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EUA ‘tem características de autocracia’, diz Arias após ter o visto cancelado

Duas vezes presidente (1986-1990 e 2006-2010), Arias ganhou o Nobel em 1987, por sua atuação diplomática para encerrar as guerras civis na América Central

Redação Jornal de Brasília

02/04/2025 0h09

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O ex-presidente da Costa Rica e ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1987, Oscar Arias, fala durante uma coletiva de imprensa em San Jose, Costa Rica, em 1º de abril de 2025. O governo do presidente dos EUA, Donald Trump, revogou em 1º de abril de 2025 o visto americano de Arias, que tem criticado o atual líder da Casa Branca. (Foto de Ezequiel BECERRA / AFP)

O ex-presidente da Costa Rica e ganhador do Nobel da Paz Óscar Arias disse nesta terça-feira que os Estados Unidos “têm características de autocracia”, depois que o governo de Donald Trump cancelou seu visto.

Duas vezes presidente (1986-1990 e 2006-2010), Arias ganhou o Nobel em 1987, por sua atuação diplomática para encerrar as guerras civis na América Central. Também foi pioneiro na região ao romper os laços com Taiwan para estabelecer relações diplomáticas com a China, em 2007.

“Os Estados Unidos são um paradigma da democracia, ou já foram. Hoje em dia, têm características de autocracia, infelizmente. Mas quem sou eu para dizer ao governo dos Estados Unidos que mude de caminho?” disse o ex-presidente, 84.

“Os franceses lhes presentearam com a Estátua da Liberdade, e agora os Estados Unidos restringem a liberdade. Como é que querem punir quem pensa diferente? Isso não é democracia”, destacou Arias, durante entrevista coletiva em San José.

O ex-presidente criticou a política de deportação de imigrantes e a guerra comercial global de Trump, além da forma como ele tratou o presidente ucraniano. Também criticou o atual presidente da Costa Rica, Rodrigo Chaves, a quem acusa de receber ordens de Washington.

Arias foi notificado do cancelamento de seu visto de turismo e negócios B1/B2 por meio de um e-mail, na manhã de hoje. Ele não foi o primeiro ex-presidente centro-americano a ser privado do visto americano, mas os outros afetados enfrentavam processos judiciais por corrupção em seus países.

O governo Trump também revogou os vistos dos deputados costarriquenhos Francisco Nicolás (PLN) e Vanessa Castro (social-cristã), e dos independentes Johanna Obando e Cynthia Córdoba, segundo a imprensa local.

Em 28 de fevereiro, Arias criticou no Facebook o comportamento de Trump ao receber o presidente ucraniano na Casa Branca: “Esteve ausente a diplomacia, a moderação, o respeito e a calma, e em seu lugar prevaleceu a linguagem arrogante e humilhante do presidente Trump e do seu vice-presidente, JD Vance.”

– Laços com a China –

Em 14 de fevereiro, Arias destacou que, durante seus governos, a Costa Rica manteve uma política externa independente, sem receber “ordens de Washington”. “Nunca foi fácil para um país pequeno discordar do governo dos Estados Unidos, menos ainda quando seu presidente se comporta como um imperador romano, dizendo ao restante do mundo o que deve fazer.”

Arias ressaltou que sempre acreditou que “os Estados Unidos são uma nação em busca de um inimigo. Hoje, esse inimigo é a China. Ter um suposto inimigo lhes permitiu alimentar a indústria armamentista.”

“Devemos ter em mente que Dom Òscar foi quem estabeleceu relações diplomáticas com a China, e podemos suspeitar que a revogação do seu visto pode ter a ver com essa questão”, disse à AFP Miguel Guillén, secretário-geral do Partido Libertação Nacional, ao qual Arias pertence.

Pequim pagou a construção do Estádio Nacional de futebol, em San José, em agradecimento a Arias pelo restabelecimento dos laços, e conta, agora, com uma forte presença econômica na região.

© Agence France-Presse

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