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Ascensão de Meloni na Itália preocupa mercados

A Itália tem uma dívida de mais de 2,7 trilhões de euros, cerca de 150% do PIB, a mais alta da zona do euro depois da Grécia

Redação Jornal de Brasília

23/09/2022 10h41

Foto: AFP

A provável vitória nas eleições legislativas de domingo (25) na Itália da candidata de extrema-direita Giorgia Meloni preocupa os mercados e a União Europeia, que temem seu discurso eurocético e que a enorme dívida pública do país vá disparar. 

Apesar de ter manifestado o desejo de romper com um passado pesado e de enterrar o sonho de ver a Itália sair da União Europeia, as preocupações persistem, especialmente porque ela acaba de reiterar seu apoio ao regime húngaro liderado pelo ultranacionalista Viktor Orban.

“Não conheço um soberanista que não seja antieuropeu. Portanto, o que eles dizem hoje não importa”, disse o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, em entrevista ao jornal La Repubblica no início de setembro. 

Giorgia Meloni agora afirma ser a favor da União Europeia e mudou seu tom agressivo contra a instituição durante os comícios eleitorais.

“A festa acabou”, lançou em meados de setembro em Milão, alertando que, se vencer, “defenderá os interesses nacionais” contra as diretrizes de Bruxelas, assim como “os outros fazem”.

Plano de recuperação

Favorita para se tornar a próxima primeira-ministra, “a apaixonada” da direita italiana defende há anos a ideia de uma “Europa confederal”, que respeite “a soberania dos Estados-membros” e lhes permita decidir sobre a política que afeta diretamente seus cidadãos.

Com este critério, quer renegociar o plano de recuperação pós-covid, financiado com quase 200 bilhões de euros pela União Europeia, de modo que leve em consideração o alto custo da energia após o início da guerra da Ucrânia.

O desembolso deste recurso gigantesco depende, no entanto, do cumprimento de uma série de reformas, cuja implementação foi escrupulosamente respeitada pelo governo de Mario Draghi e que, com a eventual vitória da coalizão de extrema-direita, parecem comprometidas.

“Podemos nos deparar com um sério conflito de ideias na Itália, que é o país que mais se beneficiou do plano de recuperação e da UE”, considera Nicola Nobile, da Oxford Economics. 

“Os riscos são muitos. Tudo vai depender de qual Meloni vai liderar o governo: se é a que ataca a Europa, ou a moderada, que pode manter a atual política orçamentária”, disse à AFP.

Descontrole da dívida?

A Itália está desmoronando sob uma dívida de mais de 2,7 trilhões de euros, cerca de 150% do Produto Interno Bruto (PIB), a mais alta da zona do euro depois da Grécia. 

Nesse contexto, a coalizão de direita pede uma “revisão das regras do Pacto de Estabilidade”, suspenso pela crise sanitária. Nele, estabelece-se um teto de 3% do PIB para o déficit, e de 60%, para a dívida.

Embora seja legítimo modificar alguns critérios considerados obsoletos, “seria politicamente suicida desrespeitar as regras existentes”, comenta Peter Bofinger, professor de economia da Universidade de Wurtzburgo. 

“Caso a Itália se desvie do consenso europeu” e não respeite um mínimo de disciplina orçamentária, “nem mesmo o Banco Central Europeu poderá ajudá-la”, afirmou Bofinger, na entrevista à AFP.

Promessas caras

As promessas eleitorais da coalizão de extrema-direita – formada pelo Fratelli d’Italia (Irmãos da Itália) de Meloni, pela Liga anti-imigração de Matteo Salvini e pelos conservadores do Forza Italia de Silvio Berlusconi – podem ter um efeito nocivo para as contas públicas.

“Seu programa é muito indefinido, e ela não explica como financiar as medidas”, ressalta Nobile.

Se fossem aplicadas, o déficit público ultrapassaria 6% do PIB nos próximos cinco anos, “levando a alta dívida pública a níveis insustentáveis”, segundo a Oxford Economics. 

A medida mais emblemática – um imposto único, de 15% para a Liga, e 23%, para o Forza Italia – pode custar entre 20 bilhões e 58 bilhões de euros, de acordo com o Observatório das Contas Públicas italianas.

Somam-se a isso outros cortes de impostos e medidas de “paz fiscal” (anistias), bem como o aumento da pensão mínima. 

Os investidores temem que um governo tão populista termine como o de Silvio Berlusconi, que teve de renunciar em 2011, pressionado pelos mercados e pelo aumento do custo da dívida.

© Agence France-Presse

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