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Mundo

Brasil lança declaração global contra racismo ambiental na Cúpula dos Líderes

Governo brasileiro lidera iniciativa que reconhece impactos desiguais da crise climática sobre povos vulneráveis

Redação Jornal de Brasília

07/11/2025 18h03

Fotos: Raimundo Pacco/COP30

FERNANDA MENA
FOLHAPRESS

Será lançada nesta sexta-feira (7), ao final da Cúpula dos Líderes que antecede a COP30, a Declaração de Belém sobre o Combate ao Racismo Ambiental. O documento foi uma iniciativa do governo brasileiro que posiciona o tema junto ao debate das negociações climáticas a partir da assinatura de 19 países do chamado Sul Global, o grupo de nações emergentes, e ficará aberto para demais adesões.


O objetivo é debater a maneira como a discriminação, as desigualdades e os legados do colonialismo impactam a forma como diferentes povos vivenciam a exposição à poluição, os riscos climáticos e o acesso a serviços e tecnologia.


O pedido partiu dos ministérios da Igualdade Racial (MIR) e dos Povos Indígenas (MPI) e se tornou pauta cara ao governo, que elaborou a declaração no âmbito da COP30 para dar mais visibilidade e relevância ao tema tanto nos foros internacionais de meio ambiente quanto nos de direitos humanos. Trata-se, no entanto, de um instrumento político não vinculante, ou seja, que não gera obrigações legais em direito internacional.


O texto conclama as nações a “cooperar na tarefa essencial de combater o racismo ambiental” e afirma que “o desenvolvimento sustentável somente será alcançado quando forem eliminadas as desigualdades que afetam de forma desproporcional pessoas afrodescendentes, povos indígenas, comunidades tradicionais e outros grupos e minorias vulneráveis em todas as regiões do mundo”.


O documento afirma também que a erradicação da pobreza “em todas as suas dimensões, a promoção da igualdade étnico-racial e a proteção do meio ambiente são dimensões interconectadas e indispensáveis do desenvolvimento sustentável”. E convida os países a “fortalecer os esforços coletivos voltados à construção de sociedades justas e inclusivas por meio do combate ao racismo ambiental”.


Para a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, a declaração é um sinal de que a COP30 começa muito bem, “com o reconhecimento de que esse é um problema real e muito urgente”.


“A população negra equivale a mais de 70% nas favelas e periferias, onde o impacto das tragédias climáticas é muito maior. Isso não é por acaso. Nos territórios quilombolas as florestas são 80% menos desmatadas. Junto com os indígenas, a população negra está entre as que mais sofrem com as mudanças climáticas e os que melhor cuidam do meio ambiente”, afirmou Anielle à Folha de S.Paulo.


A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, afirma que as discussões climáticas foram ganhando outros contornos ao longo do tempo, de modo que temas vinculados aos direitos humanos perderam força. A declaração antes da COP30 seria, portanto, uma maneira de “retornar ao debate e buscar uma estratégia de médio prazo de integração dessas agendas”.


“Esses temas serão centrais no pavilhão do ciclo dos povos que vai acontecer na Zona Verde e vai congregar todos esses segmentos de povos indígenas, comunidades tradicionais, afrodescendentes e produtores e produtoras da agricultura familiar”, disse Guajajara. “Será um marco para debates futuros nesta e em outras esferas de negociação internacional.”


A adesão modesta se deve, segundo fontes ouvidas pela reportagem, a dois fatores principais. Primeiro, ao fato de não haver definição consagrada globalmente para a ideia de racismo ambiental. Segundo, ao fato de que o reconhecimento da exposição desproporcional a danos ambientais e a riscos climáticos implica no debate sobre reparação de perdas e danos, e poucos países estariam já preparados para as implicações financeiras disso.


Segundo a assessora de Clima e Racismo Ambiental do Instituto da Mulher Negra Geledés, Mariana Belmont, a declaração é “um marco político e simbólico fundamental porque reconhece que a crise climática é também uma crise de justiça racial e social”.


“O documento chama os Estados a uma cooperação internacional baseada na equidade, na solidariedade e na reparação histórica, reforçando que a transição precisa ser justa, inclusiva, feminista e antirracista para que ninguém fique para trás”, afirma Belmont.

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