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Crianças em Gaza desejam morrer por ‘luto insuportável’, diz médico

Na mesma reunião em que Sidhwa prestou depoimento, embaixador da Palestina na ONU chorou ao falar sobre a morte de crianças na Faixa de Gaza. O discurso emocionado de Riyad Mansour repercutiu em veículos de notícias nacionais e internacionais (assista aqui)

Redação Jornal de Brasília

29/05/2025 17h46

Foto: AFP

MANUELA RACHED PEREIRA
SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS)

Em depoimento durante uma audiência da Comissão de Segurança da ONU, o cirurgião norte-americano Feroze Sidhwa, que trabalhou como médico voluntário entre março e abril em um hospital na Faixa de Gaza, relatou ter sido impactado pelo sofrimento de crianças pequenas, que considera as principais vítimas da guerra na região.

“Não vi ou tratei um único combatente [do Hamas] nas cinco semanas que passei lá, meus pacientes eram crianças de 6 anos com estilhaços no coração e balas em seus cérebros”, declarou médico. Ele, que trabalhou no Hospital Europeu, na cidade de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, acrescentou que, entre seus pacientes, também estavam mulheres grávidas que perderam seus bebês.

Cirurgião citou pesquisa que mostra que quase metade das crianças de Gaza não querem mais viver. O estudo, divulgado no fim do ano passado pela organização internacional War Child Alliance, que ouviu mais de 500 crianças, pais e cuidadores na Faixa de Gaza, revelou que 49% dos menores afirmaram que desejam morrer. O levantamento mostrou ainda que 79% das crianças relataram sofrer com pesadelos e 83% sentiam “fadiga e exaustão”.

“As crianças perguntavam: por que eu não morri junto com a minha irmã, minha mãe, meu pai? Não por extremismo, mas pelo luto insuportável que sentiam. Eu me pergunto se algum membro deste Conselho já conheceu alguma criança de 5 anos de idade que não quer mais viver”, disse Feroze Sidhwa, em depoimento à Comissão de Segurança da ONU, no último dia 28.

Quase mil crianças foram mortas por ataques em Gaza nos últimos dois meses, segundo a Unicef. O Fundo das Nações Unidas para a Infância divulgou em maio que crianças na região estão sendo “mortas e mutiladas dentro de hospitais, escolas transformadas em abrigos, tendas improvisadas ou nos braços dos pais”, e que, nos últimos 60 dias, 950 delas perderam a vida dessa forma.

Atendimentos médicos ocorriam em meio a “chuva de fogo e mortes por todos os lados”, seguiu cirurgião. “Entre as minhas duas passagens por Gaza, testemunhei um declínio acentuado na saúde dos pacientes, causado não apenas por ferimentos, mas pelo agravamento da fome e desnutrição, que deixou seus corpos mais frágeis, a cura dos ferimentos mais lentas, e suas sobrevivências muito mais incertas”, seguiu ele diante de integrantes da comissão e outros convidados presentes na reunião, incluindo o embaixador de Israel na ONU.

“O sistema médico não falhou, foi sistematicamente desmantelado por uma campanha militar contínua que deliberadamente violou o Direito Humanitário Internacional. Civis agora estão morrendo não apenas dos constantes ataques aéreos, mas de desnutrição aguda, sepse, desnutrição e desespero”, disse Feroze Sidhwa, em depoimento à Comissão de Segurança da ONU no último dia 28.

Após audiência, médico ressaltou que decidiu dar seu testemunho diante do Conselho de

Segurança da ONU para “contar ao mundo” o que viu com seus próprios olhos. Ao canal de televisão norte-americano ABC News ele afirmou: “É devastador o que vi ali, mas é ainda pior saber, como cidadão dos EUA, que o meu próprio governo está financiando e estimulando isso, (…) e que poderíamos parar toda essa devastação, mas seguimos”.

EMBAIXADOR PALESTINO CHOROU EM DEPOIMENTO

Na mesma reunião em que Sidhwa prestou depoimento, embaixador da Palestina na ONU chorou ao falar sobre a morte de crianças na Faixa de Gaza. O discurso emocionado de Riyad Mansour repercutiu em veículos de notícias nacionais e internacionais (assista aqui).

“Dezenas de crianças estão morrendo de fome. As imagens de mães abraçando seus corpos imóveis, acariciando seus cabelos, falando com eles, pedindo desculpas…”(…) “É insuportável…como alguém pode?”, disse Riyad Mansour, embaixador da Palestina na ONU.

O QUE DISSE REPRESENTANTE DE ISRAEL

“Existe sofrimento em Gaza, mas a culpa está nas costas do Hamas”, afirmou o embaixador de Israel na ONU. A declaração de Danny Danon foi dada durante coletiva de imprensa após a audiência.

“O Hamas que começou a guerra e não está disposto a entregar suas armas e libertar os reféns israelenses. Então, continuará havendo sofrimento até o Hamas entender que eles não permanecerão em Gaza”, disse Danny Danon, embaixador de Israel na ONU.

Diversos países, incluindo aliados de Israel, pressionam por um novo cessar-fogo. A última trégua começou em 19 de janeiro e durou quase dois meses. Mas, em 18 de março, o governo israelense rompeu o acordo e voltou a atacar Gaza após divergências com o Hamas sobre as fases seguintes do cessar-fogo.

Governo de Benjamin Netanyahu ainda impôs um bloqueio sobre a entrada de ajuda humanitária em Gaza, o que agravou a crise no território já devastado. Na semana passada, após forte pressão internacional, Israel afrouxou parcialmente o bloqueio, permitindo a entrada de alguns caminhões de agências internacionais em Gaza. A quantidade de mantimentos que entrou no território palestino, porém, tem sido apenas uma pequena fração dos 500 a 600 caminhões que, segundo a ONU, seriam necessários diariamente.

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