandra Carmona, autora da biografia “Jeannette”.

Durante a campanha, enfrentou publicamente a cúpula do PC devido à sua visão crítica sobre Cuba e Venezuela, que não considera democracias.

A origem popular de Jara contrasta com a elite da política chilena. “Pela primeira vez (…) uma pessoa que vem dos setores populares pode chegar a governar”, disse a própria Jara à AFP antes do primeiro turno.

Ela nasceu há 51 anos em El Cortijo, bairro pobre no norte de Santiago, onde viveu com os avós até a adolescência “em uma meia-água (casa com telhado de única queda)”, segundo contou.

Trabalhou como colhedora de frutas e caixa, antes de ingressar na universidade. Casou-se aos 19 anos enquanto ainda estudava e ficou viúva aos 21, após o suicídio do marido. Casou-se novamente, teve um filho, divorciou-se e atualmente está em um relacionamento.

É formada em administração pública e direito. Seu salto para a política ocorreu durante o governo de Boric, que a nomeou ministra do Trabalho. No cargo, ganhou notoriedade ao impulsionar a redução da jornada semanal de trabalho de 45 para 40 horas e a reforma da previdência privada.

“Ela entende que, para alcançar acordos, é preciso ir além de suas próprias convicções”, diz à AFP Darío Quiroga, seu principal assessor no primeiro turno.

Porém, não teme ser drástica. Em 2023, em plena discussão da reforma da previdência, demitiu o então subsecretário do Trabalho, Christian Larraín, que mais entendia do tema, devido a denúncias de assédio sexual.

Ela propõe aumentar o salário mínimo para quase 800 dólares (cerca de 4.330 reais), quase 250 a mais que o atual, fortalecer os direitos trabalhistas e aumentar a produção de lítio.

AFP

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