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Embaixador americano dribla convocação para esclarecimentos após criticar Macron por antissemitismo

Ele enviou um subordinado ao Ministério das Relações Exteriores francês na tarde desta segunda (25)

Redação Jornal de Brasília

25/08/2025 23h21

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(Foto de Ludovic MARIN / AFP)

ANDRÉ FONTENELLE
PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Convocado pelo governo francês a prestar esclarecimentos devido a um artigo acusando Emmanuel Macron de “falta de ação suficiente” contra o antissemitismo, o embaixador dos Estados Unidos na França, Charles Kushner, driblou o chamado. Ele enviou um subordinado ao Ministério das Relações Exteriores francês na tarde desta segunda (25).

Não foi confirmado o nome do diplomata, que ouviu um sermão de duas diretoras subalternas do ministério e teria respondido prometendo trabalho em conjunto com a França para combater o antissemitismo. Abaixo de Kushner, o mais graduado da embaixada é o chefe de missão adjunto, Mario Mesquita.

A convocação tinha sido a forma escolhida pelo presidente francês para demonstrar sua indignação com a carta aberta publicada por Kushner no domingo (24) no influente jornal americano The Wall Street Journal. Nela, ele afirmou que as críticas de Macron a Israel e a decisão de reconhecer o estado palestino “encorajam extremistas, fomentam a violência e põem em perigo a vida dos judeus na França”.

Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA afirmou em Washington que o governo de Donald Trump “apoia os comentários” de Kushner. O embaixador e magnata do ramo imobiliário é pai de Jared Kushner, genro do presidente americano.

Em comunicado no mesmo dia da publicação, o Quai d’Orsay, o Ministério das Relações Exteriores francês, qualificou de “inaceitáveis” as afirmações de Kushner. Embora tenha anunciado que a França reconhecerá a Palestina durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro, Macron também tem sistematicamente pedido a libertação dos reféns em poder do Hamas em Gaza e condenou publicamente diversos atos antissemitas, que recrudesceram na França desde o início da guerra, em outubro de 2023.

Filho de judeus poloneses que sobreviveram ao Holocausto, Charles Kushner prosseguiu sua carta afirmando que “o presidente Trump e eu temos filhos judeus e compartilhamos netos judeus”. Em seguida, listou atos recentes dos EUA, entre eles o bombardeio das instalações do programa nuclear do Irã. “Essas medidas provam que o antissemitismo pode ser combatido com eficiência quando os líderes têm vontade de agir”, acrescentou o embaixador.

O artigo de Kushner é inusitado: não é comum que embaixadores critiquem publicamente os líderes dos países aliados onde estão servindo. A convocação do embaixador para dar explicações é o procedimento padrão em situações assim no campo diplomático.

No início de agosto, o Itamaraty convocou o encarregado de negócios da embaixada americana em Brasília, Gabriel Escobar, para prestar esclarecimentos sobre uma postagem em redes sociais atacando o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Os EUA estão sem embaixador no Brasil desde a posse de Trump, em janeiro.

De forma análoga à ocorrida em Paris nesta segunda, o diplomata americano não foi recebido pelo chanceler Mauro Vieira, e sim pelo secretário interino do Itamaraty para Europa e América do Norte, Flávio Goldman.

A indicação de Kushner, de 71 anos, para a embaixada em Paris, em maio, foi polêmica. Além do vínculo familiar com o presidente -Jared, seu filho mais velho, é casado desde 2009 com Ivanka Trump- Kushner não é diplomata de carreira e tem no currículo uma sentença judicial.

Condenado em 2005 por evasão fiscal e contribuições ilegais de campanha, Kushner cumpriu dois anos de prisão. Em 2020, no final de seu primeiro mandato, Trump usou sua prerrogativa presidencial para conceder-lhe perdão incondicional.

O episódio é mais uma evidência da tensão latente na relação entre a França e os EUA, apesar dos esforços de Macron para manter um relacionamento produtivo com Trump em questões como os conflitos em Gaza e na Ucrânia e os tarifaços impostos pela Casa Branca.

Embora Trump e Macron demonstrem cordialidade quando se encontram -como na semana passada, na Casa Branca-, o presidente americano não poupa críticas ao colega francês. “Macron é um cara legal, mas o que ele diz não importa”, disse em julho sobre a decisão francesa de reconhecer a Palestina.

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