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Inclusão: entenda dificuldades no ensino especial de alunos com transtornos

Pedagogos explicam as alterações realizadas para aplicar atividades e atender a alunos com transtornos de aprendizado com o ensino remoto

Agência UniCeub

23/03/2021 7h34

Os pedagogos Mário César e Eliane Castro durante o Fórum Serviço Especializado de Apoio à Aprendizagem realizado em 2019. (Foto: Arquivo Pessoal)

Mayariane Castro
Jornal de Brasília/Agência UniCEUB

Com 30 pares de olhos sob si, a professora Eliane Castro explicava sobre os temas de redação que os alunos do nono ano iriam produzir. Após receber as produções de texto, ela se deparou com situações que ela não sabia o que fazer. Dois alunos visivelmente com grandes dificuldades de escrita, mas de uma forma diferente, o que a motivou a entender o que poderia causar o problema. Eles teriam tido uma alfabetização fraca? Por que nenhum professor anterior notou essa dificuldade e foi atrás de entender? 

Após muita pesquisa e estudo, a professora solicitou que eles fizessem um teste de aprendizado com um psicólogo e descobriu. Ambos foram diagnosticados com dislexia, que é um transtorno de aprendizado. Eliane precisou pesquisar como adaptar suas aulas para que atendessem as limitações desses alunos que começaram a ser atendidos pelo atendimento especializado da Sala de Apoio da escola. Foi assim que a professora se interessou pela área de pessoas com transtornos.

Capacitação

Atualmente, Eliane atua como pedagoga há dois anos no Centro de Ensino Fundamental Nossa Senhora de Fátima – Planaltina/DF e relata que está finalizando o curso de Pós Graduação em Psicopedagogia Clínica e Institucional para auxiliá-la e melhorar seus atendimentos aos alunos. Por mais que a educadora tenha descoberto sua paixão por esta área com alunos de ensino fundamental 2, ela escolheu ser pedagoga de séries iniciais e focar seu atendimento a crianças com transtornos.

Com o início da pandemia, a Secretaria de Educação do DF suspendeu as aulas na rede pública em março e as retomou no dia 22 de junho em formato remoto. O órgão público liberou orientações gerais para as escolas de como funcionaria o modelo e disponibilizou cursos básicos para ensinar aos professores como mexer na plataforma Google Classroom e outros meios tecnológicos usados para dar aulas remotas. Bento Rodrigues, coordenador da Regional de Ensino de Planaltina-DF, órgão que rege as escolas de Planaltina, explica que foram emitidas orientações para cada nível de ensino (infantil, fundamental e médio) que foram repassadas para as escolas.

Adaptações

Assim como as aulas, os atendimentos pedagógicos foram adaptados ao meio remoto. A primeira medida feita para retomar os atendimentos foi realizar um mapeamento de que aparelhos os alunos possuíam, quantos tinham acesso a internet, para poder saber quais atividades aplicar de forma online, conforme explica Leonardo Nunes, gerente de Serviço Especializado de Apoio à Aprendizagem. “Foi feito esse mapeamento para depois de forma mais eficaz iniciar o atendimento à distância dos alunos, ou por videoconferência ou pelo WhatsApp. Em alguns casos também foi disponibilizado material impresso. As famílias em algumas escolas buscavam esses materiais com atividades e orientações para depois devolvê-lo para escola e ele chegar de alguma forma ao professor e também ao pedagogo”.

O pedagogo Mário César atende alunos do sexto ao nono ano e precisou alterar seus atendimentos. “O material era individualizado para cada estudante de acordo com seu transtorno, agora o material é mais amplo não sendo específico para cada transtorno, pois o material serve para quem está on-line e para quem está com material impresso, que também pode ser utilizado”, explica o educador. Ele também relata que aproveitou o momento de pandemia para buscar mais formação e fez cursos online voltados para pessoas com transtornos para aumentar seus estudos. O educador, atualmente, está fazendo o curso de Pós Graduação em Psicopedagogia Clínica e Institucional junto de sua esposa, a pedagoga Eliane Castro. Ambos são casados e professores da Secretaria de Educação há 20 anos.

Eliane Castro realizou este mapeamento em sua escola para poder otimizar os atendimentos. Ela relata que usou de ferramentas diversas para aplicar atividades, como o uso de aplicativos educativos para ajudar na alfabetização com figuras visuais para prender a atenção da criança. Uma mudança que ocorreu nos atendimentos foi que agora ela os realiza de forma individual, antes da pandemia eram divididos em grupos de no máximo três alunos com mesmo transtorno ou similares para que ela pudesse trabalhar com cada um sem atrapalhar o rendimento do outro. 

Uma das dificuldades encontradas pela pedagoga com o ensino remoto é que a interação ficou limitada e isso dificultou a identificação de certas dificuldades de aprendizado. “No ensino presencial, os estudantes são atendidos na Sala do Serviço Especializado de Ensino a Aprendizagem, local de trabalho do pedagogo, são apresentados atividades e jogos com diferentes e variadas dificuldades para que sejam identificadas quaisquer dificuldades de aprendizagem. No Ensino à Distância, não é possível essa interação com o estudante, há casos de famílias onde o responsável é analfabeto, não sendo viável qualquer orientação por escrito. Não há possibilidade de aplicação das atividades por ser específica do pedagogo”, detalha a professora.

Conheça os transtornos atendidos pelos pedagogos entrevistados e algumas características. Eles aconselham a procura de um médico para o diagnóstico de fato.

Dentro de casa

Daiane Oliveira transferiu sua filha, Emanuelly, de uma escola privada para a escola pública que foi quando ela começou a receber atendimento pedagógico. Emanuelly tem Transtorno ou Distúrbio do Processamento Auditivo Central (DPAC), também chamado de Disfunção Auditiva Central, ou Transtorno do Processamento Auditivo, o qual atrapalha no aprendizado da criança. A mãe conta que o impacto tem sido diário porque ela trabalha o dia todo e as vezes não consegue ajudar a filha com as atividades pela sua limitação.”Trabalho o dia todo e só posso ajudar ela a noite, fora que já chego cansada ainda tiro um tempo pra ensinar. Como que ela tem a dificuldade de aprendizado, muitas vezes perco a paciência. Acabei optando por pagar uma professora de reforço”, relata.

A aluna é atendida pela pedagoga Eliane Castro que explica que estende a ajuda aos pais para horários além do que costumava ser com os atendimentos presenciais. “Eu entro em contato com o responsável por telefone, explico como serão os jogos a serem instalados no telefone, o responsável envie um relatório de como a criança se comportou diante dos sucessos e fracassos das atividades propostas. O relatório pode ser por escrito ou em áudio”.

As alternativas encontradas pelos pedagogos foram encontradas em conjunto com as reuniões quinzenais ou semanais promovidas pela gerência de Serviço Especializado de Apoio à Aprendizagem. “A gerência se articula às regionais de ensino e lá nós temos um representante das equipes que coordenam as equipes localmente e houve, na verdade, uma maior aproximação com a gerência porque além das visitas que já fazíamos no ano passado, agora fizemos virtualmente também essas reuniões, houve uma maior abertura de contato, de trocas pelas lives”, detalha o psicólogo Leonardo.

O pedagogo Mário ainda explica que o outro suporte vem da Coordenação Regional de Ensino de Planaltina, que possui uma Unidade de Educação Básica, chamada de UNIEB, que faz a formação do pedagogo, auxilia nas dificuldades, resolve problemas a nível de escola e estudantes, além de ser responsável por todo processo de atendimento, seleção dos estudantes a serem atendidos, formação de professores e até mesmo conversa com os pais ou responsáveis. 

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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