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Governo francês renegocia impopular reforma da Previdência em busca de estabilidade

O anúncio rompe uma linha vermelha do governo, que até agora rejeitava reabrir essa reforma crucial, imposta por Macron em 2023 por decreto

Redação Jornal de Brasília

14/01/2025 17h42

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Foto: Ludovic MARIN / AFP

O primeiro-ministro francês, o centrista François Bayrou, propôs nesta terça-feira (14) renegociar a impopular reforma da Previdência do presidente Emmanuel Macron, em um gesto de aproximação com a oposição de esquerda para evitar uma rápida queda de seu governo.

O anúncio rompe uma linha vermelha do governo, que até agora rejeitava reabrir essa reforma crucial, imposta por Macron em 2023 por decreto, apesar dos protestos massivos, da oposição dos principais sindicatos e sem votação no Parlamento.

No entanto, a profunda crise política desde as eleições legislativas antecipadas de 2024 e a situação econômica, com níveis de déficit e dívida pública acima dos limites da zona do euro, levaram Bayrou a dar esse passo para “recuperar a estabilidade”.

“Podemos buscar um novo caminho para a reforma, sem totens nem tabus, nem mesmo a idade de aposentadoria – os famosos 64 anos – com a condição” de não comprometer o “equilíbrio financeiro”, anunciou Bayrou, de 73 anos, em sua Declaração de Política Geral perante o Parlamento.

Liderando um governo sem maioria, que reúne a aliança de centro-direita de Macron e o partido conservador Os Republicanos (LR), o objetivo do primeiro-ministro é convencer os socialistas a não apoiarem uma moção de censura e garantir sua sobrevivência.

Os socialistas, que participaram das eleições legislativas dentro da coalizão Novo Frente Popular (NFP) com outros partidos de esquerda, fizeram campanha pela revogação da reforma da Previdência e haviam exigido de Bayrou, no mínimo, sua suspensão temporária.

O primeiro-ministro rejeitou essa proposta, mas aceitou renegociar a reforma “com os interlocutores sociais” a partir de sexta-feira e por três meses, em busca de uma alternativa ao aumento da idade de aposentadoria de 62 para 64 anos, que respeite o “equilíbrio financeiro”.

No entanto, o aliado histórico de Macron advertiu: se não houver “um acordo que seja equilibrado e mais justo”, “a reforma atual continuará sendo aplicada”.

Os socialistas rejeitam esta última opção e pedem ao chefe do governo que esclareça até quinta-feira se o Parlamento poderá debater a reforma da Previdência, mesmo se um acordo não for alcançado.

– “Espada de Dâmocles” –

O líder socialista, Olivier Faure, alertou que se Bayrou não der “uma resposta clara”, apoiará a moção de censura apresentada pelos aliados da França Insubmissa (LFI, esquerda radical) na NFP e que já conta com o voto favorável dos ecologistas.

O apoio de toda a oposição de esquerda e da extrema direita a uma moção de censura já provocou a queda, no início de dezembro, do fugaz primeiro-ministro conservador Michel Barnier, que tentava aprovar seu orçamento para 2025.

Essa queda agravou a situação da França nos mercados, e o principal objetivo de Bayrou é evitar uma nova censura, enquanto a dívida pública ficou em 113,7% do PIB e o governo projetou, no fim de setembro, um déficit público de 5,4% do PIB em 2025.

“Essa dívida é uma espada de Dâmocles sobre nosso país e nosso modelo social”, declarou o primeiro-ministro da segunda maior economia da União Europeia, que disse que o governo trabalha em um “imposto antiotimização sobre as grandes fortunas”.

A extrema direita rejeitou, por ora, apoiar a moção de censura apresentada pela LFI, que não parece ter chances de prosperar, à espera do projeto final de orçamento para 2025, cujo debate parlamentar será retomado nos próximos dias.

Ao contrário de Barnier, que buscou apoio da extrema direita de Marine Le Pen para tentar se manter no poder sem sucesso, Bayrou fez uma série de anúncios sociais, como o aumento dos gastos com saúde, para tentar convencer a esquerda.

Entre outros anúncios, está uma reforma eleitoral em busca de um modelo mais proporcional nas legislativas, mas que já gerou rejeição de seus aliados do LR, que consideram que isso criará um “desordem política”.

© Agence France-Presse

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