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Mundo

Avião da FAB com brasileiros deportados pelos EUA pousa em Confins

Esta foi a segunda operação de deportação de brasileiros durante o governo de Donald Trump

Redação Jornal de Brasília

08/02/2025 9h20

migrantes

Migrantes deportados por governo Donald Trump nos EUA embarcam em avião militar – Casa Branca/Reprodução

Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) pousou no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, por volta das 21h20 desta sexta-feira, 7, trazendo 88 brasileiros deportados pelos Estados Unidos. O voo partiu de Fortaleza na tarde de hoje, onde o avião vindo dos EUA fez uma parada para o desembarque de parte dos deportados e a retirada das algemas utilizadas no voo até o Brasil.

Ridelson, que preferiu se identificar apenas com o primeiro nome, contou à reportagem que foi preso nos Estados Unidos no dia 13 de janeiro, antes mesmo de concluir sua entrada no país. Pelo tratamento recebido no voo de deportação entre Louisiana e Fortaleza, com mãos e pés algemados, o brasileiro relatou indignação.

“As pessoas não têm amor, não têm respeito ao ser humano. A coisa que me deixou muito indignado é a questão da gente estar ali, amarrado, algemado, os pés, as mãos… Isso é muito forte. É muito forte, porque não somos bandidos. Cometemos um certo crime, entramos lá ilegal, sim, mas não acho que havia motivo para isso”, disse.

Natural de São João Evangelista (MG), o brasileiro relatou que pretende passar “um bom tempo sem comer pão com mortadela”. “Já estou com nojo”, disse, ao comentar sobre a comida servida no voo. Ao chegar ao Brasil, no entanto, ele elogiou o atendimento em Fortaleza. “Minha casa, né? Eu me senti em casa. Fui muito bem recebido”, disse.

Esta foi a segunda operação de deportação de brasileiros durante o governo de Donald Trump. O voo com 111 deportados saiu de Luisiana na madrugada pousou em Fortaleza por volta das 16h, onde o avião da FAB aguardava parte dos brasileiros para levar até Minas Gerais. Vinte e três brasileiros ficaram no Ceará.

O aeroporto de Confins é destino tradicional dos voos de deportação que chegam dos Estados Unidos, mas a mudança foi feita para encurtar a distância e o tempo que os brasileiros deportados passariam sujeitos a viajar algemados.

Há duas semanas, um voo com 88 brasileiros deportados foi marcado por relatos de algemas e correntes, falhas no sistema de ar-condicionado e maus por parte de agentes dos EUA a bordo. O episódio motivou reuniões entre o governo Lula e a Embaixada dos EUA em Brasília.

No Aeroporto em Confins, a ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania do Brasil, Macaé Evaristo, afirmou que mulheres e crianças não foram algemadas no voo até Fortaleza. A mudança no tratamento, segundo Macaé, sinaliza uma melhora no atendimento em relação ao governo dos Estados Unidos.

Em Belo Horizonte e em Fortaleza, os repatriados foram recebidos por uma ação coordenada pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) e outras pastas, como Itamaraty e Saúde, para prestar atendimento no serviço migratório, oferecer alimentação e prestar informações sobre serviços essenciais, incluindo procedimentos para matrícula na rede de ensino e regularização vacinal.

No aeroporto, além do ônibus para levar os brasileiros ao encontro de seus familiares, o governo brasileiro também disponibilizou um ônibus para o Sesc, onde um centro de acolhimento foi instalado.

“O ponto positivo que a gente pode dizer deste momento é que as instituições estão se organizando para esse procedimento de acolhida. Uma organização que a gente não tinha anteriormente, mas desde o voo que tomamos ciência da situação, nós estamos fazendo uma grande mobilização para que a gente possa criar aqui esse posto de acolhimento”, disse a ministra.

Um grupo significativo dos brasileiros que desembarcaram em Minas Gerais é da região metropolitana de Belo Horizonte, mas há também pessoas de Governador Valadares e de outros Estados da região Sudeste e Centro-Oeste do País, de acordo com a ministra

‘Mudou tudo’

Segundo o governo brasileiro, essas duas deportações não têm relação direta com a operação massiva realizada por Trump contra imigrantes ilegais. Os voos fazem parte de um acordo feito em 2017, que segue em vigor.

Trump assumiu a Casa Branca com a promessa de realizar “a maior operação de deportação em massa da história”. Em poucos dias no poder, o republicano ordenou várias medidas contra a migração ilegal, entre elas deportações, o envio de milhares de soldados para a fronteira com o México e a prisão de 538 pessoas em situação irregular, segundo a Casa Branca.

João Vitor Batistal, de 26 anos, natural de Governador Valadares (MG), relatou mudanças no tratamento de imigrantes detidos logo após a posse de Trump. Segundo ele, a partir de 21 de janeiro, os deportados passaram a ser transferidos constantemente entre unidades de detenção.

“A gente já não ficava dois dias num lugar só. Já ia pra outro e outro, e já não tinha mais os direitos básicos que a gente tinha antes”, disse. Ele afirmou que, no governo anterior, ainda era possível solicitar atendimento e conversar com agentes sobre problemas, mas isso mudou com a nova administração. “A partir do dia 21, a gente já não tinha mais direito nenhum de fala.”

As transferências constantes também dificultaram o contato com as famílias. João Vitor explicou que, para ter acesso a ligações ou ao uso de tablets, era necessário um período de cadastro na unidade de detenção – algo que não acontecia devido ao curto tempo de permanência em cada local.

“A gente ficava muito pouco tempo e não conseguia ter o tempo de fazer esse cadastro”, contou.

Estadão Conteúdo

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