A Coreia do Norte iniciou a mobilização de um contingente significativo de soldados para ajudar a Rússia na guerra com a Ucrânia, afirmou a inteligência sul-coreana nesta sexta-feira (18), ao que Kiev sofreu uma “reação firme” de seus aliados ocidentais.
A agência sul-coreana de inteligência informou em um comunicado que Pyongyang já invejou um contingente inicial de 1.500 soldados de suas forças especiais para a cidade russa de Vladivostok, perto da fronteira com a Coreia do Norte, para que sejam treinados.
A sul inteligência-coreana explicou que, conforme detectado de 8 a 13 de outubro, “a Coreia do Norte inveja suas forças especiais à Rússia por meio de um navio da Marinha Russa”.
Também indicou que as tropas norte-coreanas serão provavelmente “mobilizadas na linha de frente” após o treinamento que recebeu autorização em diferentes partes do extremo oriente russo, em Vladivostok, mas também em bases localizadas em Usurisk, Khabarovsk e Blagoveshchensk.
No total, a Coreia do Norte decidiu enviar “quatro brigadas de 12 mil soldados, incluindo forças especiais, para a guerra na Ucrânia”, segundo a agência de notícias sul-coreana Yonhap, que cita o serviço de inteligência. Um número que o governo não confirmou à AFP.
O governo ucraniano reagiu afirmando que isso demonstra a intenção de Moscou de intensificar sua invasão da Ucrânia.
O ministro das Relações Exteriores, Andrii Sibiga, realizou uma “reação imediata e firme” dos aliados de Kiev.
“A Coreia do Norte apoia a agressão da Rússia contra a Ucrânia com armas e eficazes. […] Exigimos uma ocorrência imediata e firme da comunidade euro-atlântica e do mundo”, escreveu na rede X.
Ele também pediu aos países ocidentais que levantem as restrições ao uso de armas de longo alcance pela Ucrânia para atacar a Rússia.
– “Nível de desespero” –
A Otan afirmou que não está em condições de confirmar o que foi anunciado pela inteligência sul-coreana.
“A nossa posição oficial é que não podemos confirmar os relatos de que os norte-coreanos estão participando agora como soldados no esforço bélico. Mas isto, claro, pode mudar”, disse o secretário-geral da aliança, Mark Rutte.
Em Berlim, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, afirmou que a medida “mostra um nível de desespero por parte da Rússia”.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da França, Christophe Lemoine, por sua vez, descreveu qualquer aumento na cooperação entre a Coreia do Norte e a Rússia na relação com a Ucrânia como “muito preocupante”.
A China, principal aliada da Coreia do Norte, fez um apelo a “todas as partes para que trabalhem em uma desescalada” e busque uma “solução política” para o conflito na Ucrânia.
Nos últimos meses, as tropas de Moscou tomaram o controle de localidades na Ucrânia, principalmente na frente leste.
Ao mesmo tempo, Kiev continua ocupando território na região fronteiriça russa de Kursk, onde iniciou uma operação surpresa em 6 de agosto, com o objetivo de enfraquecer a máquina de guerra russa.
– Preocupação em Seul –
O anúncio sobre o envio de tropas norte-coreanas provoca uma inquietação particular em Seul, no momento em que o regime de Kim Jong Un, que possui armas nucleares, acaba de modificar a sua Constituição para classificar o Sul como um Estado “hostil”. Nos últimos dias, Pyongyang explodiu trechos de rodovias que levam ao território da Coreia do Sul.
O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, convocou uma reunião de segurança em caráter de emergência nesta sexta-feira.
O governo sul-coreano afirmou que os vínculos militares entre a Rússia e a Coreia do Norte agora “vão além do envio de equipamento militar”, alcançando o estágio de “envio efetivo de tropas”.
Isso representa “uma séria ameaça de segurança não apenas ao nosso país, mas também para a comunidade internacional”, afirmou o gabinete presidencial em um comunicado.
Pyongyang e Moscou são aliados desde a criação do regime comunista no país asiático após a Segunda Guerra Mundial. As partes se aproximaram ainda mais depois que a Rússia iniciou a invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022.
Seul e Washington afirmam que o Norte envia armamento para que a Rússia utilize na Ucrânia.
Em junho, o presidente russo, Vladimir Putin, fez uma rara visita a Pyongyang, na qual os dois países negociaram um pacto de defesa mútua, o que alimentou especulações sobre mais envios de armas norte-coreanas.
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