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Estudo mostra que, em momentos de incerteza, leitores procuram informação em veículos conhecidos

Pesquisadores da Universidade de Michigan, nos EUA, criaram em 2016 um índice para medir a qualidade da informação que circula nas redes sociais

Redação Jornal de Brasília

31/07/2020 16h45

Foto: Reprodução

Lucas Alonso
Bauru, SP

Pesquisadores da Universidade de Michigan, nos EUA, criaram em 2016 um índice para medir a qualidade da informação que circula nas redes sociais.

Mas foi neste ano, a partir da crise provocada pela pandemia de coronavírus, que eles chegaram a uma conclusão concreta de que, em momentos de incerteza, os leitores tendem a buscar fontes de informação mais confiáveis, como os veículos de comunicação que fazem jornalismo profissional.

Para Paul Resnick, um dos autores do estudo, o movimento é semelhante ao que ocorre com os investidores durante crises econômicas. Com mercados financeiros instáveis, as pessoas direcionam suas reservas para investimentos considerados menos arriscados, como o ouro.

“Durante os primeiros dias de confinamento nos EUA, houve uma espécie de ‘voo’ da atenção do público para a qualidade”, diz Resnick, diretor do Centro de Responsabilidade em Mídias Sociais (CSMR) da universidade americana.

A partir de uma análise dos links mais compartilhados nas redes socias, os resultados da pesquisa indicam que as pessoas prestaram mais atenção às notícias dos sites de jornalismo profissional e menos a páginas de sites duvidosos.

Os pesquisadores utilizaram dois índices para a medição. O primeiro aponta a proporção de links nas redes sociais que levam os usuários a veículos de jornalismo profissional, como os jornais The New York Times e The Washington Post. O segundo indica a porcentagem de links para sites não confiáveis.

Em fevereiro, quando o coronavírus começou a se espalhar com mais intensidade para fora da China, a circulação de notícias reportadas por veículos tradicionais começou a aumentar.

Os picos, tanto no Facebook quanto no Twitter, foram registrados no início de abril, quando os países analisados adotaram medidas mais rígidas como tentativa de conter a propagação da Covid-19.

Em 8 de abril, o índice no Facebook chegou a 13,2% –o número mais alto desde que os pesquisadores começaram a medição, em janeiro de 2016. No Twitter, a porcentagem foi de 15,6% e bateu o recorde que havia sido alcançado em outubro de 2019.

Na data dos novos recordes em ambas as plataformas, os EUA registraram 2.000 mortes provocadas pela Covid-19 em um único dia, a maior quantidade de óbitos contabilizados em 24 horas até então.

Na política, o senador Bernie Sanders anunciava sua desistência da corrida presidencial americana.

No Reino Unido, também incluso no levantamento, dados divulgados pelo Departamento de Saúde e Assistência Social indicavam que o número de mortes no país era 78% maior do que vinha sendo relatado.

Na outra ponta, em meados de março, quando as primeiras restrições começaram a ser adotadas nos países analisados pelos pesquisadores de Michigan, a proporção de links duvidosos chegou ao menor nível –5,9% no Facebook e 9,1% no Twitter.

“Isso reflete uma combinação de mudanças no comportamento do usuário –maior interesse nas principais fontes de notícias e menor em fontes duvidosas– e ações tomadas pelas plataformas”, avalia James Park, diretor-assistente do CSMR e coautor do estudo.

Facebook e Twitter anunciaram esforços para combater a disseminação da desinformação, como a remoção de conteúdos falsos ou a inclusão de alertas em publicações duvidosas.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por exemplo, já recebeu alertas por desinformação, mídia manipulada e glorificação da violência. Publicações de sua campanha à reeleição, que levavam símbolos nazistas, também foram excluídas.

Nesta semana, o Twitter suspendeu a conta de um dos filhos do presidente que postou um vídeo dizendo que a hidroxicloroquina é uma cura possível para a Covid-19. O conteúdo viola a política do site contra a desinformação, porque não não há evidências científicas da eficácia do medicamento.

Em março, Twitter, Facebook e Instagram também excluíram publicações de Jair Bolsonaro. O vídeo mostrava um passeio do presidente no Distrito Federal e foi apagado pelas plataformas sob o argumento de que a postagem gerava desinformação e podia causar danos reais às pessoas.

Para os pesquisadores de Michigan, entretanto, ainda é cedo para afirmar se essa tendência de buscar fontes de informação mais confiavéis deve se manter. “Será interessante ver se esse ‘voo para a qualidade’ tem vida curta”, afirma Resnick.

De acordo com o autor, dados mais atuais já revelam um crescimento do quociente de links duvidosos e um ligeiro declínio na circulação de notícias de veículos de jornalismo profissional.

“É promissor que este último esteja maior do que era antes da Covid-19.”

As informações são da FolhaPress

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