Graças ao fóssil de uma fêmea de Tiranossauro Rex (Tyrannosaurus rex) grávida, os cientistas têm agora um parâmetro para distinguir o sexo dos terópodes – um grupo de dinossauros bípedes que inclui os maiores carnívoros que já viveram sobre a Terra.
A ciência tem grandes problemas quando se trata de distinguir entre dinossauros machos e fêmeas, pois os estudos são feitos em fósseis nos quais, em geral, não estão presentes os tecidos moles que poderiam servir como indicadores de sexo.
Um novo estudo, publicado nesta quarta-feira, 16, na revista Scientific Reports, comprovou a existência de osso medular no fêmur fossilizado de um Tiranossauro Rex de 68 milhões de anos, encontrado em Montana, nos Estados Unidos. Nas aves, esse tipo de tecido que só está presente em fêmeas e durante o período de postura de ovos.
De acordo com os autores do artigo, a descoberta dá finalmente aos paleontólogos um fóssil de Tiranossauro Rex comprovadamente fêmea que poderá ser estudado, além de contribuir para a compreensão sobre a relação entre os dinossauros e as aves.
Segundo os pesquisadores, o osso medular é quimicamente distinto dos outros tipos de tecidos ósseos e, por isso, pode ser usado como uma “assinatura química” para definir se o animal é fêmea. Os dinossauros, como as aves, põem ovos para reproduzir e por isso os cientistas levantaram a hipótese de que as fêmeas desses répteis poderiam possuir também o osso medular.
Em 2005, a autora principal do novo estudo, Mary Schweitzer, da Universidade da Carolina do Norte (Estados Unidos), encontrou o que imaginou ser osso medular no fêmur do Tiranossauro Rex.
“Todas as evidências que tínhamos naquela época apontavam que esse tecido era osso medular. Mas há algumas doenças ósseas que podem ocorrer em aves, como a osteoporose, que podem tornar a aparência de seus ossos semelhante à do osso medular sob o microscópio. Assim, para ter certeza, precisamos fazer análises químicas do tecido”, explicou Mary.
O osso medular contém sulfato de queratano, uma substância que não está presente em nenhum outro tipo de osso – por isso seria em tese fácil identificá-lo. Mas os cientistas pensavam que nenhum traço químico original de um osso de dinossauro poderia sobreviver tantos milhões de anos.
Mesmo assim, Mary e sua equipe realizaram uma série de testes diferentes nas amostras do fóssil, incluindo a procura de sulfato de queratano com o uso de anticorpos monocloanais. Os resultados foram comparados aos dos mesmos testes realizados em tecidos que eram comprovadamente ossos medulares, extraídos de avestruzes e galinhas. Os estudos confirmaram então que o tecido encontrado no tiranossauro era mesmo osso medular.
“Essa análise nos permite determinar o gênero desse fóssil e nos abre uma porta para a evolução da postura de ovos nas aves modernas”, disse Mary. Ela acrescenta, no entanto, que, pela natureza efêmera do osso medular, será difícil encontrar mais desse tecido em outros fósseis.
O fêmur do Tiranossauro Rex já estava quebrado quando Mary o encontrou. A pesquisadora afirma que a maior parte dos paleontólogos não iria querer cortar ou desmineralizar seus fósseis para procurar um raro e improvável osso medular. No entanto, outra das autoras do artigo, Lindsay Zanno, também da Universidade da Carolina do Norte, mostrou que tomografias computadorizadas dos fósseis podem ajudar a focar a busca.
“Não sabemos praticamente nada sobre os traços ligados ao sexo em dinossauros extintos. Os dinossauros não eram tímidos em relação à sinalização sexual, com todos aqueles chifres, cristas e babados. Ainda assim, até agora não tínhamos um parâmetro confiável para diferenciar machos e fêmeas”, disse Lindsay.
“O simples fatos de podermos identificar um dinossauro definitivamente como fêmea abre todo um novo mundo de possibilidades. Agora que podemos demonstrar que as fêmeas grávidas de dinossauros têm uma assinatura química, precisamos de um esforço científico para encontrar mais delas.”