Dez pessoas, entre elas um professor, um publicitário, um técnico de informática e uma médium, são julgadas a partir desta segunda-feira (27) em Paris por assédio cibernético sexista contra Brigitte Macron, esposa do presidente francês, que foi alvo de informações falsas que circularam pelo mundo e afirmavam que ela era um homem.
O julgamento acontece depois que, no final de julho, o casal presidencial iniciou ações legais nos Estados Unidos por difamação após anos de polêmicas e rumores amplamente divulgados por redes conspiratórias e de extrema direita.
A diferença de idade de 24 anos entre Brigitte e Emmanuel Macron explica em parte a propagação do boato, que avançou muito além das fronteiras do país.
Brigitte Macron, de 72 anos, não estava presente no início do julgamento em um tribunal correcional da capital francesa contra os acusados, oito homens e duas mulheres, com idades entre 41 e 60 anos.
Não é esperado que ela compareça ao tribunal, mas sua filha Tiphaine Auzière pode testemunhar na terça-feira, declarou à AFP o advogado de Brigitte Macron.
A informação falsa surgiu após a eleição de Emmanuel Macron em 2017 e viralizou especialmente nos Estados Unidos, onde o casal presidencial recentemente iniciou ações legais contra a podcaster de extrema direita Candace Owens, próxima ao movimento trumpista MAGA e conhecida por suas posturas antissemitas e pró-Rússia.
Várias pessoas julgadas em Paris por assédio online compartilharam publicações de Owens, que possui milhões de seguidores nas redes sociais e é autora de uma série de vídeos com o título “Becoming Brigitte” (“Tornando-se Brigitte”).
Em outra publicação, um acusado afirmou que havia “2 mil pessoas” dispostas a ir de “porta em porta em Amiens [cidade natal do casal, no norte da França[ para esclarecer o tema Brigitte”, com a promessa de participação de blogueiros americanos na suposta mobilização.
A investigação por assédio online foi coordenada pela Brigada de Repressão ao Crime contra Pessoas (BRDP) após uma denúncia apresentada por Brigitte Macron em 27 de agosto de 2024, o que resultou em várias ondas de detenções, em particular em dezembro de 2024 e fevereiro de 2025.
– “Assédio inverso” –
Os acusados são suspeitos de comentários maliciosos sobre Brigitte Macron a respeito de seu “gênero” e sua “sexualidade”, além de terem afirmado que a diferença de idade de 24 anos entre ela e seu marido, o presidente do país, equivale a “pedofilia”, segundo o Ministério Público de Paris.
Entre os réus está o publicitário Aurélien Poirson-Atlan, 41 anos, conhecido nas redes sociais como “Zoé Sagan”. Sua conta no X, que está suspensa, foi alvo de várias denúncias e frequentemente é apresentada como vinculada a círculos de teorias da conspiração.
Durante um recesso do julgamento na segunda-feira, Poirson-Atlan deu uma coletiva de imprensa improvisada na qual denunciou “assédio reverso”.
Bertrand S., um galerista de 56 anos com mais de 100 mil seguidores no X, expressou-se em termos semelhantes.
“A imprensa nos retrata como ultradireitistas, antissemitas e conspiracionistas”, declarou à AFP na véspera do julgamento. “Quem está sendo assediado?”.
Outra acusada é a “médium”, “jornalista” e “denunciante” Delphine J., 51 anos, conhecida pelo pseudônimo de Amandine Roy, que divulgou o boato de que Brigitte Macron, cujo sobrenome de solteira era Trogneux, era na verdade seu irmão Jean-Michel Trogneaux, que havia mudado de gênero.
A “médium” foi considerada culpada por difamação em 2024 e condenada pela Justiça francesa a pagar milhares de euros por danos e prejuízos a Brigitte Macron e a seu irmão Jean-Michel, mas foi absolvida no julgamento do recurso no dia 10 de julho. Brigitte Macron e seu irmão apelaram contra a decisão.
Entre os outros acusados estão um funcionário eleito, um galerista e um professor. Todos podem ser condenados a até dois anos de prisão.
Outras mulheres do mundo da política já foram vítimas de informações falsas de caráter transfóbico em outras regiões do mundo, como a ex-primeira-dama dos Estados Unidos Michelle Obama, a ex-vice-presidente dos Estados Unidos Kamala Harris e a ex-primeira-ministra da Nova Zelândia Jacinda Ardern.
AFP