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Greves em série pressionam governo conservador britânico

Enfermeiros fizeram ontem uma paralisação de 12 horas para cobrar do governo britânico um reajuste salarial com ganho real

Redação Jornal de Brasília

16/12/2022 8h49

Atualizada 23/12/2022 8h56

Foto: Divulgação

Enfermeiros de Inglaterra, Irlanda do Norte e País de Gales fizeram ontem uma paralisação de 12 horas para cobrar do governo britânico um reajuste salarial com ganho real, em meio à crise inflacionária que tem afetado o custo de vida no Reino Unido. A greve dos enfermeiros, a primeira autorizada nos 106 anos do sindicato da categoria no país, é a mais recente de uma série de paralisações que pressionam o primeiro-ministro Rishi Sunak e afetam o cotidiano dos britânicos.

Desde o começo do mês, categorias de setores como saúde, transportes e controle de fronteiras realizaram paralisações ou aprovaram indicativos de greve, alegando falta de reajuste nos salários diante da disparada do custo de vida. O patamar de inflação do país é o maior das últimas quatro décadas, chegando a 11,1% em outubro.

No caso dos enfermeiros, o Royal College of Nursing aprovou uma primeira paralisação para ontem, entre 8 horas e 20 horas (5 horas e 17 horas em Brasília), quando 100 mil enfermeiros deixaram de comparecer a seus postos de trabalho, além de motoristas de ambulâncias e funcionários administrativos de unidades de saúde que também aderiram à greve. Uma segunda paralisação foi aprovada pelo sindicato para terça-feira, caso as negociações salariais não avancem.

Apesar das temperaturas congelantes, os enfermeiros fizeram piquetes do lado de fora de vários hospitais. Usando chapéus e luvas e segurando cartazes que diziam “A falta de pessoal custa vidas”, eles pediram salários mais altos e mais trabalhadores.

De acordo com o sindicato, a paralisação não afetaria atendimentos hospitalares de emergência nem unidades de tratamento oncológico, de terapia intensiva neonatal e pediátrica. Os enfermeiros não deixaram de prestar serviços mais vitais como quimioterapia, diálise e alguns atendimentos pediátricos, mas a atenção médica não urgente ficou menos disponível.

Hospitais e outras unidades de saúde disseram que estavam tentando administrar os horários para garantir a segurança dos pacientes durante o protesto.

A onda de descontentamento com o governo pelas negociações salariais tem afetado o cotidiano dos britânicos, que passaram a consultar o calendário de greves para saber quais serviços estão ou não funcionando neste fim de ano.

A rede ferroviária, por exemplo, funcionou com apenas 20% de sua capacidade na terça e na quarta-feira, quando funcionários das ferrovias e de 14 empresas do setor realizaram uma paralisação. Novos indicativos de greve já foram aprovados para hoje e amanhã, e em quatro datas de janeiro.

O líder do sindicato dos ferroviários, Mick Lynch, culpou o governo pelo impasse. “Não tenho intenção de estragar o Natal das pessoas”, disse à emissora britânica ITV na terça-feira. “O governo está contribuindo para estragar o Natal das pessoas, pois ele provocou essas greves ao impedir que as empresas apresentassem propostas adequadas.”

Papel do governo

Sunak, cujo governo foi empossado em outubro, rejeita qualquer culpa pelas paralisações. Na quarta-feira, ele afirmou que seu governo conversou consistentemente com todos os sindicatos envolvidos em todas as disputas salariais. Em paralelo, secretários de seu gabinete endereçaram críticas a categorias relacionadas com suas pastas.

O secretário de Saúde, Steve Barclay, lamentou a paralisação dos enfermeiros ontem e culpou o sindicato por fazer os profissionais abandonarem seus postos de trabalho. “Nossos enfermeiros são incrivelmente dedicados a seu trabalho e é lamentável que alguns membros do sindicato sigam adiante com a greve”, disse.

Negociações

Já o secretário de Transportes, Mark Harper, negou que o governo tenha bloqueado qualquer oferta de aumento salarial para os trabalhadores. “Certifiquei-me de que havia uma oferta melhor na mesa”, disse à BBC.

Não há indicativos de que as paralisações estejam perto de terminar. No começo do mês, o sindicato dos funcionários públicos (PCS), que lidera uma série de ações em diferentes áreas, anunciou 12 dias de greve nas estradas inglesas, entre hoje e o dia 7.

Os trabalhadores dos correios, do Sindicato dos Trabalhadores da Comunicação, também realizaram uma nova paralisação nacional de 48 horas esta semana e têm mais dias de greve agendados antes do Natal, o que deve afetar as entregas de fim de ano.

No entanto, uma pesquisa realizada pelo instituto YouGov mostrou que 64% dos entrevistados apoiam a decisão dos enfermeiros de entrar em greve por causa dos salários baixos, enquanto 28% se opõem. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

Estadão Conteúdo

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