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Boris volta a pedir desculpas por festas, mas partido já pensa em nomes para substituí-lo

Boris foi ao Parlamento na semana passada para pedir “desculpas sinceras” por sua participação em um evento que furou as regras do confinamento

FolhaPress

18/01/2022 19h25

Foto: AFP/Divulgação

A novela sobre os escândalos envolvendo o primeiro-ministro Boris Johnson continua rendendo novos capítulos –e pode acarretar sua renúncia– com declarações de seus ministros, de ex-conselheiros e de colegas do Partido Conservador que defendem o fim da era do premiê à frente do Reino Unido. Enquanto o britânico luta para permanecer no cargo, correligionários já estudam quem pode ocupar a residência oficial em Downing Street.

Boris foi ao Parlamento na semana passada para pedir “desculpas sinceras” por sua participação em um evento que furou as regras do confinamento britânico. Também teve que pedir desculpas à rainha Elizabeth 2ª pelas festas realizada em Downing Street, sua residência oficial, na véspera do funeral do príncipe Philip, quando o país estava em luto.

Nesta terça-feira (18), o premiê mais uma vez pediu perdão pelos acontecimentos que podem lhe custar o cargo.

“Lamento profunda e amargamente o que aconteceu, e só posso renovar minhas desculpas à Sua Majestade e ao país”, disse Boris, em entrevista a jornalistas.

Além do novo lamento, porém, o primeiro-ministro quis aproveitar a oportunidade para tentar desmentir declarações de Dominic Cummings, que já foi o principal conselheiro de Boris e deixou o cargo em novembro de 2020, em meio a uma série de disputas internas.

Cummings publicou um texto em seu blog pessoal nesta segunda-feira (17) em que afirma que o premiê não apenas sabia da festa realizada em Downing Street em que os convidados foram instruídos a levarem suas bebidas como deu aval para o prosseguimento do evento. Ele também diz ter alertado o chefe da segurança do primeiro-ministro, por email, que a festa quebrava as regras impostas pela pandemia e não deveria acontecer.

A alegação contraria o que Boris disse aos parlamentares. Em sua versão, ele disse ter pensado que o evento era uma reunião de trabalho, já que o jardim da residência oficial funciona, segundo ele, como uma extensão do escritório. O premiê disse que lá permaneceu por 25 minutos para agradecer aos funcionários e, depois, voltou a seu gabinete.

Questionado por repórteres nesta terça se, de fato, mentiu ao público e ao Parlamento, Boris, como esperado, negou e repetiu sua versão da história. “Não. Ninguém me disse que o que estávamos fazendo era, como vocês dizem, contra as regras. Achei que estava participando de um evento de trabalho.”

Os jornalistas perguntaram ainda se Boris renunciaria ao cargo de premiê caso ficasse comprovado que ele mentiu. Ele então tergiversou e se limitou a dizer que está esperando o fim de uma investigação interna que apura mais de 15 acusações de que festas teriam sido promovidas em discordância com as regras vigentes para o controle da pandemia.

Boris não respondeu sobre sua renúncia, mas ao menos dois de seus ministros, sim. O titular da Justiça, Dominic Raab, tentou defender o chefe dizendo que acusar o premiê de mentir ao Parlamento é um absurdo. Mas acrescentou, em entrevista à Rádio BBC: “Se ele estiver mentindo, deliberadamente da maneira que se descreve, se isso não for corrigido de imediato, normalmente, sob o código ministerial, seria uma questão de renúncia.”

O ministro das Finanças, Rishi Sunak, cotado como um dos possíveis sucessores de Boris, disse que acredita na versão do premiê. Questionado sobre um cenário hipotético em que fique comprovado que primeiro-ministro mentiu, disse:

“o código ministerial é claro sobre esses assuntos. Mas, como vocês sabem, Sue Gray está conduzindo uma investigação sobre essa situação. Acho que o certo é permitirmos que ela conclua esse trabalho.”

Gray é a segunda secretária de gabinete e assumiu a condução do inquérito depois que Simon Case, o primeiro a quem a responsabilidade foi atribuída, deixou o cargo após a imprensa apontar que um dos eventos irregulares teria acontecido em seu escritório.

A conclusão do inquérito deve ser o incentivo final para parlamentares questionarem a liderança do primeiro-ministro, na avaliação de membros do próprio partido de Boris, que já discutem abertamente quem pode substituí-lo.

Há dúvidas, porém, sobre o nome a ocupar o cargo. Entre os principais nomes discutidos pelos conservadores estão, além do ministro das Finanças, Rishi Sunak, também Liz Sunik, secretária das Relações Exteriores do país.

A avaliação dos correligionários do primeiro-ministro é que os ventos mudaram de forma dramática e que mesmo lideranças antigas do partido têm dúvidas de que ele vai superar essa crise.

“A imagem do primeiro-ministro e do partido está gravemente danificada aos olhos do eleitorado. A ver se é possível se recuperar dessa situação”, escreveu Charles Walker, tradicional líder dos conservadores.

Os parlamentares não querem, afinal, perder apoio da população. Pesquisa do jornal The Independent aponta que 65% dos eleitores não acreditam na desculpa do primeiro-ministro de que era um “evento de trabalho”, número que ainda é alto considerando apenas os eleitores conservadores –54%.

Até agora, sete membros do Partido Conservador afirmaram em público que enviaram uma carta expressando falta de confiança na liderança de Boris. Ele enfrenta rejeição principalmente entre jovens conservadores eleitos em 2019, e ao menos 20 parlamentares desse grupo devem aderir às manifestações de falta de confiança, segundo o Daily Telegraph.

São necessárias 54 cartas do tipo para tirá-lo do cargo.

A oposição, como de praxe, tem se aproveitado da situação. A líder do Partido Trabalhista, Angela Rayner, afirmou que se Boris “tivesse algum respeito pelo público britânico, ele faria a coisa decente a se fazer e renunciaria”. “Ele é o primeiro-ministro, ele faz as regras, ele não precisa que ninguém lhe diga que a festa quebrou regras”, disse.

Em meio à fritura, Boris deve relaxar as medidas de contenção da pandemia nos próximos dias, segundo a imprensa local. O governo britânico planeja autorizar a volta do trabalho presencial e, de forma gradual, deixar de apresentar o passaporte vacinal para entrar em certos lugares.

BORIS JOHNSON PODE SER DEPOSTO?

Sim, mas o processo é burocrático e demanda articulação política além dos bastidores. Para isso acontecer, ao menos 15% da bancada do Partido Conservador (54 dos 361 correligionários de Boris) no Parlamento precisa escrever cartas ao órgão conhecido como Comitê de 1922. Se houver esse quórum, é convocado o que o sistema parlamentarista chama de “voto de confiança”.

COMO FUNCIONA O VOTO DE CONFIANÇA?

As cartas ao Comitê de 1922 são confidenciais, por isso a única pessoa que sabe informar quantos pedidos de voto de confiança foram enviados é o presidente do órgão, Graham Brady. É ele também quem decide a data da possível votação, em consulta com o líder do Partido Conservador.

Em 2018, quando a então primeira-ministra Theresa May enfrentou o processo, a votação foi realizada no dia em que o presidente do Comitê anunciou ter recebido cartas suficientes. Aberta a consulta, todos os parlamentares conservadores podem votar a favor ou contra Boris. Se o premiê vencer, permanece no cargo e não pode ser contestado novamente pelos próximos 12 meses. Se perder, é forçado a renunciar e impedido de concorrer na escolha do próximo líder.

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