A Assembleia Geral da ONU planeja votar nesta quinta-feira (23) uma resolução que reivindica a “retirada imediata” das tropas russas da Ucrânia, uma medida para a qual Kiev e seus aliados esperam reunir o maior apoio possível no aniversário de um ano da invasão.
“Em um ano, não deveríamos voltar a nos encontrar pelo segundo aniversário desta absurda guerra de agressão”, declarou o ministro das Relações Exteriores do Japão, Yoshimasa Hayashi. Em vez disso, ele espera uma “cúpula para a paz” em 2024.
Mas a “Rússia não mostra nenhum desejo de paz […] A única coisa que conhece de paz é o silêncio dos mortos e das ruínas”, retrucou sua contraparte francesa, Catherine Colonna.
“A Rússia tenta convencer alguns de vocês de que suas tentativas de reverter a ordem mundial e impor uma ordem baseada na força podem jogar a seu favor. É uma ilusão”, alertou, acrescentando sua voz a dezenas de Estados que pedem apoio à resolução, que será votada ao final dos discursos desta quinta.
“É um momento decisivo para mostrar apoio, unidade e solidariedade”, disse da tribuna, na quarta-feira, o primeiro dos dois dias de debates, o chanceler ucraniano, Dmytro Kuleba.
“Nunca na história recente a linha entre o bem e o mal foi tão clara. Um país simplesmente quer sobreviver. O outro quer matar e destruir”, acrescentou.
Para o representante da China, país que prometeu divulgar uma “solução política” proposta a Kiev e Moscou, advertiu que “os conflitos e as guerras não têm vencedores”.
“Independentemente do quão difícil seja a porta para uma solução política, ela não pode ser fechada”, declarou o embaixador adjunto chinês na ONU, Dai Bing.
Um chamado ao qual se unem vários países sul-americanos, como Guatemala, México, Colômbia e Uruguai. Brasil e Cuba anunciaram que falarão após a votação, a partir das 20h GMT (17h de Brasília).
A Ucrânia e seus aliados esperam que o texto obtenha pelo menos os 143 votos reunidos em outubro com a resolução que condena as anexações de vários territórios ucranianos por parte da Rússia.
Como nas resoluções anteriores, nenhuma delas vinculante, o texto reitera o “compromisso” com a “integridade territorial” da Ucrânia e “exige” que a Rússia “retire imediata, completa e incondicionalmente todas as suas forças militares do território da Ucrânia dentro de suas fronteiras internacionalmente reconhecidas” — uma referência aos territórios anexados pela Rússia.
O texto patrocinado por dezenas de países também pede “o fim das hostilidades” e “enfatiza a necessidade de se alcançar, o mais rápido possível, uma paz geral, justa e duradoura na Ucrânia, de acordo com os princípios da Carta das Nações Unidas”.
Reminiscências da Guerra Fria
A Assembleia votará também várias emendas apresentadas por Belarus, aliado de Moscou, que pedem “o início imediato das negociações de paz”, removem referências a uma agressão russa e à exigência de retirada das forças de Moscou, e exortam os Estados-membros a “se absterem de enviar armas para a zona de conflito”.
Na quarta-feira, na abertura desta sessão especial, o secretário-geral da ONU, António Guterres, denunciou “a afronta à consciência colectiva” representada pela invasão da Ucrânia, e alertou para as “ameaças implícitas” de se recorrer a armas nucleares e a “atividades irresponsáveis” em torno de usinas nucleares.
Esta semana, o presidente russo, Vladimir Putin, garantiu que continuará, “metodicamente”, sua ofensiva na Ucrânia, em um discurso contra o Ocidente que lembra a retórica da Guerra Fria.
Na ONU, o embaixador russo, Vasily Nebenzya, argumentou que o Ocidente está tentando “infligir uma derrota à Rússia”, mesmo ao preço de “arrastar o mundo inteiro para o abismo da guerra”.
As três resoluções ligadas à agressão russa votadas pela Assembleia Geral há um ano receberam entre 140 e 143 votos a favor, com cinco países sistematicamente contra (Rússia, Belarus, Síria, Coreia do Norte e Eritreia) e menos de 40 abstenções.
Uma quarta resolução um pouco diferente, em abril, que suspendeu a Rússia do Conselho de Direitos Humanos, obteve 93 votos a favor, 24 contra e 58 abstenções.
Na sexta-feira, o Conselho de Segurança marcará o aniversário da invasão com uma reunião ministerial na presença, entre outros, do chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken.
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