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Acordo de Paris pode evitar 57 dias de calor intenso por ano, mostra estudo

Neste estado de coisas, o planeta evitaria 57 dias de calor intenso por ano, o que é uma boa notícia, dado que o perigo de um mundo mais quente cresce a cada fração de grau Celsius

Redação Jornal de Brasília

16/10/2025 9h50

Foto: Karim SAHIB / AFP

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS)

O Acordo de Paris completa dez anos em dezembro e seus resultados são efetivos. Em 2015, o mundo caminhava para um fim de século com aquecimento de 4°C em relação aos níveis pré-industriais; agora, contido pelas metas de emissões dos diversos países, a marca está em 2,6°C.

Neste estado de coisas, o planeta evitaria 57 dias de calor intenso por ano, o que é uma boa notícia, dado que o perigo de um mundo mais quente cresce a cada fração de grau Celsius. Seria muito melhor, porém, que os governos de fato buscassem o objetivo inicial do tratado de há dez anos: um aquecimento bem abaixo dos 2°C.

Essas e outras conclusões estão em um estudo organizado pelo Climate Center e pelo World Weather Attribution (WWA) publicado nesta quinta-feira (16).

“O Acordo de Paris é uma estrutura poderosa e juridicamente vinculativa que pode nos ajudar a evitar os impactos mais graves das mudanças climáticas”, diz Friederike Otto, professora de Ciência do Clima do Imperial College.

“No entanto, os países precisam fazer mais para abandonar o petróleo, o gás e o carvão”, pondera a especialista, uma das fundadoras do WWA, iniciativa que usa estudos de atribuição para quantificar mais rapidamente os efeitos da crise climática.

O artigo atual trabalha com quatro cenários de aquecimento e um de seus efeitos mais diretos, o número de dias de calor intenso em diversas partes do mundo. Dias de calor intenso são aqueles em que os termômetros superaram em mais de 90% as médias históricas locais.

Em 2015, o mundo estava 1°C acima dos níveis pré-industriais; dez anos depois, está a 1,3°C; se as metas de emissão forem mantidas, chegará ao fim do século com 2,6°C; se nada fosse feito, a estimativa é que terminaria o século com uma média global de temperatura 4°C acima do verificado antes da atividade humana influir no clima.

O acréscimo na temperatura global de 0,3°C verificado de 2015 a 2024 provocou 11 dias de calor intenso a mais na média mundial. Em locais como Kiribati e São Vicente e Granadinas, o incremento chegou a 35 dias; em Svalbard, foram 19 dias a mais.

“É preciso olhar os números com ponderação. Mesmo em número menor, dias quentes em Svalbard, no Círculo Polar Ártico, podem ter consequências muito maiores.”
Os números podem até parecer altos ou baixos, mas as consequências em geral são severas: ondas de calor ficaram 10 vezes mais prováveis na Amazônia, 9 vezes no Mali e em Burkina Faso e 2 vezes na Índia e no Paquistão nesse período.
Os exemplos fazem parte de uma lista de eventos extremos analisados pelo estudo. A lista de estragos não é pequena:

Aquecimento de 4°C (fim do século, estimativa anterior ao Acordo de Paris): eventos 3,5°C mais quentes.

No conjunto da análise, os seis eventos de calor extremo seriam cerca de 5 a 75 vezes mais prováveis do que no momento atual em um planeta 4°C mais quente, porém de 3 a 35 vezes mais prováveis se o aquecimento chegar a 2,6°C.

“Cada fração de grau de aquecimento, seja 1,4°C, 1,5°C ou 1,7°C, significará a diferença entre segurança e sofrimento para milhões de pessoas”, afirma Otto.

De acordo com o estudo, cerca de metade dos países do mundo já possui algum tipo de sistema de alarme voltado para calor extremo e ao menos 47 têm planos de ação em vigor.

Esse tipo de providência já é imperativo em um planeta mais quente, assim como soluções de longo prazo: aumentar áreas sombreadas e o número de árvores em centros urbanos e fortalecer os sistemas de saúde.

“O Acordo de Paris está ajudando muitas regiões do mundo a evitar alguns dos piores resultados possíveis das mudanças climáticas”, diz Kristina Dahl, vice-presidente de Ciência da Climate Central.

“Mas não podemos nos enganar, ainda estamos caminhando para um futuro perigosamente quente. Os impactos das recentes ondas de calor mostram que muitos países não estão bem preparados para lidar com um aquecimento de 1,3°C, muito menos com o aquecimento de 2,6°C projetado se os países cumprirem suas atuais promessas de redução de emissões.”

A especialista enfatiza o “se” da frase, pois, a menos de um mês da COP30, no Brasil, menos de 60 países divulgaram suas NDCs (contribuições nacionais determinadas, na sigla inglês), as metas de metas de emissão para 2035.

Exigência do Acordo de Paris, as metas funcionam, mostra o estudo. O problema é que elas precisam funcionar melhor por um mundo, se não menos quente, mais seguro.

México e sudoeste dos EUA, em 2024: temperaturas recordes, impactos exacerbados de seca, mais de 125 mortes;

Sul da Europa, em 2023: temperaturas recordes, mortes provocadas por calor, picos de consumo de energia, impactos na agricultura;

Bacia do rio Amazonas, em 2023: estação seca mais quente da história, seca provocada pelo calor, mortandade de botos, cortes generalizadas de energia;

Índia e Paquistão, em 2022: mais de 90 mortes, inundação provocada por degelo de lago glacial, incêndios florestais, redução na colheita de trigo, cortes de energia;

Sudeste da Austrália, em 2019: recordes de temperatura, incêndios catastróficos, 100 milhões de vertebrados mortos, mais de 400 mortes provocadas por inalação de fumaça;

Burkina Faso e Mali, em 2024: número elevado de hospitalizações e mortes, altas temperaturas noturnas.
Da mesma forma, o artigo estima o aumento da probabilidade dessas ocorrências provocadas pelo aquecimento global. Por exemplo, no caso observado no México e na região sudoeste dos EUA:

Aquecimento de 1,3°C (desde o Acordo de Paris): um evento de calor como o verificado em 2024 se tornou 86% mais provável e 0,3°C mais quente;

Aquecimento de 2,6°C (fim do século, com as atuais metas de emissão): eventos raros como esse ficarão 1,7°C mais quentes;

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