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Diretora de agência de saúde dos EUA foi demitida após resistir a mudanças na política de vacinas

A saída de Monarez desencadeou uma série de renúncias de funcionários do alto escalão da agência, evidenciando uma divisão crescente sobre os rumos da saúde pública no país

Redação Jornal de Brasília

28/08/2025 20h31

(Photo by Kena Betancur / AFP)

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governo de Donald Trump lida com uma crise na principal agência de saúde pública dos Estados Unidos após a demissão da diretora do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), Susan Monarez, nesta quarta (27). Segundo aliados, ela deixou o cargo depois de resistir a mudanças na política de vacinas defendidas pelo secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr., por considerar que contrariavam evidências científicas e que poderiam ser ilegais.

A saída de Monarez desencadeou uma série de renúncias de funcionários do alto escalão da agência, evidenciando uma divisão crescente sobre os rumos da saúde pública no país.

Richard Besser, ex-diretor interino do CDC, afirmou em entrevista coletiva que conversou com Monarez logo após sua demissão. Segundo ele, a ex-diretora disse que havia estabelecido dois limites durante sua gestão no cargo: não tomar decisões ilegais e não adotar medidas que fossem contra a ciência. “E ela disse que foi pressionada a fazer as duas coisas”, afirmou ele.

Poucas horas depois da saída de Monarez, três outros dirigentes do CDC também pediram demissão: Debra Houry, diretora médica; Demetre Daskalakis, chefe do Centro Nacional de Imunização e Doenças Respiratórias; e Daniel Jernigan, diretor do Centro Nacional de Doenças Infecciosas Emergentes e Zoonóticas.

Os três foram escoltados para fora da sede da agência, em Atlanta, nesta quinta (28). Em cartas de renúncia obtidas pela agência de notícias Reuters, Houry e Daskalakis citaram entre os motivos a proliferação de desinformação sobre vacinas, os ataques à ciência, a politização da saúde pública e as tentativas de cortes no orçamento da instituição. “Sou médico. Fiz o juramento hipocrático que dizia: ‘Primeiro, não causar danos’. Acredito que danos vão acontecer e, por isso, não posso fazer parte.”

A Casa Branca confirmou a demissão de Monarez sob a justificativa de que ela não estava alinhada ao plano de Trump e de Kennedy para “fazer a América saudável novamente”.

Segundo a porta-voz Karoline Leavitt, Monarez foi convidada a renunciar, mas ao se recusar, acabou demitida. Advogados da ex-diretora, contudo, contestam a legalidade da decisão e sustentam que ela continua sendo a chefe do CDC.

Desde que assumiu o cargo em janeiro, Kennedy promoveu mudanças na política de vacinas do governo. Ele dissolveu o tradicional comitê consultivo de especialistas em imunização e o substituiu por militantes antivacina e assessores de confiança. Também pressionou para que o CDC aceitasse automaticamente todas as recomendações desse novo colegiado, enfraquecendo a autonomia técnica da agência.

E nesta semana, a FDA (agência reguladora dos EUA) restringiu a elegibilidade para as novas doses de reforço contra a Covid-19.

Kennedy, que evita se posicionar sobre as demissões, afirmou à Fox News que o CDC “está em crise e precisa ser consertado”. Ele tem defendido teses sem respaldo científico. Já disse, por exemplo, que vacinas contra o sarampo contêm células de fetos abortados. Também afirmou, sem qualquer prova, que a vacina contra a caxumba não funciona. Ainda determinou uma investigação sobre o aumento do número de diagnósticos de autismo em crianças nos EUA, que ele atribui, sem evidências, a “toxinas ambientais”.

A demissão de Monarez faz parte de um movimento mais amplo de Trump contra órgãos reguladores. Nos últimos três dias, também foram afastados a diretora do Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) Lisa Cook e o integrante do Conselho de Transporte Terrestre Robert Primus. No Senado, até aliados de Kennedy manifestaram preocupação.

Nesta quinta, a Casa Branca anunciou que Jim O’Neill, secretário-adjunto do Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS), foi escolhido para substituir Monarez.

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