À frente da maior potência do mundo, teria Donald Trump atingido o auge de suas ambições? “O sonho, agora, é ser um grande presidente”, disse ele recentemente à sua neta Kai, enquanto andavam em um carrinho de golfe.
Publicada pela jovem no Instagram, a conversa sinaliza as motivações de Trump, 79, um ano depois de sua reeleição. Para ele, ser “um grande presidente” significa, mais do que nunca, exercer o seu poder em uma escala pouco vista na história americana.
Nas últimas semanas, Trump intensificou esses movimentos, vingando-se de seus opositores, enviando tropas para mais cidades americanas, censurando a imprensa e consolidando seu controle sobre todos os ramos do governo.
Para os críticos, isso levanta sérias questões sobre o Estado de Direito e os abusos de poder por parte de um presidente que admira abertamente monarcas e governantes autoritários, e que recebeu uma réplica de uma coroa como presente durante uma viagem recente à Coreia do Sul.
“Sem dúvida, ele tem um lado autoritário”, ressaltou Todd Belt, cientista político da Universidade George Washington.
Embora Trump viesse aumentando seu controle desde que retornou à Casa Branca, em janeiro, o assassinato do ultraconservador Charlie Kirk, em setembro, “reforçou sua abordagem do ‘nós contra eles'”, explicou.
‘Inimigo interno’
A campanha recente de represálias contra opositores talvez seja o exemplo mais flagrante de abuso de poder por parte do presidente. O Departamento de Justiça apresentou acusações contra vários deles, incluindo o ex-conselheiro de Segurança Nacional John Bolton e o ex-diretor do FBI James Comey, depois que Trump exigiu nas redes sociais que eles fossem processados.
Enquanto o presidente se vangloria de acordos de paz no exterior, dentro de casa ele ataca abertamente o “inimigo interno”, seja ele a esquerda ou os imigrantes, e chegou a afirmar, perante comandos militares, que as cidades americanas poderiam se converter em “campos de treinamento” para as tropas.
Na última sexta-feira, apesar da paralisação orçamentária de mais de um mês devido a um impasse político, Trump, que se recusa a dialogar com os democratas, ofereceu uma festa de Halloween em sua residência em Mar-a-Lago, na Flórida. À meia-noite daquele dia, 42 milhões de americanos deixaram de receber ajuda alimentar do governo federal.
O presidente também tentou silenciar a imprensa. Deu mais protagonismo a jornalistas alinhados ao movimento “Make America Great Again” (Maga, sigla em inglês para “Torne os Estados Unidos grandes novamente”, em tradução livre) e processou o New York Times, o Wall Street Journal e a CBS.
Trump também consolidou seu poder dentro da Casa Branca, da qual demoliu a Ala Leste para construir um grande salão de baile, sem consulta pública ou aprovação federal. Nos últimos dias, voltou a considerar a possibilidade de um terceiro mandato em 2028, embora tenha parecido se retratar depois que o republicano Mike Johnson, presidente da Câmara dos Representantes, afirmou que isso seria inconstitucional.
‘Ele se excedeu’
Tendo em vista as eleições de meio de mandato, que serão realizadas dentro de um ano, é possível que Trump já tenha atingido o auge do seu poder.
“As pesquisas indicam que ele não tem tanta margem de manobra quanto nos dez primeiros meses”, disse à AFP William Galston, pesquisador da Brookings Institution. “As pessoas acham que ele se excedeu.”
Uma pesquisa de Washington Post, ABC News e Ipsos divulgada no último domingo mostra que a maioria dos eleitores americanos acredita que Trump extrapolou suas funções. O estudo também aponta que os democratas se beneficiam muito pouco dessas preocupações.
O presidente aguarda decisões-chave da Suprema Corte, que poderiam ampliar o Poder Executivo perante o Congresso e o Judiciário. Mas muito depende de até que ponto Trump estaria disposto a ignorar as normas presidenciais em vigor há décadas.
“Quando um presidente ignora tradições arraigadas, o cargo ganha um poder muito maior que o imaginado”, alertou Galston. Qualquer resultado que não represente um revés importante para os republicanos nas legislativas de 2026 provavelmente encorajará Trump: “Se as pessoas o aprovarem, ele vai continuar.”
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