ANDRÉ FONTENELLE
JOANESBURGO, ÁFRICA DO SUL (FOLHAPRESS)
Contrariando a vontade de Donald Trump, os líderes do G20 reunidos em Joanesburgo aprovaram neste sábado (22) uma declaração final abordando temas rejeitados pelo presidente americano, que boicotou o encontro. O texto se posiciona contra as mudanças climáticas e a favor do multilateralismo.
A extensa declaração, com 30 páginas e 122 itens, foi aprovada por aclamação na sessão inaugural do encontro. Em crise diplomática com a África do Sul, que Trump acusa de “genocídio branco”, os Estados Unidos não enviaram delegação.
Embora o texto não mencione explicitamente que o aquecimento global é causado pelos seres humanos, ele reafirma o compromisso com a luta para reduzir as emissões causadoras da alta da temperatura do planeta, como previsto no Acordo de Paris, firmado em 2015. Trump retirou os EUA do acordo pouco depois de empossado, no início deste ano.
O documento final cita o TFFF, fundo de preservação das florestas tropicais proposto pelo Brasil na COP30, em Belém, como um “instrumento inovador”. Outro item aplaude “o desfecho bem-sucedido” da COP30, embora a cúpula sobre mudanças climáticas ainda esteja em andamento.
A declaração tem valor apenas simbólico, já que as decisões do G20 não obrigam os países do grupo a cumpri-las. Mas a aprovação foi uma vitória diplomática para o anfitrião do evento, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa.
Em seu discurso de abertura, Ramaphosa afirmou que a falta de uma declaração final seria um rebaixamento do primeiro G20 realizado em solo africano: “Não devemos permitir que nada diminua o valor, a estatura e o impacto da primeira presidência africana do G20.”
“Esta cúpula tem a responsabilidade de não permitir que a integridade e a credibilidade do G20 sejam enfraquecidas. Agradecemos a todas as delegações que trabalharam juntas, de boa-fé, para produzir um documento final digno desse encontro histórico”, acrescentou.
Em encontro bilateral na sexta (21), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) havia reiterado apoio a Ramaphosa para a aprovação da declaração nos termos propostos pela África do Sul.
O documento também defende o fortalecimento dos sistemas de resposta a catástrofes naturais, que, segundo os cientistas, vêm se tornando mais comuns devido às mudanças climáticas.
Alguns itens mencionam antigas reivindicações sul-africanas, como mecanismos de alívio da dívida dos países mais pobres, o uso de minerais estratégicos e da inteligência artificial para o desenvolvimento sustentável e mais investimentos no continente africano.
A declaração aborda ainda temas menos controvertidos: por exemplo, condena o terrorismo e prega uma solução pacífica para os conflitos na Ucrânia, em Gaza e no Sudão.
O encontro do G20 termina neste domingo (23). Como todos os anos, líderes aproveitaram a cúpula para encontros bilaterais e multilaterais.
Está prevista, por exemplo, uma reunião entre os primeiros-ministros Keir Starmer (Reino Unido) e Friedrich Merz (Alemanha) e o presidente da França, Emmanuel Macron, para discutir o plano de paz proposto por Trump para a Ucrânia.
Do lado de fora do Nasrec, o centro de convenções de Joanesburgo onde o G20 está sendo realizado, houve protestos contra o evento. A polícia sul-africana bloqueou ruas para impedir que os manifestantes se aproximassem dos líderes reunidos.