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Esforço de paz de Trump na Ucrânia fracassou, diz Rússia

Anchorage é a cidade do Alasca em que Trump recebeu Putin no dia 15 de agosto, o primeiro encontro do tipo em quatro anos

Redação Jornal de Brasília

08/10/2025 10h57

Foto: Roberto Schimidt / AFP

Foto: Roberto Schimidt / AFP

IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

A dois dias do anúncio do Nobel da Paz de 2025, prêmio pelo qual o presidente Donald Trump criou uma verdadeira obsessão, a Rússia fez um anúncio frustrante para o americano: seu esforço para alcançar uma trégua na Guerra da Ucrânia fracassou.

“Infelizmente, temos de admitir que o poderoso momento em favor de acordos de Anchorage foi amplamente exaurido pelos esforços de nossos oponentes e apoiadores da guerra”, disse nesta quarta-feira (8) o vice-chanceler Serguei Riabkov, o número 2 da diplomacia russa.

Anchorage é a cidade do Alasca em que Trump recebeu Putin no dia 15 de agosto, o primeiro encontro do tipo em quatro anos. Três dias depois, o ucraniano Volodimir Zelenski e líderes europeus que apoiam Kiev estiveram na Casa Branca.

Desses encontros saiu o anúncio, feito pelo republicano, de que ele, Putin e Zelenski iriam se encontrar e que haveria um acordo acerca das garantias de segurança a Kiev no caso de um cessar-fogo. Nada disso ocorreu na prática.

Em campanha, Trump dizia que acabaria com o conflito iniciado por Putin em 2022 em um dia. Depois, foi estendendo o prazo, abrindo negociações com o russo e afastando-se do apoio incondicional a Kiev.

Agora, está em modo agressivo de novo. Chamou a Rússia de tigre de papel, no que foi ironizado por Putin. Mais importante, estuda o envio de mísseis de cruzeiro Tomahawk para os ucranianos, algo que Putin disse que causaria o rompimento da retomada de laços entre russos e americanos.

A arma tem alcance para atingir alvos em toda a Rússia europeia, se passar por defesas aéreas. Riabkov disse que, se for entregue a Zelenski, os russos irão destruir tanto os mísseis quanto seus lançadores terrestres —que presumivelmente teriam de ser operados por americanos, dada a complexidade do sistema.

O vice-chanceler culpou, contudo, principalmente líderes europeus pelo atual estágio de degradação das chances de alguma paz. Os combates seguem intensos, com trocas de fogo aéreo em alta: cinco pessoas morreram nos dois países nesta madrugada.

Trump, que se gaba de ter acabado “com seis ou sete guerras”, quando na verdade presidiu dois acordos menores de paz neste mandato, apostava no sucesso na Ucrânia e na Faixa de Gaza para abocanhar o Nobel da Paz.

Ele já disse que não só merece o prêmio, mas também “ir para o céu” por seus esforços. Em Gaza, ele tem um pouco mais de chance de sucesso. Na semana passada, apresentou um plano de paz e hoje vê o grupo terrorista palestino Hamas em negociações indiretas com Israel no Cairo.

Ainda em relação à Rússia, disse ver com bons olhos a proposta de Putin de estender por um ano para novas negociações o Novo Start, único acordo de controle de armas nucleares ainda em vigor.

Mordendo em meio ao assopro, Riabkov repetiu o chefe nesta quarta, dizendo que se os EUA ou outro rival fizerem um teste nuclear, a Rússia fará o mesmo.

Já a Duma, Câmara baixa do Parlamento em Moscou, enviou outro sinal mais duro ao aprovar em primeiro turno a retirada da Rússia de um acordo com os EUA que faz os países se livrarem das reservas de plutônio usado em armas nucleares.

Assinado em 2000 e em vigor desde 2011, o arranjo prevê que o plutônio de ogivas desmanteladas que não foi empregado em armas novas seja transformado em combustível para usinas atômicas ou vire eletricidade a partir de reatores especiais.

Quando passou a valer, ambos os lados concordaram em eliminar 34 toneladas do produto. Moscou declarava ter 128 toneladas, 50 toneladas delas sobrando, enquanto Washington tinha 90 toneladas, 50 delas em excesso.

Essas 34 toneladas poderiam alimentar até 17 mil ogivas nucleares —o mundo tem cerca de 12,2 mil armas, 90% delas nas mãos de russos e americanos, cortesia da corrida da Guerra Fria, quando o arsenal global chegou a 70 mil bombas.

Na semana passada, Putin havia dito que os EUA não cumpriram sua parte do acordo sobre o plutônio e, por isso, pediu à Duma a medida. O acordo já estava congelado desde 2016, após sanções decorrentes da anexação da Crimeia dois anos antes.

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