SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O ex-secretário do Tesouro dos EUA e ex-presidente da Universidade Harvard Larry Summers afirmou nesta segunda-feira (17) estar “profundamente envergonhado” por manter contato com Jeffrey Epstein, condenado por crimes sexuais, e anunciou que vai se afastar de compromissos públicos enquanto tenta “reconstruir confiança e reparar relações”. Ele disse, porém, que continuará dando aulas na universidade, mesmo diante da pressão para que a instituição rompa vínculos com ele.
A reação veio após a divulgação, por um comitê da Câmara, de milhares de páginas de documentos do espólio de Epstein. Entre elas, apareceram anos de trocas pessoais entre os dois, envolvendo comentários de teor sexista e pedidos de conselhos amorosos feitos por Summers. As mensagens abrangem temas variados de política internacional ao comportamento de Donald Trump e seguem até 2019, meses depois de o jornal Miami Herald expor novos detalhes sobre o histórico de abusos cometidos por Epstein.
A revelação levou a senadora Elizabeth Warren, ex-professora de Harvard, a defender que a instituição corte laços com Summers. Ela afirmou que o economista demonstra “julgamento monumentalmente ruim” e que alguém incapaz de se distanciar de um agressor sexual “não pode ser confiável para orientar autoridades públicas nem ensinar estudantes em Harvard ou em qualquer outro lugar”.
A universidade não respondeu aos pedidos de comentário. A crise também atingiu o think tank Center for American Progress, onde Summers é pesquisador não remunerado; a entidade informou que avalia “os desdobramentos da última semana” para decidir como proceder.
Summers, que presidiu Harvard entre 2001 e 2006 e deixou o cargo após sucessivas controvérsias entre elas a fala em que sugeriu diferenças biológicas para justificar a desigualdade de gênero nas ciências ocupa hoje o posto de professor universitário, a mais alta distinção acadêmica da instituição. Sua trajetória inclui passagens pelo Banco Mundial, o Tesouro no governo Bill Clinton e a direção do Conselho Econômico Nacional no governo Barack Obama.
O envolvimento com Epstein também reacendeu críticas antigas. Em mensagens reveladas, Summers discutia seus relacionamentos e pedia orientações ao financista. Em um dos e-mails, por exemplo, Epstein o aconselhou sobre como agir com uma mulher, comentando com ironia o comportamento dela. Em outra troca, Summers perguntou se o então presidente Trump estava “ficando mais louco” ou se continuava “consistentemente louco”.
A divulgação do material levou Donald Trump a dizer que pediu uma investigação sobre as relações de Epstein com figuras de destaque, incluindo Summers, Bill Clinton e o banco JPMorgan. O Clube Econômico de Nova York, que receberia Summers para uma palestra nesta quarta-feira (19), adiou o evento alegando “mudança inevitável na agenda”.
Apesar das cobranças, Summers afirma que assumirá “total responsabilidade” e que o afastamento público é apenas uma parte de seu esforço para reparar danos. Ainda assim, afirmou que cumprirá suas obrigações como docente em Harvard.